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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Um Olhar Do Paraíso - Critica




"The Lovely Bones", que em tradução livre ficou "Um Olhar Do Paraiso".
O filme é dirigido por nada mais nada menos que Peter Jackson o todo poderoso e Real senhor dos Anéis no cinema; e é baseado no livro "Uma Vida Interrompida" escrito por Alice Sebold. 

Porem esqueça a magnitude em termos de locações. Esqueça a jornada épica, tipica dos recentes filmes de Jackson.
"Um Olhar Do Paraíso" é mais interno do que externo. Ele não é adrenalina e sim sensação- não necessariamente emoção.
Porem não se engane. Ele não é delicado como as cores vivas e calmas dele demonstram ser.
O que se vê em Um Olhar do Paraíso é um filme cético e por vezes tão bucólico e sarcástico que chega a ser quase um filme de humor negro.
A visão que o "Olhar" demonstra é uma realidade clichê, uma realidade meramente visual e estereotipada. Mostra sem nada velado que realmente quem vê cara não vê coração.
Entenda.
O filme é quase como se fosse um diário pós-morte de Susie, garota loira, adolescente, 14 anos de idade, irmã mais velha de um total de 3 filhos(uma irmã e um irmãozinho), que é determinada, apaixonada por fotografia e em busca de seu primeiro amor. É extremamente apegada ao pai.
Se vê vitima de um brutal assassinato (ela é estuprada e esquartejada) e narra em voz off o filme inteiro o que aconteceu com ela durante sua pós morte numa realidade paralela e em paralelo a vida sem ela aqui na Terra e a busca de seu pai pelo assassino que literalmente mora ao lado.
O filme não tem mistérios. 
Desde o inicio sabemos quem é o assassino, sabemos que ela esta morta e como foi morta e sabemos também qual a condição em que ela esta.
É como se o filme sugerisse uma imersão num mundo além-vida, sem contudo querer catequizar ninguém.
Susie após sua morte brutal, não consegue realmente partir rumo ao Paraíso que a espera, porque ela zela pelo bem estar de sua família que sofre sem ela, e principalmente porque ela é tomada pelo ódio (tão avesso à personalidade dela em vida) que detém pelo seu assassino que permanece ate então impune.
Assim o filme discorre entre filofias, sempre pra frente, numa narrativa linear e coesa sobre cada escolha e ato dela ali naquele mundo (que fica entre o céu e a Terra) observando de longe e ao mesmo tempo bem de perto o que ocorre por aqui.
A direção de fotografia tem um papel importantíssimo no filme. Desde o inicio as texturas e as paletas de cores são carro chefes da historia que nos faz mergulhar em uma espécie de “Van Goghismo” setentista, se é que tal expressão inventada possa caber aqui.
Cada cena do mundo particular de Susie é como um quadro vivo. Ele é formado única e exclusivamente pelas sensações, medos e emoções dela. Se ela chora, começa a chover, se ela sente alegria, um lindo nascer do sol surge manso. Tudo cercado por relvas e troncos (cenário de sua morte). Tudo ali é fruto de Susie. Aquele mundo é ela em expansão.
O filme parece ter sido dividido em 3 partes. 
Uma é Susie, a parte fantástica, artística e repleta de cores e formas, curvas, planos abertos, verticais e nada lineares. 
O outro é o de seu pai - vivido por Mark Wahlberg - bucólico, pesado, com cores amenas, repleto de cinza. Que lembra uma natureza morta. Setentista e extremamente melancólica. Planos médios ou fechados, sem muita ação.
E por fim o mundo real que segue. O mundo caracterizado pelos irmãos de Susie e por sua mãe e avó, e por seu primeiro e único amor não consumado Ray.
E é aqui que o sarcasmo repleto de clichês propositais de Peter Jackson assume.
Ray é o típico garoto perfeito, popular, bonito, poeta e latino. O primeiro e único amor de Susie, a quem ela não consegue dar o primeiro beijo.
A família perfeita de Susie, que na verdade esconde uma avó alcoólatra - Susan Sarandon -, uma mãe que foge ao se deparar com a lembrança de sua filha morta, um pai extremamente dependente e uma irmã inteligente e devotada que  vive independente sem a atenção devida dos pais.
Um assassino frio e calculista artista (desenhista) solitário e de aparência inofensiva e ao mesmo tempo estranhamente semelhante a protagonista, completa todo o sarcasmo de Jackson.
O roteiro versa sobre a dualidade da vida e em como mantemos conexões diversas e tão fortes durante a jornada de vida com pessoas que às vezes nem imaginaríamos. E que essas conexões podem ser feitas através do apego, do amor – no caso da relação pai e filha – como pelo ódio – como o caso do assassino e de Susie.
Isso se dá através dos olhos do assassino que muitas vezes assume um colorido semelhante ao do mundo particular de Susie.
O sarcasmo do filme se encontra em pequenas frases ("É claro que tudo aqui é lindo, aqui é o paraíso" – fala que uma das personagens diz a Susie quando ela vê pela primeira vez o Paraiso que a espera, desde a Grande arvore de Adão e Eva; ), bem como a fala inicial do filme em que Susie diz: “um laço vermelho gigante não impedirá uma menina de morrer de leucemia.” A maneira que ele aborda os fatos e ate mesmo o figurino de todo o filme, demonstram o quanto o roteiro tenta mostrar uma visão deturpada nossa da realidade. Contos de fadas existem, mas quem disse que as fadas eram boas? Parece ser essa a questão. O filme ri do tema "alem da vida e crença" e seus clichês filmicos e ironicamente por isso, se torna um filme assim, repleto de chiclês de construção de narrativa, mas como o diferencial de ser proposital e assim criticar o tema. o que claramente não era a intensão de Alice Sebold em seu livro.
A trilha é leve e densa, e acentua de forma excelente a magnifica fotografia delineada e clara. 
No mais, Um Olhar do Paraíso propõe uma imersão a realidade e no que há alem dela. Mas de forma extremamente pessimista e falsa. Ou por isso mesmo verdadeira. Assim como a técnica do assassino, o filme é um desenho, uma obra de arte perfeita e bela, que esconde uma armadilha fatal.
Um filme sensacional sem duvidas que erra pouquíssimas vezes. Com atuações mornas e falas interessantes.
Assim como no Livro, "Um Olhar" é frio, pesado, reflexivo - e ao contrario do livro somente nesse aspecto - extremamente sarcástico e critico.

