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sábado, 23 de dezembro de 2017

Explanação Critica de "Mother!" - Com Spoilers

"Você nunca me amou. Você ama, o amor que eu tenho por você."

"Eu sou o que sou"





*(Talvez spoiler. Explanação sobre a Obra)*


Quando Aronofsky encontra seu lado Lars Von Trier, e desencadeia um instinto Polanski, que cruza com Tarkovsky, nos temos A Cria, A Criação e As Criaturas sob e sobre os olhares da Mãe, em meio a reflexos de Lynch.

A nova Obra Prima de Darren é um ode ao horror e ao quase surreal, que não só carrega o universo todo de camadas e, possibilidades interpretativas, como se torna um filme de gênero próprio de representação de um pesadelo. Humano ou divino.
E vai psicanálise e religiosismos. Ou ate mesmo filosofias e manejos sociais. E ha um caráter aqui e ali de estrutura existencialista pra completar o Big Bang todo que implode em tela.
Fato é, que "Mother!" não é um filme qualquer. E classifica-lo como tal, é um erro ingênuo ou no mínimo irresponsável. Em suma,
Nem sobre a bíblia e o divino, nem sobre o feminino e a natureza essencialmente. Mas sim sobre a Criação. O processo de criação da própria arte. Da própria existência, no sentido amplo da expressão e não da vida humana ou de átomos e células. Criação do artista. Criação do que faz existir Cinema e arte em si. O parto, o fanatismo, a idolatria. O desespero. O zelo, a angustia, a solidão, o caos, a dor, o flagelo, o sacrifício, a realização e a ira. 

A morte e o exorcismo. O culto, a confusão, o silêncio e o gritar do descontrole. A ruína e o gozo da celebração da voz interna ganhando forma e vida, e a destruição ou suicídio completo, para ter que renascer de novo e de novo, nessa eterna busca do Criador, do artista, do escritor, do cineasta, de sempre precisar criar. E parir algo no mundo, pro mundo, pelo mundo e através do mundo.

Cada vivência pontual ou de anos de cada espectador terá uma interpretação de sentido narrativo pessoal. Pra Darren, o mote é o novo e o velho testamento. É a mãe natureza ganhando forma física de carne, osso, sangue e Espírito. Mas, ele também flerta através do feminino, sobre a figura quase de Mito da Mulher na vida humana. E não somente isso, esse mito transformado em gênero social e sua relação com o masculino ora opressivo de máscara protetora mas sempre, devotada. Fala no entanto, também sobre o processo criativo de todo artista. Que seja pelo amor, pelo caos, pela solidão, precisa criar um niilismo apoteótico e quase apocalíptico dentro de si, inclusive através de sua Musa, para criar.

Mother! Fala da mãe, da deusa interna, a deusa que existe pela superfície ou profundeza de todos aqueles que criam. E a partir daí se desmembra visões bíblicas ou terrenas dependendo do contexto e percepção que cada criador ou criatura ou ainda receptores de criações se permitirem criar a partir dele.

Mother! A mãe, é a casa. O lar. A base. É o universo interno e externo. A inspiração e o dom. A válvula de escape e de concentração. Ela representa tudo que gere, que alimenta, que cuida, que protege. E por isso mesmo é a única com força suficiente pra também destruir. Ainda que não por artifícios próprios. Paciente e passiva sobre tudo e todos inclusive a ela mesma, ela segue fielmente seu amor por Ele. O Criador. O Poeta. O Artista. O Senhor. Deus.

E como A Casa, possui vida. O design de som faz um trabalho brilhante, onde cada rangido, cada soalho, cada palito espetado numa tortade maçã, ressoam.
Assim quando surgem o Medico, Adão, ou apenas "ele", e posteriormente "ela", Eva ou Lilith, após "ele" ter sua costela arrancada por "Ele" enquanto vomita seu próprio coração podre pelos vícios do prazer, a Mãe, se retrai. Enciumada, desconfia da benevolência daquelas vidas que vem ameaçar sua morada que tenta transformar com as próprias mãos em um paraíso. 

Então, surgem Caim e Abel e como profetizado se destroem por ganancia e poder. E após destruírem não só o lar imaculado da Mãe com sangue e violência e morte, ainda destroem o fruto proibido da chave de toda a existência da criação do Poeta. Destroem em seu gabinete de criação. Eva que também é Lilith, também é cobra, sem fruto, destrói a joia pessoal de Deus. Joia que nada mais é do que o amor incondicional puro e pleno e sem falhas da Mãe (de uma antiga realidade), arrancado apos incinerado e massacrado apenas para ser refeita quantas vezes o Criador precisar criar.

