O ex-diretor de cinema Sungjoon vai a Seul e tenta em vão
encontrar seu amigo que mora no bairro de Bukchon. Andando pela redondeza, ele
encontra por acaso uma atriz que ele conhecia. Os dois conversam por um tempo e
logo vão embora. Num bar de Insadong, Seongjun bebe makgeolli (vinho de arroz)
e alguns estudantes de cinema o chamam para sua mesa. Bêbado, ele se dirige ao
apartamento da antiga namorada. No dia seguinte ou em qualquer outro dia,
Sungjoon ainda está perambulando por Bukchon.
Essa sinopse pode parecer um tanto o quanto imprecisa ou
mesmo confusa. Mas não é o caso.
Com direção de Sang-soo Hong , The Day He Arrives ( O Dia em Que Ele Chegar) segue a linha de trabalho do diretor e trás um filme que se cria a
partir das repetições, das possibilidades diversas de um mesmo fato ou momento.
Assim como o diretor nos mostrou no seu ótimo "In
Another Country"; aqui, o acaso dos fatos dá vazão a uma serie de
repetições que nos mostram como uma possibilidade pode mudar totalmente as
percepções das coisas e consequentemente a conclusão delas.
Em "The Day He Arrives" seguimos a mesma linha que
parece permear o trabalho do diretor, que é o das repetições. Os mesmo atores
interpretando diversas maneiras de um mesmo fato ocorrer.
Contando com atuações corretas, nada surpreendentes, o filme
possui uma narrativa coesa e linear apesar da estrutura ir e voltar no espaço e
no tempo das ações.
É como se estivéssemos diante de um looping, onde ao final do
dia, tudo voltasse a acontecer. Porem não da mesma maneira, por uma conversa
diferente apenas. Ou por uma pessoa diferente que se encontrou. Um mesmo dia
adquire diversas conotações.
Há uma sequencia muito interessante onde alguns personagens
se revezam entre as repetições e situações em que eles se encontram num bar a
noite para beber algumas garrafas de cerveja e um deles tocar piano. O que chama
a atenção é a escolha do diretor em manter as garrafas vazias consumidas pelos
personagens mesmo nas outras repetições seguintes. Apesar de serem outras
situações paralelas que de nada tem haver com as anteriores- são repetições
isoladas, é como se cada situação fosse uma "possibilidade" de
"e se ocorresse assim?" Então o enredo volta sempre nos mesmos locais
mas com outro desenvolvimento.
Para quem assistiu "Memento" vai ficar um pouco
mais fácil de entender. A ideia primaria é parecida, Mas aqui é mais
incisiva- . Porque em “Memento”, as repetições se dão na mente do protagonista
que é incapaz de reter na memória mais que um dia – algo visto também na comedia
romântica “Como se fosse a primeira vez”- porem aqui, as repetições se dão em
toda a trama – algo visto também em “Feitiço do tempo”-. Mas não existe volta
de fato. É como se o filme fosse um retalho montado de vários cortes e versões
de um mesmo roteiro.
O diretor escolheu deixar nesta sequencia, contudo, as
garrafas seguirem as narrativas independentes das anteriores, contando quantas
repetições houve. Se antes havia apenas quatro garrafas, ao final, na ultima
sequencia, já são quase dez garrafas vazias independente de quantos personagens
estão em cena. Isso é brilhante.
O filme ainda tem uma fotografia toda em preto e branco com
umas texturas granuladas e raros momentos saturados muito bem captados.
Porem mesmo que seja interessante essas repetições, aqui,
diferentemente de seu outro filme “In Another Country”, a edição do filme peca
um pouco ao não delimitar direito as passagens de uma repetição para outra. Quando
enfim surge a suspeita de que estamos diante de mais uma repetição, a sequencia
já avançou para uma próxima. Isso confunde um pouco e prejudica a narrativa. Uma
vez que não há tempo para estabelecer coerência. Isso dentro do contexto, da
proposta do filme é ate mesmo ilógico. Isso causa extrema confusão
principalmente em quem não esta habituado a essa característica do diretor.
O filme ainda possui uma excelente trilha sonora,
instrumental que vão compondo as cenas de maneira gradual.
É um bom filme; que pode confundir sim, mas que promove uma
reflexão acerca dos acasos e coincidências bem interessante e de maneira
inventiva.
Um filme simples, mas que vale a pena.
Trailer
Diretor: Sang-soo Hong
Roteirista : Sang-soo Hong
Elenco: Jun-Sang Yu, Sang
Jung Kim, Bo-kyung Kim ,Seon-mi Song
Fotografia: Hyung-ku Kim
2 comentários:
Esse poster que você colocou no início da resenha é tão lindo. Os pôsteres desse filme são tão minimalistas, mas ao mesmo tempo tão incríveis.
Eu adoro esse filme, ele é cotidianamente interessante. Para cada ação há uma reação, mas se a ação for diferente, a reação também pode ser.
A fotografia em preto e branco também é linda. Eu sou suspeita a falar, adoro filmes atuais filmados em preto e branco, dá aquele tom de cinema cult, muito legal!
Ótima crítica, fico feliz que tenha gostado da indicação. Enfim, só tem um errinho no nome traduzido do filme, The Day He Arrives seria O Dia Em que Ele Chegar.
agora q vi o "não" indevidamente colocado ali hahaha valeu Le! ^^ como sempre *_*
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