Ao final a sensação que fica é que terminamos de ver um filme Coeso, pesado e leve ao mesmo tempo e que mostra o como devemos ficar alertas a dualidade das pessoas.
Mas que na realidade – paralela ou não –  retrata a beleza cruel de nosso mundo, a fatalidade de nossas escolhas, questiona em clichês, os clichês do dia a dia e acima de tudo, faz um ode aos malditos literários e sensíveis, ao questionar: além morte.. Há? E se há... É como se pensa?
Não é um filme perfeito, mas definitivamente é um ótimo filme.
Susie ao final se despede e nos deseja “uma vida longa e feliz". Faço das palavras dela as minhas, e assim como na fala dela, com uma pontinha de ironia.

Uma ressalva pessoal: Não sei se gostei da forma que ele escolhe dar a redenção a protagonista. Acho que aqui, o questionamento deveria ser deixado de lado e adotar a forma do senso comum.
E não, ainda não li o livro, mas me informei sobre.


Ficha técnica:

The Lovely Bones
EUA , 2009 - 135
Gênero: Drama / Fantasia
Direção: Peter Jackson
Roteiro: Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson, Alice Sebold (livro)
Elenco: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Stanley Tucci, Rachel Weisz, Susan Sarandon, Rose McIver, Reece Ritchie, Michael Imperioli

Trailer no Player Abaixo:


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Trilogia Millennium - Livros


Nunca me considerei um bom avaliador de obras literárias. Sou admirador e não entendedor.
Sim leio bastante, e escrevo bastante. Porem creio que eu jamais poderia realmente fazer uma critica de alguma obra literária, principalmente por não possuir uma bagagem tão extensa assim e principalmente por simplesmente desprezar por escolha todas ou a maioria das regras gramaticais e normas de linguagem.
Assim sendo o que escreverei abaixo nada mais é que comentários dispersos e opiniões pessoais sobre a obra. Não é critica e nem avaliação. Pois bem.



