Produzido pelos irmãos Ridley e Tony Scott, e dirigido pelo
mesmo diretor de O Ultimo Rei da Escócia, Kevin Macdonald, “A Vida em Um dia” é
um experimento que tinha tudo para não ser nada alem de algo interessante, mas
que conseguiu ir além, e se tornar um filme surpreendentemente coeso.
O projeto consistia em pedir para varias pessoas ao redor do
mundo enviar vídeos de um único dia - 24 de julho de 2010 – em suas vidas. Só
isso.
A partir disso, os cineastas se proporiam a receber todos os vídeos,
em que formato e em qual duração fosse, e compilar tudo num único documentário.
Apesar dessa premissa demonstrar uma ousadia enorme, mas sem
muitas esperanças de ser nada alem de uma sucessão de imagens dispersas em
tela, o que o filme consegue fazer é criar não só uma narrativa eficaz, como
elaborar uma técnica de enredo e estrutura invejável e impressionante.
A começar pela fotografia que é lindíssima e bem trabalhada
ao nos colocar diante de cada país e cultura de acordo com as cores tratadas em
tela. Se levarmos em conta que estamos falando de mais de 192 países em
diversos vídeos com mais de 4.200 horas de gravações com qualidades que vão
desde uma super câmera profissional ate a câmera de um celular, e tudo isso
conseguir ser saturado num único tom é admirável. A fotografia segue uma linha lógica
de acordo com o que é mostrado em tela, compreendendo a cultura que esta sendo
mostrada e principalmente o tempo.
O filme é dividido em três atos (a principio tem se a
sensação de que são apenas dois, pela ausência de clímax). Por vezes o ar documental dá vazão a uma
estrutura fílmica quase ficcional que contribuem de maneira eficaz a trama, não
deixando o longa disperso.
Durante pouco mais de uma hora e meia, somos levados durante
um dia inteiro na vida de varias pessoas diferentes ao redor do mundo mas que
se assemelham como qualquer ser humano. Ha culturas, dialetos, costumes,
sentimentos, medos e vitorias todos incluídos num único contexto com N
interpretações. Bonito de se ver e impressionante de se constatar quanta
diversidade existe no mundo ao redor independente do nosso, da nossa casa. Como
ainda existem culturas que aos nossos olhos podem parecer injustas ou atrasadas
mas que se revelam nada mais do que uma historia própria.
Do segundo ato em diante, quando começam os depoimentos em
uma edição rápida e com cortes secos, onde um casal sem falar, fazem perguntas
através de cartazes, e numa montagem recorrente vão se obtendo respostas às
perguntas, como:
“O que é amor para você? "
"O que você mais ama?" –
trazendo a
tona reflexões e pensamentos interessantes.
Alguns textos ali arrebatam e faz o espectador refletir. Surgem
inclusive teorias interessantes sociologicamente falando. Nisso o longa cria
um paralelo entre a ficção e o real que aproxima e dialogo diretamente com o espectador
que se reconhece em tela e mais ainda, se descobre.
Há um pai que desmaia ao ver o parto do filho, há um rapaz
apaixonado pela melhor amiga tentando reunir coragem para se declarar, há um
jovem atleta que vive uma vida desregrada com pequenos furtos, há um pai
solteiro que cuida de seu filho num cubículo e reza para a esposa falecida
todas as manhãs, há o garoto que se barbeia pela primeira vez, há o jovem que
espia uma estranha bela pela janela do metro sem ela saber, há o nascimento de
uma girafa e o sacrifício de um animal, há os sonhos de um camponês e a
destruição da vida de um empresário, há a pobreza, há o neto criando coragem
para revelar sua sexualidade, há o respeito a cultura de um povo, há um pedido
de casamento e a filosofia de uma jovem em um carro escuro, no fim do dia.
É realmente um primor o que conseguiram fazer com retalhos
de vídeos e diversas narrativas numa única unidade fílmica. Tornando o documentário
coerente. Isso é claro é resultado de uma montagem eficaz e inteligente, e de uma edição perspicaz e criativa.
Conseguir criar um enredo, trama e narrativa independente
não é fácil, nem mesmo em projetos ficcionais com planejamento; e conseguir
isso através de um projeto experimental que tinha tudo para dar errado, é mais
impressionante ainda.
O que se obtém é um documentário fomentado e que
definitivamente não é apenas mais um.
Um filme que possui uma experiência que se mostrou eficaz.
Assim, A Vida em Um Dia vale bela beleza e crueza que nos
proporciona, numa visão que transcende os estúdios cinematográficos e cria um
filme do mundo, sobre si mesmo.
*O Longa pode ser visualizado gratuitamente na própria pagina do projeto no Youtube. >> life in a day << Através do recurso "CC" ligado no player é possível visualizar com legendas em Português, porém o melhor é obter o longa devidamente legendado, já que esse recurso as vezes apresenta falhas.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Kevin Macdonald
Elenco: Cindy Baer, Caryn Waechter, Hiroaki Aikawa, Bob
Liginski Jr., Drake Shannon, Ashley Meeks, David Jacques, Cec Marquez, Arsen
Grigoryan, Christopher Brian Heerdt, Ester Brymova, Boris Grishkevich, Jaap
Dijkstra, Ranja Kamal, Teagan Bentley, Shahin Najafipour, Jaap Dijkstra, Shir
Decker, Lilit Movsisyan, Ayman El Gazwy, Catherine Liginski, Jane Haubrich,
Fredeik Boje Mortensen, Ildikó Zöldi, Amelie Sara Kukucska, Cristina
Bocchialini.
Produção: Ann Lynch
Fotografia: Soma Helmi
Trilha
Sonora: Harry Gregson-Williams, Matthew Herbert
Duração: 95 min.
Ano: 2011
País: EUA
Gênero: Documentário
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