É ego. É soberba. É o sentido de pertencimento e de achar sentido pro existir. Sobre isso que "Mother!" fala. E isso se torna um desatino desesperador de horror de pesadelo de megalomania de insanidade e tudo aquilo que não cabem em explicações. Do Paraíso ao Inferno. 

Por vezes a Mãe assume o papel de diferentes personas e mitos. E a história humana atravessa Eras num desfecho insuportável.

Um equivoco - em aberto, uma vez que realmente o filme possui infinitas camadas apazes de possuir a interpretação pessoal para cada espectador, ainda que ele possua uma base de coerência fixa - que é constante no que li apos o filme, é que as pessoas consideram que Mother, assume o mito de Maria na parcela final do filme. Na realidade, Maria no mito, se desprendendo da figura humana de carne e osso, da pessoa ali, ela como simbolismo representa a Terra, a vida terrena e mortal. Ela é um instrumento, um fio condutor de humanidade que Deus utiliza para tornar seu filho divino parte mortal. Por tanto, o ato da Mother dar a luz aquele filho, nada mais é do que a representação de que Jesus veio sendo filho de Deus e da "Deusa" equivalente ao próprio Deus, a Natureza. E aqui falo do mito por trás e não da literalidade da bíblia seja em qual crença ela for, falo de signos que é o que o diretor utiliza quando elabora roteiros em volta dela.


Signos tais, como por exemplo essa cena ao lado, da lavanderia que fica abaixo da Casa. Lugar onde o Poeta não entra nunca. Com exceção dos minutos finais, e mesmo assim permanece no limite da entrada, nunca alem. Lugar em que Eva/Lillith destila seu veneno e lascividade mais incomodo ate então, onde a Mãe vai para justamente limpar coisas sujas. Notem que ali é onde ficam produtos de limpeza, onde se lava roupa suja. Seria o purgatório? Talvez. De fato, a abertura que a Mãe encontra apos o pecado supremo do assassinato de "Abel" ocorrer, com o sangue manchando de maneira eterna a Casa, e levando ela ate esse espaço na parede, surge como um Inferno. A criação dele, de onde a Mãe ao final busca o combustível inflamável para destruir tudo.

Temos signos infinitos a cada dez minutos de projeção. Com uma câmera claustrofóbica e tonta por vezes, que nos faz virar a Mãe. Respirar com ela, sofrer com ela, suportar com ela e enfurecer com ela. Ha sutileza em detalhes, construídos ora com textos, ora com luz, ora com cores, ora com imagens, ora com atuações. E por vezes é previsível e nada sutil. Como demonstra realmente querer o ser.
Mother! É uma experiência brutal. Para o bem ou para o mal. Seja como for é o típico filme/obra que nasce esporadicamente uma vez a cada 10 anos, em que se é impossível, odiando ou amando, passar por ele despercebido.

Sem sentir nada. Seja asco, seja prepotência, seja admiração ou medo. Seja revolta ou apatia. Mas ele entra na pele e causa reação. E São raros os filmes que podem se dar ao luxo desse feito.
Perigoso e deslumbrantemente asqueroso e incomodo.

Darren, prova aqui, que é um diretor autoral que sendo amado ou ignorado, possui um controle exato de suas próprias histórias. Do que elas são e pra onde irão.
Exibindo uma superestima de si mesmo ou não. A comparação aqui com Lars não é atoa. Mas, me atreveria a dizer que ate mesmo Lars não se arriscaria de tal forma.

Uma sinfonia criativa e insana. Um cristal, pra quem se permitir e conseguir extrai-lo e descobri-lo em meio as cinzas do músculo podre e carbonizado de mãe sacrificado pelo Amor que doou, e permanece doando mesmo que a gente continue a desrespeitar seu lar...
Ps: Talvez seja a primeira vez que não enxerguei a atriz JLaw e sim a personagem. Todos os filmes dela assim como ocorre com os filmes da Emma Watson por exemplo, que por mais que ame ambas, eu sempre fico com a impressão que o nome a figura da atriz é maior que o personagem. Então sempre só enxergo a pessoa. aqui não. Aqui me desliguei completamente de que estava vendo a Jlaw e isso é um trabalho genial da própria atriz e do diretor de conseguir dirigir ela ao ponto de apagar essa imagem do nome dela.