Terminei finalmente de ler a trilogia “Millennium” do escritor Stieg Larsson*.
A obra de Larsson é uma obra que fascina pelo esmero que tem na construção de tramas, pelo cuidado e apego aos detalhes e verossimilhança de informações e historia mundial(principalmente e totalmente políticas e sociais) e no cuidado em traçar personalidades de seus emblemáticos e sempre dúbeis personagens.
Mas dentre tantos fatores que caracterizam a obra de Larsson, talvez seu maior feito e destaque seja a personagem de Lisbeth Salander a heroína antagônica da serie.
Uma hacker de porte físico delicado, uma mulher quase chegando à casa dos trinta anos de idade com aparência de uma adolescente de quinze, repleta de tatuagens, piercings pelo corpo, dotada de uma inteligência surpreendente, habilidades de luta e agilidade admiráveis e impressionantes, memória fotográfica e uma sociabilidade quase zero, bissexual, e que traz na bagagem de vida mistérios, crimes e intrigas de vingança e acerto de contas é no mínimo interessante.
Lisbeth não é a mulher fatal. Muito pelo contrario, ela não tem atrativos físicos e nem de personalidade atraentes a qualquer homem ou mulher. E de forma alguma possui artimanhas ou melhor, de forma alguma se utiliza de alguma para conquistar e se dar bem. Não.
A filosofia de Lisbeth é uma só: viver em paz, na dela sem precisar ou dever dar justificativa a ninguém. Ponto.
Qualquer coisa que atrapalhe isso vira um item numa lista que ela fará questão de zerar. Usando o que for para tal.
Muito bem.
Soma-se a isso, traumas do passado e uma construção psicológica que beira a paranoia e loucura. Você obtém uma das personagens mais interessantes das ultimas décadas. Não é fácil defender Lisbeth, mas é impossível não ser fascinado e conquistado por ela. Assim o livro coloca em xeque questões morais e de senso critico e julgamento a todo instante.
Junte aí trafico de mulheres, segredos e golpes de Estado, mafia sueca, jornalismo ferrenho, furos e escândalos, romances complexos e conturbados(como o caso de amor poligâmico de uma das personagens centrais) e você completa um terço do que é a obra.
Não contarei a trama, para não haver spoilers para quem possa estar lendo isso e futuramente pretenda se embrenhar pela historia.
Contudo o que parecem ser rosas, viram no Maximo alguns lírios nas mãos de Larssom pelo simples fato dele ter pensado na obra como uma serie de dez livros e não de apenas três. Quando se constrói um arco dramático pensando em dez continuações, cessar tal arco na terceira unidade é o mesmo que mal chegar ao final do primeiro ato num filme.
Larsson morreu antes de completar sua obra. Ele nos deixou apenas esses três primeiros livros.
Isso faz com que ao final a trama de Millennium aparente fraqueza na narrativa, nos fatos, nos atos, e no amarrar da historia. A narrativa não se sustenta totalmente. São informações demais e conclusões de menos. São personagens demais sem fins.
Porque obviamente tudo foi pensado para ter real sentido e conclusão ali no final... Após a ultima linha do décimo livro. Infelizmente isso nunca ocorrera.
Porem o final da trilogia iniciado respectivamente por: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres// e A Menina Que Brincava com Fogo; chega ao fim com seu A Rainha do Castelo de Ar; de forma satisfatória, mesmo que incompleta. Sobram perguntas demais ao final. Mas termina relativamente bem.
Mas a duvida que fica é o porque da decisão dos editores da obra, optarem por deixarem alguns personagens introduzidos na trama, sendo que eles não chegam a ter relevância na obra ao final de seu terceiro livro. Fica claro que tais personagens e tramas teriam espaço importante futuramente - como o caso do motivo da tão famosa tatuagem de escorpião as costas de Lisbeth e a existência de sua desaparecida irmã -; mas como isso não pôde ocorrer seria sensato editarem tais passagens. Isso seria no minimo demonstrar algum respeito e francamente seriedade com a obra. Deixando do jeito que deixaram, só contribuíram para as falhas narrativas que jamais poderão ser remediadas pelo autor.
No mais é uma ótima obra. No mínimo interessante, pela capacidade que tem de prender a atenção; de condensar suspenses inteligentes e principalmente pela evolução de seus personagens centrais.Um bom Livro sim. Uma boa historia.

