Com ares de Melancolia, comédia romântica aposta no
sentimental com mesclas de tom cômico e acerta o alvo, num filme gostoso, mas
que poderia ser mais interessante.
Em sua estreia na direção Lorene Scafaria nos presenteia com
um filme leve, de humor agridoce, com características que o fazem assemelhar-se
com Melancolia, filme de 2011 do diretor dinamarquês Lars Von Trier.
Mas calma, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra
coisa. Enquanto melancolia pega pesado em dramas existenciais, com uma
perfeição visual, quase orquestrada em tela, com firmeza, num drama perturbador
e denso, “Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo", não assume tal pretensão, mas
nos entrega uma película semelhante no que diz respeito à “espera pelo fim”.
A premissa é simples e peculiar: Um meteoro- Matilda - está
em rota de colisão com a Terra, e a última missão humana enviada para desviá-lo
falha em sua tentativa. Não há mais saída: em três semanas, o mundo vai acabar.
Algumas pessoas aproveitam os últimos dias de vida para beberem e fazerem sexo
sem compromisso; outras se rebelam pelas ruas e começam a destruir os carros e
os comércios. Além delas, existe Dodge (Steve Carell), corretor solitário que
acaba de ser abandonado pela esposa, e Penny (Keira Knightley), sua vizinha
triste, que nunca teve um namoro satisfatório. Juntos, eles decidem percorrer o
país para reencontrarem suas famílias e seus amores de juventude antes que seja
tarde demais.
Porem, o filme nos entrega uma divertida narrativa, repleta
de boas piadas e irônicas observações.
O roteiro assinado pela própria Scafaria constrói um mundo
normal, sem imagens deslumbrantes e inóspitas de destruição, no qual o foco
esta justamente na maneira que cada personagem escolhe lidar com tal fim.
É o ex-namorado que quer repovoar a humanidade, são os
trabalhadores e a empregada domestica que fingem que nada demais esta acontecendo,
são os homens solteiros de meia idade aproveitando tal oportunidade para
viverem sem medo de consequências tudo que sempre quiseram, são os suicidas que
resolvem dar cabo de si mesmo antes do fim.
Vemos famílias em crise, ou se unindo ainda mais.
Personagens em busca de redenção e perdão, em processo de recuperar tempos há
tempos perdido. Nisso drogas, sexo sem proteção, roubos e crimes diversos, vão
surgindo aqui e ali, naturalmente. Mas tais atos, tais fatos não são destaque.
Estão ali apenas para dar certa “verossimilhança” talvez, enquanto o foco é a
descoberta em si mesmos dos protagonistas. O erro!
O tom minimalista alcança absurdos graus de falta de arco dramático que sustente o enredo. O espectador não se entrega totalmente ao filme, é como se os personagens estivessem aquém de seu ambiente. Tudo soa artificial, justamente pela insistência em torna-lo leve, num tema que não foi pensado para ser leve. O humor aqui entra como osmose, não tem real significado.
Mas tal qual seu enredo, ora profundo e ora artificial, é inegável o poder de deslumbramento que o filme possui, justamente por ir contra a maré justamente artificial em que vivemos no cinema.
É cada vez mais comum nos depararmos com filmes que versam sobre o fim da raça humana e sua busca por redenção, num reflexo moral. Nisso, entram dramas complexos ou cenários apocalípticos de terror, que utilizam-se da tecnologia de ponta para contar suas historias alarmistas e urgentes. Aqui não, aqui vemos um filme humano, simples mas principalmente físico onde o cenário natural, onde roupas normais, onde não ha um minimo de efeito especial, ou computação gráfica para servir de alicerce. A força do filme esta em seus personagens e em sua busca. E isso lhe dá todo o credito para se tornar, ironicamente aceitável.
O tom minimalista alcança absurdos graus de falta de arco dramático que sustente o enredo. O espectador não se entrega totalmente ao filme, é como se os personagens estivessem aquém de seu ambiente. Tudo soa artificial, justamente pela insistência em torna-lo leve, num tema que não foi pensado para ser leve. O humor aqui entra como osmose, não tem real significado.
Mas tal qual seu enredo, ora profundo e ora artificial, é inegável o poder de deslumbramento que o filme possui, justamente por ir contra a maré justamente artificial em que vivemos no cinema.
