“Me vê uma
cachaça. Serve aí.
O que é que foi, nunca viu uma mulher bebendo?
Preciso muito de um trago pra lamber o chão. Fui muito idiota mesmo.
A vida é um lixo.
Não existe justiça, não existe lealdade, amor... Amor?
Balela.
Invenção de livro, de filme, novela...
Sabe pra que? Pra fazer ó (dinheiro)...
O ser humano é uma coisa que deu errado.
Deus? Deus fez errado. Errou!
Essa mania, foi querer criar o mundo em seis dias...
Coisa de homem mesmo, lambão! Lambão!
Tinha que dar errado.
Que droga de vida é essa?
Pra que a gente vive? Pra esperar a hora de morrer?
O que é que vale a vida? Nada! Nada!
Ei, você, me recolhe aqui. Eu sou igual a isso aí que vocês estão recolhendo.
Um bando de porcaria estragada. Estou assim bem vestida mas vim do lixo.
E fui jogada no lixo de novo.
Estou de volta no lixo. Meu lugar é o lixo.
Toca pro inferno, motorista. "
O que é que foi, nunca viu uma mulher bebendo?
Preciso muito de um trago pra lamber o chão. Fui muito idiota mesmo.
A vida é um lixo.
Não existe justiça, não existe lealdade, amor... Amor?
Balela.
Invenção de livro, de filme, novela...
Sabe pra que? Pra fazer ó (dinheiro)...
O ser humano é uma coisa que deu errado.
Deus? Deus fez errado. Errou!
Essa mania, foi querer criar o mundo em seis dias...
Coisa de homem mesmo, lambão! Lambão!
Tinha que dar errado.
Que droga de vida é essa?
Pra que a gente vive? Pra esperar a hora de morrer?
O que é que vale a vida? Nada! Nada!
Ei, você, me recolhe aqui. Eu sou igual a isso aí que vocês estão recolhendo.
Um bando de porcaria estragada. Estou assim bem vestida mas vim do lixo.
E fui jogada no lixo de novo.
Estou de volta no lixo. Meu lugar é o lixo.
Toca pro inferno, motorista. "
Poderia ser apenas mais um texto brilhante e pesado de alguma
literatura qualquer, que nos toca pela identificação e consciência instigada a
cada frase e cada parágrafo. Se não fosse o fato, desse texto na realidade ser
um monologo de uma personagem – vilã- da teledramaturgia. No caso, brasileira,
e se tratando de uma novela.
Tal monologo foi declamado e apresentado ao publico, em horário
nobre, na ultima quarta feira dia 8 de agosto.
A novela? Avenida Brasil.
Com 11 anos de idade, a menina Rita sofre um duro golpe, que
deixará marcas para o resto de sua vida.
Órfã de mãe, ela foi criada por seu pai Genésio (Tony Ramos)
e pela megera madrasta, Carminha (Adriana Esteves), que consegue, após a morte
de Genésio, roubar a casa, a família e os sonhos da enteada. Porém, mesmo com a
vida sofrida, Rita não fraqueja e mantém viva a sede por um acerto de contas.
Em busca de justiça, a garota deixa seu triste passado para
trás e se transforma em Nina (Débora Falabella), uma mulher firme e preparada
para as surpresas da vida.
Avenida Brasil é uma novela de João Emanuel Carneiro, com direção de
núcleo de Ricardo Waddington. (fonte: "Na Telinha")*
Avenida Brasil, tem estado entre todos os tópicos e
discussões de mesas de bar e mesas de jantar familiares, como qualquer outra
novela global, semestre após semestre. Mas o que vem chamando a atenção não é
sua trama repleta de vingança e dualidade, nem mesmo sua trilha sonora duvidosa
ou seu elenco comum – que aproxima o telespectador à trama. Não. O que chama a
atenção em Avenida Brasil é justamente sua produção.
A novela tem ares cinematográficos que colocam em check tudo
o que já foi feito e mostrado pela própria emissora, inclusive em termos de
series e minisséries. Há um cuidado “anormal” em figurino, figuração,
iluminação, fotografia, enquadramentos e principalmente em construção de
personagens e roteiro.
Não que seja perfeito, alias muito pelo contrario. Conforme
os capítulos avançam nos deparamos com a incapacidade obvia e compreensível dos
autores de sustentarem a trama a um enredo verossímil aceitável, uma vez que
abusaram na velocidade sempre em tom de urgência - a La capítulos finais - no inicio de tudo. Isso faz com que se esgotem
os chamados “encher linguiça”. Assim o que se foca é em tramas do núcleo de
apoio que só faz divertir e se torna muito pouco interessante diante de todo o
drama – exclusivo – causado pela trama central Nina versus Carminha e suas
vinganças.
A verossimilhança tão bem executada no inicio da novela esta
se perdendo, ao passo que o folhetim ganha status de ficção Tarantinesca.