A obra ainda deu origem a 4 filmes. Três suecos que seguem a trilogia - cada filme sendo para um livro. E uma versão ate o momento para o 1° livro da serie, americana que obteve relevantes indicações e prêmios na ultima edição do Oscar.
Veja Trailer's das versões para o cinema da Obra de Larsson nos players abaixo:

Versão Americana dirigida Por David Fincher; com Daniel Craig e Rooney Mara(indicada a melhor atriz no Oscar por sua atuação como Lisbeth) :




As 3 Versões Suecas da trilogia completa dirigido por Niels Arden Oplev (primeiro) e Daniel Alfredson (os dois últimos), com Noomi Rapace e Michael Nycvist :















Segue abaixo sinopses das três obras da serie:


Os Homens que Não Amavam as Mulheres


Primeiro volume de trilogia cult de mistério que se tornou fenômeno mundial de vendas, Os homens que não amavam as mulheres traz uma dupla irresistível de protagonistas-detetives: o jornalista Mikael Blomkvist e a genial e perturbada hacker Lisbeth Salander. Juntos eles desvelam uma trama verdadeiramente escabrosa envolvendo a elite sueca
Os homens que não amavam as mulheres é um enigma a portas fechadas — passa-se na circunvizinhança de uma ilha. Em 1966, Harriet Vanger, jovem herdeira de um império industrial, some sem deixar vestígios. No dia de seu desaparecimento, fechara-se o acesso à ilha onde ela e diversos membros de sua extensa família se encontravam. Desde então, a cada ano, Henrik Vanger, o velho patriarca do clã, recebe uma flor emoldurada — o mesmo presente que Harriet lhe dava, até desaparecer. Ou ser morta. Pois Henrik está convencido de que ela foi assassinada.
Quase quarenta anos depois o industrial contrata o jornalista Mikael Blomkvist para conduzir uma investigação particular. Mikael, que acabara de ser condenado por difamação contra o financista Wennerström, preocupa-se com a crise de credibilidade que atinge sua revista, a Millennium. Henrik lhe oferece proteção para a Millennium e provas contra Wennerström, se o jornalista consentir em investigar o assassinato de Harriet. Mas as inquirições de Mikael não são bem-vindas pela família Vanger. Muitos querem vê-lo pelas costas. Ou mesmo morto. Com o auxílio de Lisbeth Salander, que conta com uma mente infatigável para a busca de dados — de preferência, os mais sórdidos —, ele logo percebe que a trilha de segredos e perversidades do clã industrial recua até muito antes do desaparecimento ou morte de Harriet. E segue até muito depois… até um momento presente, desconfortavelmente presente.



A Menina Que Brincava Com Fogo


“Não há inocentes. Apenas diferentes graus de responsabilidade”, raciocina Lisbeth Salander, protagonista de A menina que brincava com fogo, de Stieg Larsson. O autor — um jornalista sueco especializado em desmascarar organizações de extrema direita em seu país — morreu sem presenciar o sucesso de sua premiada saga policial, que já vendeu mais de 10 milhões de exemplares no mundo.
Nada é o que parece ser nas histórias de Larsson. A própria Lisbeth parece uma garota frágil, mas é uma mulher determinada, ardilosa, perita tanto nas artimanhas da ciberpirataria quanto nas táticas do pugilismo, e sabe atacar com precisão quando se vê acuada. Mikael Blomkvist pode parecer apenas um jornalista em busca de um furo, mas no fundo é um investigador obstinado em desenterrar os crimes obscuros da sociedade sueca, sejam os cometidos por repórteres sensacionalistas, sejam os praticados por magistrados corruptos ou ainda aqueles perpetrados por lobos em pele de cordeiro. Um destes, o tutor de Lisbeth, foi morto a tiros. Na mesma noite, contudo, dois cordeiros também foram assassinados: um jornalista e uma criminologista que estavam prestes a denunciar uma rede de tráfico de mulheres. A arma usada nos crimes — um Colt 45 Magnum — não só foi a mesma como nela foram encontradas as impressões digitais de Lisbeth. Procurada por triplo homicídio, a moça desaparece. Mikael sabe que ela está apenas esperando o momento certo para provar que não é culpada e fazer justiça a seu modo. Mas ele também sabe que precisa encontrá-la o mais rápido possível, pois mesmo uma jovem tão talentosa pode deparar-se com inimigos muito mais formidáveis — e que, se a polícia ou os bandidos a acharem primeiro, o resultado pode ser funesto, para ambos os lados.
A menina que brincava com fogo segue as regras clássicas dos melhores thrillers, aplicando-as a elementos contemporâneos, como as novas tecnologias e os ícones da cultura pop. O resultado é um romance ao mesmo tempo movimentado e sangrento, intrigante e impossível de ser deixado de lado.