É cada vez mais comum nos depararmos com filmes que versam sobre o fim da raça humana e sua busca por redenção, num reflexo moral. Nisso, entram dramas complexos ou cenários apocalípticos de terror, que utilizam-se da tecnologia de ponta para contar suas historias alarmistas e urgentes. Aqui não, aqui vemos um filme humano, simples mas principalmente físico onde o cenário natural, onde roupas normais, onde não ha um minimo de efeito especial, ou computação gráfica para servir de alicerce. A força do filme esta em seus personagens e em sua busca. E isso lhe dá todo o credito para se tornar, ironicamente aceitável.
Keira Knightley esta deslumbrante e irreconhecível com seus
cabelos curtos e descuidados, no papel de Penny, uma garota solitária que neste
fim do mundo quer apenas morrer ao lado da família, deixando para trás todo o
fracasso sentimental e amoroso que a assolou durante toda a vida. E é tocante o
modo que ela nutre uma paixão intensa por seus discos de vinil. Única preocupação
que tem- proteger e manter seguro seus discos. Nisso entra a trilha sonora
totalmente nostálgica e simpática que vai desde Radiohead a Samba-rock.
Steve Carell surge aqui como Dodge, um acanhado corretor de
seguros, que tenta manter o controle sobre si mesmo após ser abandonado pela
esposa. Ele tenta levar uma vida corriqueira, apenas a espera do fim. Sozinho
ele vê em Penny, uma igual, mesmo com todas as brutais diferenças de personalidade
de ambos.
O filme carrega ainda características de Road Movie, no qual
cada personagem, cada parada na estrada representa uma evolução a mais aos protagonistas,
mudando-os.
Com um cunho altamente romântico, que beira ao leite
condensado com açúcar de tão doce e meloso em algumas partes, o filme consegue
encontrar em seu clímax, mesmo que ainda melodramático, um final satisfatório, poético
e tocante.
O tempo aqui assume um papel especial. É comum ouvirmos dialogos que versem sobre o tempo que resta, o tempo perdido, o tempo vivido. Penny representa essa mescla de tempos, ao amar vinis antigos, ao usar um vestido surrado antigo, mas manter uma posição comportamental atual e evoluída. Dodge em contra partida, é o cara de meia idade, que vive uma vida regrada, de bons costumes, correta, mas que expressa em suas roupas e jovialidade, uma alma jovem e contemporânea.
O tempo aqui assume um papel especial. É comum ouvirmos dialogos que versem sobre o tempo que resta, o tempo perdido, o tempo vivido. Penny representa essa mescla de tempos, ao amar vinis antigos, ao usar um vestido surrado antigo, mas manter uma posição comportamental atual e evoluída. Dodge em contra partida, é o cara de meia idade, que vive uma vida regrada, de bons costumes, correta, mas que expressa em suas roupas e jovialidade, uma alma jovem e contemporânea.
É impossível não simpatizar com a química evidente de Keira
e Steve em tela, e com a historia, a busca de seus personagens.
Entre tanto, a sensação que fica é que o filme poderia ser
mais. Ir além, ser mais audacioso. Onde havia um leque vasto de possibilidades
para ser trabalhado, o filme estagna, em mostrar apenas o lado romântico da
narrativa. Apesar de toda essa premissa interessante, onde cada ser humano
demonstra tudo àquilo que esta intrínseca em si, numa mescla de extinto e
complexidades sentimentais e emocionais em vista do fim de tudo, o filme acaba
não indo alem de mais uma comedia romântica. Mas interessante mesmo assim.
Não, não é Melancolia; é Romance cômico, mas nem por isso
deixa de ser tocante e profundo a sua maneira.
Decepciona apenas por escolher o obvio, o mais fácil, o
simples, num enredo construído para ser ousado, rebuscado e complexo. Atores
excelentes tem ótima noção de construção narrativa e de cenas, também. O que
falta? Um pouco de sal, onde o açúcar transbordou demais.
Longe de ser um grande filme, o filme se limita a ser
regular com ótimos momentos, mas para o gênero a que se propôs encaixar e tendo
em vista ser uma realização de uma iniciante na direção, Procura-se um Amigo Para o fim do Mundo pode considerar-se sortudo, pois deve encontrar bastantes
candidatos a ocupar o que procura.
Ficha técnica
Titulo original: Seeking a Friend for the End of the World
País: EUA/Singapura/Malásia/Indonésia
Ano: 2012
Direção/roteiro: Lorene Scafaria.
Elenco: Steve Carell, Keira Knightley, Nancy Carell,
Connie Britton, Mark Moses, Martin Sheen, William Pettersen.