O que impressiona mesmo é a capacidade que os autores tiveram
em construir duas personagens centrais tão ambíguas e tão carregadas de traços psicológicos
e emocionais instáveis. Nina e Carminha se confundem em seus papeis.
Não há como definir quem é a vilã e quem é a mocinha da trama.
Cada qual teve e tem sua parcela de vilania e sua parcela de vitima na
historia. Uma historia que se cruza e escurece com segredos e loucuras, que
colocam a razão do embate entre as duas em check.
Ambas se assemelham muito, nos gostos, trejeitos e ate na
forma de falar e agir. Os físicos das duas também se emparelham, bem como suas
ações. Contudo – e aqui é analise pessoal – é interessante constatar como o ódio
entre as duas parece dar vazão a um amor, ou apego avesso.
Não é raro, por exemplo, as duas trocarem toques que beiram a
sexualidade. Ou mesmo as maldades de ambas que chegam ao limite da loucura e da
perversão, enfraquecerem diante da possibilidade de real ferimento físico. Uma
cena em questão – que foi ao ar ontem também – em que Max (amante de ambas)
empurra Carminha e esta se fere contra a porta aberta. Ao ver que Carminha sangra
a câmera nos mostra muito rapidamente o olhar e expressão de Nina, que se antes
demonstrava satisfação pelo descontrole da rival, se mostra agora um pouco
preocupada com o ferimento.
De fato, a construção psicológica e emocional de ambas é algo
extremo e muito bem delimitado, o que instiga o publico.
Mas o ponto alto se deu mesmo na cena final do capitulo de
ontem.
Carminha após sofrer um acidente de carro, anda a esmo pela
cidade, devastada e com a face ensanguentada, a beira do abismo, totalmente
desequilibrada e arrasada. Para num bar de rua, e pede uma cachaça. E é então que
se põe a declamar o texto que iniciou esse texto.
Ela sai de seu carro destruído, e caminha em uma rua,
emparelhada com um “muro” de arames farpados (a psicanálise pira).
Então algo acontece. Um surto de inspiração da produção da
novela, e que nos traz um clássico contemporâneo da teledramaturgia brasileira,
numa cena histórica e memorável em varias escalas:
Atuação impar de Adriana Esteves, repleta de dramaticidade,
de peso, de entrega no olhar, na impostação de voz, nas alterações faciais.
Numa mescla entre atriz e persona sem igual ate então na trama, imortalizando-a
com certeza apenas por essa cena, como Carminha.
A câmera a todo o momento tremida, focando e desfocando
alias, sempre em plano semi fechado no rosto da personagem, nos fazendo
participar da cena. Como se estivéssemos ali, tomando um porre – pago por ela- e
olhando em seus olhos sua decadência e raiva pela vida falha.
A trilha abandona o tom de ação e passa por notas melancólicas,
cada vez mais intensas, mas sutis.
E o texto se complementa as metáforas da cena, desde a rica
no bar de rua e a cachaça barata, ate suas roupas e visual impecável, mas com
sangue seco na face.
Ate o gozo final que inspira tal texto, com toda sua historia
e trama,a referencia do texto ao lixo, e o carro de lixo a levando diretamente
para seu inferno, seu lar, o lixão – os restos humanos descartáveis, sem possibilidade
de mudanças, sujos, fétidos, tais quais sua vida falha, cansada e acabada-. É um
deleite para amantes assim como eu de tais textos.
Não sou noveleiro, alias como disse vejo falhas intermináveis
na novela, mas de fato, não há como negar, Rede Globo pode ser um câncer de mídia
ao publico, mas que essa novela esta fazendo um belo Oi Oi Oi na historia da
nossa televisão, isso ela esta. De fato é de aplaudir de pé e degustar a obra
entregue.
No mais, melhor somente assistirmos, pois provavelmente Freud deve estar se revirando em sua imortalidade querendo bater um papinho com alguns residentes de Avenida Brasil. E com isso nem eu e nem Nina podemos competir.
No mais, melhor somente assistirmos, pois provavelmente Freud deve estar se revirando em sua imortalidade querendo bater um papinho com alguns residentes de Avenida Brasil. E com isso nem eu e nem Nina podemos competir.
Assista o monologo final em questão(e se puder confira o episodio completo) : Clique Aqui
Ficha Técnica
Criação: Marcos Pedrosa; Andre Regnier; Eduardo de
Castro
Direção de Criação: MP
Direção: Marcelo Presotto
Produtora: 111
Prod Som: Jamute
Elenco:
Débora Falabella –
Nina
Murilo Benício -
Tufão
Adriana Esteves –
Carminha
Cauã Reymond – Jorginho
Heloisa Perissé - Monalisa
Isis Valverde –
Suéllen
Marcelo Novaes – Max
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