A Rainha do Castelo De Ar



Último volume da trilogia Millennium, A rainha do castelo de ar reúne os melhores ingredientes da série: um enredo de tirar o fôlego, personagens que ficam gravados na imaginação do leitor e surpresas que se acumulam a cada página
Com mais de 15 milhões de exemplares vendidos no mundo, a trilogia Millennium é a mais bem-sucedida série policial dos últimos anos, e já conta com uma versão cinematográfica, prevista para estrear no Brasil ainda este ano. Quer seja tratando da violência contra as mulheres, quer seja enfocando os crimes cometidos por magnatas ou pelo Estado, a saga cumpre sua principal missão: a de envolver o leitor numa história impressionante, cheia de mistérios.
Neste terceiro e último volume da série, grande parte dos segredos é desvendada, e Lisbeth Salander agora conta com excelentes aliados. O principal é Mikael Blomkvist, jornalista investigativo que já desbaratou esquemas fraudulentos e solucionou crimes escabrosos. No mesmo front estão ainda Annika Giannini, irmã de Mikael, advogada especializada em defender mulheres vítimas de violência, e o inspetor Jan Bublanski, que segue sua própria linha investigativa, na contramão da promotoria.
A rainha do castelo de ar enfoca de modo original as mazelas da sociedade atual — da ciranda financeira ao tráfico de mulheres —, conquistando um lugar único na literatura policial contemporânea.


Fonte das sinopses:  Trilogia Millenium.com


*Stieg Larsson (1954-2004) foi fundador e editor-chefe da revista sueca Expo, que denuncia grupos neofascistas e racistas. Especialista na atuação das organizações de extrema direita em seu país, é coautor de Extremhögern, livro no qual põe o assunto em evidência. Morreu em sua casa, vítima de um ataque cardíaco, pouco depois de ter entregado os originais dos romances que compõem a trilogia Millennium.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Critica - Orgulho e Preconceito



Orgulho e Preconceito, adaptação do romance da escritora britânica Jane Austen. Filme assinado por Joe Whight. E um enredo interessante.
Keira Knightley definitivamente tem um ar provincial cativante. Sua expressão, sua entonação de voz, sua postura e atuações, parecem terem sido feitas para filmes de época. E isso é uma cartada que ela parece dominar magistralmente. O filme não exige, contudo dela, nem mesmo de nenhum outro personagem nenhum brilhantismo em suas atuações. Mas ponderação. E isso ela consegue.
Keira é Elisabeth Bennet, segunda filha de um total de cinco, da família Bennet.
No final do século XIX numa Londres aristocrática, a Sra. Bennet passa seus dias e noites junto de seu marido, tentando encontrar maridos para suas cinco filhas. A fim de lhes garantir futuro e riquezas para a família. Uma vez, que se o acaso viesse a morte o Sr. Bennet, elas por serem mulheres não poderiam ter direito a nenhuma herança que pudesse surgir na família. A menos que estejam casadas e constituindo seus próprios bens.
É assim que após um baile arranjado, a filha mais velha, irmã e melhor amiga de Elizabeth, Jane, bela e extremamente bem educada e sensata, acaba por conhecer o jovem, solteiro e rico Sr. Bingley. Junto dele, a família conhece o melhor amigo do jovem Sr. Bingley, o elegante e fechado – muitas vezes presunçoso- Sr.  Darcy. Jane e Bingley logo se apaixonam.  Mas numa época em que classes sociais eram mais evidentes e dadas importância tal qual, credos, raças, cor ou sobrenomes, logo o romance se viu repleto de empecilho. Onde em paralelo a isso surge o envolvimento arquetípico e improvável da inteligente e ácida Lizzy com o ranzinza e presunçoso Darcy.
E é essa a premissa. Mas ela consegue ainda ir um pouco alem.

