Pages

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Entre a Coexistência o XX da Questão



O trio londrino The XX surgiu em meados de 2009 com seu álbum de estreia intitulado “XX”. Formado por Romy Madley Croft (vocais e guitarra), Oliver Sim (vocais e baixo) e Jamie Smith (beats e produção) – e ate novembro do mesmo ano Baria Qureshi (teclado) que saiu, não sendo substituída ate hoje.
Em pouco tempo, critica e publico se entregaram de forma satisfatória e entusiasmada ao álbum que logo se tornaria um dos mais bem cotatos da ultima década.
O que justifica tal exaltação, fora a forma fora dos padrões do Rock alternativo que eles trouxeram. Alias classificar The XX como rock alternativo entre uma faixa e outra de “XX” já se apresenta como um erro, ou no mínimo um equivoco.
O álbum repleto de inventividade e vida trazia entre letras pesados, de dor e tristeza, sons densos e viscerais ao mesmo tempo, com distorções e sobreposições de vozes, entre canais diversos de áudio.
Soava quase como algo entre o Indie e o Pop minimalista.
XX” é repleto de singles-hits. Por conterem refrões que grudam e são rapidamente absorvidos – a voz sempre sussurrada de Romy ajudam na sensação de leveza-.

Um álbum de estreia desses, claro que tem seus pontos bons e seus pontos ruins, no que diz respeito ao futuro. Se antes Romy , Jamie e Oliver eram apenas 3 pessoas tímidas e talentosas fazendo seu som; hoje, eles são um  dos grupos mais bem vistos do mundo da musica.
E claro que todos esperavam demais de um próximo álbum, afinal: será que eles seriam artistas de um álbum só?

Depois de tanta espera e ansiedade, acaba de vazar o mais novo trabalho do trio que tem previsão de lançamento oficial apenas em Outubro de 2012.
O novo trabalho vazou a poucas semanas e recebeu o nome de “Coexist”.
Bem, ouvi o álbum – que estava esperando há muito tempo confesso – e após algumas audições, resolvi deixar aqui minhas impressões de um dos álbuns mais bem fechados do ano ate agora, e emblemático também.

A primeira musica a ser liberada e trabalhada pelo trio, foi Angels, que abre “Coexist”.
Se o normal é que a musica de abertura soe como uma amostra do que o álbum tem a oferecer, ‘Angels’ é totalmente avessa a esse padrão.
Angels’ é de longe a melhor faixa do álbum. Ela parece ter sido algo que escapou das garras de “XX”. Chega a ser gritante o quanto ela parece não se encaixar em “Coexist” apesar de estar La,compondo-o sem muitos alardes.
A faixa é simples, em sua estrutura, mas possui tantas nuances e texturas ao longo de seus quase 3 minutos de leveza, que é impossível escuta-la sem se emocionar ou permanecer tocado pelos sussurros melódicos de Romy. A letra versa sobre alguém que tem amor dentro de si, e vê tal sentimento como um anjo de asas sedutoras e belas, ao qual ela canta em seu silencio, como se assim tornasse ele real, e pudesse se certificar que tudo não passa de algo passageiro (uma vez que a faixa deixa claro que tal amor só poderia ser tão forte e real se fosse perfeito como as asas de um anjo).

Chained”- possível forte single -, traz Romy e Olivie dividindo os vocais num duo deliciosamente harmônico. Novamente o tom sussurrado e leve, num ritmo de progressão baixa, mas mesmo assim progressiva. Apartir dessa faixa, tudo o que você ouviu em “XX” deve ser deixado de lado. Não são os mesmo, é um novo The XX. Não do ponto de visto inovação, mas do ponto de vista densidade.
Coexist cai numa onda de introspecção e lirismo absurdo. Uma calma onde o silencio se faz presente. Em forma de musica. Sobreposições inspiradas de canais de voz dão base para a historia que o trio quer nos contar – ao pé do ouvido.
Fica claro que ‘Coexist’ tal qual seu nome pretende coexistir entre a visceralidade de 'XX' e a melancolia desse novo trabalho. ‘Coexist’ é uma imersão. Esqueça as baladinhas pop meio Indies e Rockers de outrora, o que se ouve aqui, são os sentimentos de alguém que esta se voltando para dentro. É como se eles tivessem saído da toca em 2009 e resolvessem voltar para o casco agora. Evoluir voltando para dentro e não para o mundo.
O álbum segue com “Try” e “Tides” mais a frente. Esta primeira que talvez, ao lado de ‘Angels’ e “Missing” logo adiante, são as únicas com potencial para virarem Hit’s.
Novamente em “Try” Olivie e Romy dividem os vocais.

