Agridoce, projeto paralelo formado por Pitty e o guitarrista de sua banda Martin( que possui um ótimo trabalho autoral, Martin e Eduardo), se lançou ao mercado no final de 2011.
Com um album repleto de texturas e som solar, o duo vem nos apresentando gradualmente mais facetas desse novo trabalho, tão diferente da banda que consolidou Pitty como uma das Bandas de rock mais influentes de nossa geração.
Com direção de Ricardo Spencer, o duo Agridoce surge com mais um clipe todo Trabalhado em Nostalgia.
Com um album repleto de texturas e som solar, o duo vem nos apresentando gradualmente mais facetas desse novo trabalho, tão diferente da banda que consolidou Pitty como uma das Bandas de rock mais influentes de nossa geração.
Com direção de Ricardo Spencer, o duo Agridoce surge com mais um clipe todo Trabalhado em Nostalgia.
A musica escolhida, foi 130 Anos. Uma das faixas que nasceu na Casa Da
Serra Da Cantareira, onde Pitty e Martin se refugiaram para gravar esse projeto
de musicas doces e acres.
Basicamente, o roteiro do clipe versa sobre dois personagens, amigos que
resolvem, seja lá por qual motivo, fazer as malas e cair na estrada rumo ao
desconhecido. Como se fosse uma fuga.
Durante o trajeto, ambos modificam imperceptivelmente o visual – Pitty com
uma peruca Loira, e Martin com Bigode e cavanhaque – enquanto discutem e riem,
sentindo o tempo passar.
Tempo.
Essa é a questão levantada pelo clipe.
Essa é a questão levantada pelo clipe.
Mas antes é importante entender que 130 anos; a musica, versa sobre a coragem de ir alem, de fugir de estereótipos e buscar seu
verdadeiro eu, a coragem de fazer aquilo que deseja sem temer o que os outros
vão dizer e ate onde chegarão em seu julgamento... Essa é a diferença entre se
tornar um arremedo de si próprio sem mais se reconhecer, e de ser quem deseja
ser. E isso, essa consciência às vezes leva tempo. (eis aqui a mesma mensagem
de sempre de todo o trabalho de Pitty no geral, LIBERDADE).
Usando diversas referencias como o
movimento “Pé na Estrada” que nada mais é do que colocar uma mochila
nas costas e pegar a estrada, rumo a aventura, a liberdade, ao desprendimento,
banhados por jazz, poesia e etc.; e repleto de detalhes, como as cenas com planos
de câmera estática, com imagens em movimento e vice e versa, assim como os
diversos objetos que ajudam a contar a historia; Ricardo Spencer busca num
filme de 1983, a referencia certeira para contar a historia delicada e pesada de
130 anos.
O filme em questão vem de André
Tarkovski e seu Filme "Nostalgia."
Assim como em Nostalgia, não importa o
sentido das ações, mas sim as ações em si.
O próprio Andrei Tarkovsky definiu seu filme como um retrato de alguém em profundo estado de alienação em relação à si próprio e ao mundo, incapaz de encontrar um equilíbrio entre a realidade e a harmonia pela qual anseia, num estado de nostalgia provocado não apenas pelo distanciamento que se encontra de seu país, mas também, por uma ânsia geral pela totalidade da existência. Vendo por seus argumentos, o objetivo de Tarkovsky não é criar o desenvolvimento de uma história, mas sim, criar uma interação entre a tela e a atenção do espectador, fazendo surgir assim, o tempo.
O Clipe
130 anos faz a mesma coisa, traça um panorama de dois personagens em busca de
si mesmo. Uma fuga de uma angustia sem nome ou explicação, trazida pelo tempo,
e por isso mesmo a busca a um reencontro, onde algo possa sobreviver, onde algo
possa fazer sentido. Onde consigam ter a comunhão entre o meio – natureza, vida
– e a existência física – seus pensamentos, seus anseios, suas vontades.
A peruca
Loira de Pitty nos remete a personagem glorificada de Nostalgia que é a causa
do suicídio de seu amante desequilibrado.
O visual
cavanhaque e bigode de Martin é a alusão perfeita do pacato Homem tentando entender
seu lugar no mundo novamente.
A
fotografia esfumaçada que beira ao anacronismo, o carro vintage, as cores mornas
puxadas para o verde e meio apagadas – apesar da iluminação coesa – trazem ainda
mais fortemente a questão do Tempo as cenas. Os planos de câmera sempre estáticas,
com movimentos dispersos de imagens (uma técnica que Lars Von Trier adora
fazer, mas com o acréscimo da diferença de tempo de acordo com o espaço) trazem
uma melancolia e uma urgência, que por mais monótona que possa parecer nos
prende ali como espectador, para sabermos o desfecho que tudo terá.
Novamente:
a trama não importa, o que importa é a busca, a sensação interna dos
personagens, sua interação com o tempo e o meio (notem a cena dos cavalos... )
Ricardo Spencer conta a historia, justamente do duo aqui na vida real.
Eles estão em fuga e numa procura. Mas ao contrario do que se pensa, ser da policia ou de uma gangue; Eles estão fugindo deles mesmos.
A casa abandonada lembra demais a casa
da Serra da Cantareira onde o projeto foi gravado, assim como o Hotel lembra a
casa deles aqui na cidade mesmo.
Entendem?
Entendem?
Deixar o mundo mecânico para trás,
mudar, justamente para se encontrar em outro lugar. No caso, uma casa longe de
tudo com uma piscina esverdeada (lembrem onde a musica foi composta) livres
finalmente para alçar voo, mesmo que o voo seja Agridoce.
Mas essa cena da piscina, bem como o
brilhante plano da Casa Abandonada, com imagem estática, plano abertíssimo apenas
com as nuvens do céu denunciando o tempo que nunca para e passa rápido, é mais
uma alusão a Nostalgia. Mais especificamente a cena final em que é representada
a persistência do personagem principal em ir ao seu reencontro final com suas
lembranças ao tentar atravessar uma piscina vazia com uma vela acesa na mão
afim de chegar no fim da piscina sem tê-la apagado. Assim que ele consegue, há
um corte para uma cena final onde ele se vê deitado num ambiente onde a
realidade e as memórias parecem ter se fundido.
É o que Pitty e Martin fazem. É o que
procuravam. É onde se refugiarão(como bem sabemos que fizeram de fato).
Lindo, sensível, minimalista e que passa a mensagem ao modo Spencer de ser: nas entrelinhas e nos detalhes, nas referencias.
Lindo, sensível, minimalista e que passa a mensagem ao modo Spencer de ser: nas entrelinhas e nos detalhes, nas referencias.
O clipe termina no começo de tudo.
Pássaros cantando ao longe para a jornada começar.
Para fãs da banda principal de Pitty e Martin
( A Pitty) e para aqueles que torcem pelos artistas em si, esse clipe é a
explicação perfeita para a existência de tal projeto, e assim mesmo a paz para
aqueles que temiam um fim, tanto queriam. Não ha fim nessa jornada, ha apenas um reencontro.
Parabéns aos envolvidos, e agora chega
de explicação, afinal, musica e cinema não foram feitos para serem explicados,
e sim compreendidos e sentidos. vejam em HD, bem alto
e em tela cheia.