O filme se sustenta por seus temas e pelo fascínio que deram origem a filmes como O Diário de Bridget Jones, de um caso de amor improvável e fadado ao fracasso, que, contudo se sustenta e mais que isso vinga. Sem clichês imperdoável, e com aquele toque romancista aristocrático inglês sem igual. E claro, pela personagem forte de Elisabeth.
Ela não é a senhorita a espera de um casamento para salvar a família pobre. De suas quatro irmãs, Elizabeth é a mais sensata, a mais protetora, a mais despojada, a mais introspectiva e de riso fácil da família que busca nas filhas a chance de melhorarem de vida, dando suas mãos ao matrimonio a pretendentes ricos.
Situação essa, administrada e encorajada pela mãe protetora e controladora, mas sem agressões, sempre de forma jovial e amorosa.
E é ai que o tom muda, não há o fator pena pelas filhas, pois ambas aceitam seu destino, tudo pela fraternidade em família. Algo extremamente falho naquela época, naquela sociedade – é o que o filme vende.
Lizzy (Elizabeth) apesar de suas brincadeiras em fingir somente ver o bolso e nada alem disso de cada senhor aristocrático que se apresenta a frente, na realidade os observa e julga diante de tudo aquilo que a move sem perceber. Orgulho e Preconceito.
O tema é visto, relido e tratado de diversas formas e jeitos ali.
Seja no julgamento premeditado de uma beleza duvidosa, seja no julgamento premeditado de uma situação financeira e afetiva de um personagem, bem como de fatos, atos e motivações para tais. Isso se estende inclusive a cada caráter exposto durante o filme.
É um filme engraçado, levíssimo e que flui bem.
Por se tratar de um filme de época, romântico, logo se pode prever um filme parado e enjoado, repleto de diálogos de difícil entendimento e que exagera na trilha sonora orquestral. Pois é. Lembrem-se do titulo.
Não há nada nem remotamente preconceituoso numa leitura dessas. O filme possui narrativa rápida, fácil, sem diálogos repletos de firulas (alem das aceitáveis por se tratar de um filme de época), tem uma trilha sonora tímida, mas leve, uma fotografia bonita, bem como planos interessantes – destaque a cena da dança entre Darcy e Elizabeth em que o salão de dança esvazia-se sob o olhar e fascínio um do outro, enquanto a câmera literalmente dança junto aos convidados -, uma direção de arte acertada e comedida, bem como o trabalho de figurinos e iluminação.
A projeção se dá sempre com um gostinho de quero mais.
Destaque para a cena em que Lizzy visita à casa de Darcy e se encanta pelas obras e esculturas presentes na antessala.
Sem se utilizar de açucares ou tragédias gregas, o filme se eleva a um romance genuíno, divertido, nos moldes quase shakeasperianos – sem todos seus poemas e mortes claro – remontando o sentido de gênero romântico.
Um filme bonito, um romance.



Pride & Prejudice 
Reino Unido , 2005 - 127 min. 
Romance

Direção
Joe Wright

Roteiro
Deborah Moggach baseado em livro de Jane Austen

Elenco
Keira Knightley, Matthew MacFadyen, Brenda Blethyn, Donald Sutherland, Tom Hollander, Rosamund Pike, Jena Malone, Judi Dench


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Critica - "Michael"


Planos comuns, fotografia apagada e linear, atuações medianas dos coadjuvantes e acertadas dos protagonistas, locações comuns...
Comum, contudo não é um termo que deva ser empregado ao filme “Michael” do diretor Markus Schleinzer.
A produção alemã traz um enredo repleto de tensão e tal nível de verossimilhança, que chega a assustar, chocar e ao mesmo tempo, por isso mesmo, a encantar.
O filme aborda a pedofilia. Ele foca no relacionamento cotidiano entre o molestador Michael e uma criança – um menino – que deve ter os seus 9 ou 10 anos de idade, que ele mantém em cativeiro residencial. O nome da criança jamais é revelado.
O filme possui uma narrativa sempre linear, com poucos saltos de tempo e um roteiro com ausência quase que completa de trilha sonora e de diálogos.
Ele se sustenta justamente pelo não dito, do que pelo dito. É o silencio, o olhar, a expressão fácil, os trejeitos das mãos, o modo de andar de cada um que dita suas personalidades. Alias, é o silencio que consegue executar os melhores diálogos ali.
A atuação do menino é particularmente muito bem executada. Ele a todo o momento se apresenta de cabeça baixa, vestido como um homem, com um olhar sem vivacidade, que raras vezes é visto.
A construção do personagem do menino é feita de maneira gradual e muito bem funcional. Não é uma construção fácil. A complexidade da situação para a criança é extrema.
Ele passa seus dias trancado numa espécie de porão, totalmente customizado para ele, com brinquedos, uma cozinha e um banheiro, onde ele mesmo se banha, onde ele mesmo prepara o café da manhã todos os dias sozinho.
Onde fica sua cama enfeitada por ele mesmo e a mesinha de centro onde ele estuda, lê, escreve aos pais e principalmente desenha.
Sim, o garoto escreve semanalmente a seus pais. Cartas seguidas de desenhos que jamais são entregues por Michael – claro. Alias os desenhos do menino, revelam muita coisa sobre ele. Ele constantemente desenha pássaros, multicoloridos, uma ode a liberdade que ele procura.
Assim Michael elabora seu controle sobre o garoto. Ao faze-lo acreditar que os pais não o querem. Que os pais exigem que ele obedeça a suas ordens.
Ao mesmo tempo Michael estabelece uma relação de afeto com o garoto. Ora como se fosse de pai e filho, ora entre amigos, ora entre irmãos.