Em “Reunion”, que pode soar a primeira vista chata e um tanto o quanto repetitiva, traz um trabalho excepcional de Jamie, que se segue ate “Sunset”.
Como já dito, “Missing” tem um potencial enorme de virar segundo Single. Sua letra que versa sobre a duvida de um amor. Se ele ainda existe ou não.
Mas é “Tides” que contem o surto criativo visto em “XX”. Uma faixa deliciosa, com uma combinação deliciosa das vozes de Oliver e Romy, em batidas ressonantes impossíveis de se ouvir parado. Alias única faixa “baladinha” talvez e por isso mesmo candidata a possível single.
Então surge “Unfold” que é um prelúdio lúdico e psicodélico, repleto de texturas e sensibilidade um tanto o quanto sombria que mostra que Coexist tem força onde menos se espera: na calmaria.

Em suma, ‘Coexist’ pode ser descrito como um ode a melancolia e ao resguardo dos sentimentos. É introspecção. O visceral só ocorre de dentro para fora, não deles, mas de quem escuta. Coexist é a “droga” que nos conecta com o mundo de catarse intima e pessoal.

Nem melhor e nem pior do que “XX”, o novo The XX surge consciente do que são, firmam sua identidade musical, e demonstram amadurecimento e domínio de uma linguagem há tempos esquecidas na atualidade gritada: o menos é mais. E no que o XX da questão aqui é Gigante!
Nota 8.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A Avenida da Inventividade



“Me vê uma cachaça. Serve aí.
O que é que foi, nunca viu uma mulher bebendo?
Preciso muito de um trago pra lamber o chão. Fui muito idiota mesmo.
A vida é um lixo.
Não existe justiça, não existe lealdade, amor... Amor?
Balela.
Invenção de livro, de filme, novela...
Sabe pra que? Pra fazer ó (dinheiro)...
O ser humano é uma coisa que deu errado.
Deus? Deus fez errado. Errou!
Essa mania, foi querer criar o mundo em seis dias...
Coisa de homem mesmo, lambão! Lambão!
Tinha que dar errado.
Que droga de vida é essa?
Pra que a gente vive? Pra esperar a hora de morrer?
O que é que vale a vida? Nada! Nada!
Ei, você, me recolhe aqui. Eu sou igual a isso aí que vocês estão recolhendo.
Um bando de porcaria estragada. Estou assim bem vestida mas vim do lixo.
E fui jogada no lixo de novo.
Estou de volta no lixo. Meu lugar é o lixo.
Toca pro inferno, motorista. "


Poderia ser apenas mais um texto brilhante e pesado de alguma literatura qualquer, que nos toca pela identificação e consciência instigada a cada frase e cada parágrafo. Se não fosse o fato, desse texto na realidade ser um monologo de uma personagem – vilã- da teledramaturgia. No caso, brasileira, e se tratando de uma novela.
Tal monologo foi declamado e apresentado ao publico, em horário nobre, na ultima quarta feira dia 8 de agosto.
A novela? Avenida Brasil.

Com 11 anos de idade, a menina Rita sofre um duro golpe, que deixará marcas para o resto de sua vida.

Órfã de mãe, ela foi criada por seu pai Genésio (Tony Ramos) e pela megera madrasta, Carminha (Adriana Esteves), que consegue, após a morte de Genésio, roubar a casa, a família e os sonhos da enteada. Porém, mesmo com a vida sofrida, Rita não fraqueja e mantém viva a sede por um acerto de contas.
Em busca de justiça, a garota deixa seu triste passado para trás e se transforma em Nina (Débora Falabella), uma mulher firme e preparada para as surpresas da vida.

Avenida Brasil é uma novela de João Emanuel Carneiro, com direção de núcleo de Ricardo Waddington. (fonte: "Na Telinha")*

Avenida Brasil, tem estado entre todos os tópicos e discussões de mesas de bar e mesas de jantar familiares, como qualquer outra novela global, semestre após semestre. Mas o que vem chamando a atenção não é sua trama repleta de vingança e dualidade, nem mesmo sua trilha sonora duvidosa ou seu elenco comum – que aproxima o telespectador à trama. Não. O que chama a atenção em Avenida Brasil é justamente sua produção.
A novela tem ares cinematográficos que colocam em check tudo o que já foi feito e mostrado pela própria emissora, inclusive em termos de series e minisséries. Há um cuidado “anormal” em figurino, figuração, iluminação, fotografia, enquadramentos e principalmente em construção de personagens e roteiro.
Não que seja perfeito, alias muito pelo contrario. Conforme os capítulos avançam nos deparamos com a incapacidade obvia e compreensível dos autores de sustentarem a trama a um enredo verossímil aceitável, uma vez que abusaram na velocidade sempre em tom de urgência -  a La capítulos finais -  no inicio de tudo. Isso faz com que se esgotem os chamados “encher linguiça”. Assim o que se foca é em tramas do núcleo de apoio que só faz divertir e se torna muito pouco interessante diante de todo o drama – exclusivo – causado pela trama central Nina versus Carminha e suas vinganças.
A verossimilhança tão bem executada no inicio da novela esta se perdendo, ao passo que o folhetim ganha status de ficção Tarantinesca.
O que impressiona mesmo é a capacidade que os autores tiveram em construir duas personagens centrais tão ambíguas e tão carregadas de traços psicológicos e emocionais instáveis. Nina e Carminha se confundem em seus papeis.
Não há como definir quem é a vilã e quem é a mocinha da trama. Cada qual teve e tem sua parcela de vilania e sua parcela de vitima na historia. Uma historia que se cruza e escurece com segredos e loucuras, que colocam a razão do embate entre as duas em check.
Ambas se assemelham muito, nos gostos, trejeitos e ate na forma de falar e agir. Os físicos das duas também se emparelham, bem como suas ações. Contudo – e aqui é analise pessoal – é interessante constatar como o ódio entre as duas parece dar vazão a um amor, ou apego avesso.