Chega a ser angustiante ver as cenas em que Michael leva o menino ao parque.
O garoto sempre observador visualiza um mundo em que diante de seu sofrimento psicológico; parece não ter fim.
Os contrapontos e referencias bíblicas também são muito bem tratadas no filme. Sem nunca exagerar e cair no caricato.
O cuidado ao figurino também é exemplar, ao nos brindar com tanta ausência de cores, quebrando essa constante apenas nas cenas em que há o garoto em cena.
Mas todo o filme se justifica e se consolida numa cena particular. A do jantar mais no final do filme.
Michael e o garoto sempre jantam juntos, a mesa, na sala de estar. Após o jantar o menino ainda ajuda a lavar louça.
A cena consegue chocar, imprimir tensão, prender a atenção, consegue romper o quadro dramático da narrativa e nos brinda com um humor momentâneo sujo e negro, consegue emocionar e tocar. Tudo ao mesmo tempo. Na mesma cena.
Essa cena do jantar, juntamente com o dialogo entre os dois, a reação do menino diante da pergunta de Michael, assim como o ataque psicológico que o menino faz a ele e a forma que isso culmina da personalidade do menino é algo belo de se ver em termos cinematográficos.
Mostra um resumo de toda a relação entre os dois, o posicionamento e entendimento que vai amadurecendo na criança, bem como a relação de afeto do molestador e de suas artimanhas que lhe dão controle sobre ele. É uma cena que para os mais moralistas não será bem vista, e com certeza não é uma cena que seria aceita por aqui no país. A coragem de tal, já me agradou bastante.
Não é um filme, contudo didático. Não é o tipo de filme que visa ser um anti-pedofilia para ser exibido em escolas. Não.
Mesmo que ele crie e traga a mensagem de alerta, ele é muito mais um filme sobre pedófilos e não sobre a pedofilia em si.
Mas o que é mais interessante em Michael é a forma que ele se mantém imparcial do inicio ao fim.
Sim, o julgamento humano de certo e errado, bem como nossa percepção moral nos faz entender de imediato que tal relação é errada, punível, horrível. Porem, ao contrario de outros filmes com o mesmo tema, ele não tinge Michael como vilão, nem tão pouco como mocinho. Ele mostra os fatos e atos tais quais são.
Deixa a cargo do espectador julgar ate que grau condenara Michael ao final da película.
Talvez essa imparcialidade só tenha se quebrado na parte em que se encontra um gato, de uma visinha que desaparece no meio da projeção. Achei desnecessário esse detalhe, mas nada que comprometesse demais o todo.
Porem esse distanciamento de julgamento, faz com que o filme seja frio. Com exceção daquela cena já mencionada do jantar, o restante fica algo muito mecânico. O que por um lado demonstra a visão da direção em transpor a frieza do molestador para toda a projeção, afinal o personagem e o filme são um só e isso é claro. Por outro pode demonstrar uma falha de dramaticidade. Como se o filme pudesse ir alem e nunca vai. Poderíamos sair ao final da sessão chorando, xingando e querendo punições mais severas e imediatas a tal crime, ou mesmo um tratamento para tais molestadores, ou mesmo acabar o filme repleto de sensações diferentes. Mas não. O filme começa frio, segue morno e termina frio. Como se a cada cena pudéssemos nos segurar na ponta das cadeiras com as mãos no rosto, mas sem necessidade alguma.
Enfim, Michael é um filme no mínimo interessante que com certeza valeria o ingresso. Cumpre com sua proposta, que é fazer refletir e trazer discussões pertinentes acerca de um tema tão delicado quanto esse da pedofilia que infelizmente nos ronda dia a dia, muitas vezes sem nem mesmo percebermos.



 Nota no IMDb