Não é raro, por exemplo, as duas trocarem toques que beiram a sexualidade. Ou mesmo as maldades de ambas que chegam ao limite da loucura e da perversão, enfraquecerem diante da possibilidade de real ferimento físico. Uma cena em questão – que foi ao ar ontem também – em que Max (amante de ambas) empurra Carminha e esta se fere contra a porta aberta. Ao ver que Carminha sangra a câmera nos mostra muito rapidamente o olhar e expressão de Nina, que se antes demonstrava satisfação pelo descontrole da rival, se mostra agora um pouco preocupada com o ferimento.
De fato, a construção psicológica e emocional de ambas é algo extremo e muito bem delimitado, o que instiga o publico.

Mas o ponto alto se deu mesmo na cena final do capitulo de ontem.
Carminha após sofrer um acidente de carro, anda a esmo pela cidade, devastada e com a face ensanguentada, a beira do abismo, totalmente desequilibrada e arrasada. Para num bar de rua, e pede uma cachaça. E é então que se põe a declamar o texto que iniciou esse texto.
Ela sai de seu carro destruído, e caminha em uma rua, emparelhada com um “muro” de arames farpados (a psicanálise pira).
Então algo acontece. Um surto de inspiração da produção da novela, e que nos traz um clássico contemporâneo da teledramaturgia brasileira, numa cena histórica e memorável em varias escalas:
Atuação impar de Adriana Esteves, repleta de dramaticidade, de peso, de entrega no olhar, na impostação de voz, nas alterações faciais. Numa mescla entre atriz e persona sem igual ate então na trama, imortalizando-a com certeza apenas por essa cena, como Carminha.
A câmera a todo o momento tremida, focando e desfocando alias, sempre em plano semi fechado no rosto da personagem, nos fazendo participar da cena. Como se estivéssemos ali, tomando um porre – pago por ela- e olhando em seus olhos sua decadência e raiva pela vida falha.
A trilha abandona o tom de ação e passa por notas melancólicas, cada vez mais intensas, mas sutis.
E o texto se complementa as metáforas da cena, desde a rica no bar de rua e a cachaça barata, ate suas roupas e visual impecável, mas com sangue seco na face.

Ate o gozo final que inspira tal texto, com toda sua historia e trama,a referencia do texto ao lixo, e o carro de lixo a levando diretamente para seu inferno, seu lar, o lixão – os restos humanos descartáveis, sem possibilidade de mudanças, sujos, fétidos, tais quais sua vida falha, cansada e acabada-. É um deleite para amantes assim como eu de tais textos.

Não sou noveleiro, alias como disse vejo falhas intermináveis na novela, mas de fato, não há como negar, Rede Globo pode ser um câncer de mídia ao publico, mas que essa novela esta fazendo um belo Oi Oi Oi na historia da nossa televisão, isso ela esta. De fato é de aplaudir de pé e degustar a obra entregue. 
No mais, melhor somente assistirmos, pois provavelmente Freud deve estar se revirando em sua imortalidade querendo bater um papinho com alguns residentes de Avenida Brasil. E com isso nem eu e nem Nina podemos competir.

Assista o monologo final em questão(e se puder confira o episodio completo) : Clique Aqui



Ficha Técnica

Criação: Marcos Pedrosa; Andre Regnier; Eduardo de Castro
Direção de Criação: MP
Direção: Marcelo Presotto
Produtora: 111
Prod Som: Jamute

Elenco:

Débora Falabella – Nina 
Murilo Benício - Tufão
Adriana Esteves – Carminha 

Cauã Reymond – Jorginho 
Heloisa Perissé - Monalisa 
Isis Valverde – Suéllen   

Marcelo Novaes – Max  
Vera Holtz – Lucinda


Saiba Mais sobre o enredo na novela>> Vai lá*