Érika (Nathalia Dill), talentosa DJ, conhece Nando (Luca
Bianchi) por meio de sua melhor amiga Lara (Lívia de Bueno) em um festival de
música eletrônica, no qual os três vivem intensos momentos. Mas o destino os
separa. Anos depois, Nando e Érika se reencontram em Amsterdã e se apaixonam,
mas somente Érika sabe o que aconteceu naquela noite que marcou a vida dos três
para sempre. O reencontro do jovem casal irá transformar novamente suas vidas.
Filmes retratando o mundo das drogas não é novidade no
cinema. Filmes ícones de uma geração como Transpotting ou mesmo Réquiem, são
exemplos eficientes desse tema.
Paraísos Artificiais do diretor Marcos Prado; como seu próprio
nome sugere, retrata um universo de imersão as drogas de maneira elucidativa.
Amparado por uma cuidadosa fotografia orquestrada brilhantemente
por Lula Carvalho, repleta de tons claros e vibrantes, paleta de cores intensas
que explodem literalmente na tela, o filme carrega em toda a sua projeção a
alusão de que estamos diante de um verdadeiro paraíso, a beleza plastica é notável. É interessante ver por exemplo como a fotografia impregna tons secos e mais escuros, voltados pro azul e branco quando estamos em Amsterdã, e como ele volta para o multifacetada paleta de cores de Pernambuco, com mais brilho e iluminação forte, e como volta da mesma maneira para o interlúdio de passagem de tempo no Rio de Janeiro, já com cores mais brandas, carregadas em tons alaranjados. A noite assume a cor azul, dando mais vazão a sensação de entorpecimento.
Luzes neon, sons
viscerais e catárticos, tudo confere a produção um esmero sensacional de
tecnicalidade.
Planos e enquadramentos eficientes compõe boa parte da
projeção, e que aqui assumem o papel de transpor ao espectador as sensações de fascínio
e confusão proeminentes do uso das drogas. - vide cena em que se mostra uma
grande Rave a céu aberto. Extremamente eficiente à montagem paralela usada e os
planos abertos, com cenas contendo uma velocidade quase nauseante.
Com uma montagem eficiente que auxilia na não linearidade de
seu roteiro, o longa ainda conta com atuações primorosas, e concepções de cena lindíssimas,
como quando nos leva ao ambiente urbano e frio de Amsterdã, ou as praias paradisíacas
de Pernambuco.
Ainda consegue acertar numa edição coesa e impecável que
confere naturalidade as cenas exibidas. Tudo em cena, flui organicamente.
Mas o problema esta justamente, novamente, no que seu titulo
denuncia. Os personagens são artificiais demais. o filme jamais mergulha de fato no submundo proposto.
E isso não é demérito dos atores não, que muito pelo
contrario exercem seus papeis com maestria. O problema esta na construção de
personalidade dos personagens, lá no roteiro.
Apesar de o enredo ser interessante, a narrativa não conter
muitas falhas, talvez pecar demais nas elipses de tempo, que são desnecessárias
em certo ponto, o filme carrega uma ode de superficialidade nas escolhas e
motivações internas de seus personagens centrais.
Não há a abertura do mínimo de envolvimento de apego com
Nando. Chega a ser dispensavel a subtrama do irmão de nando e mesmo seu envolvimento com os traficantes. Mesmo Érika que é a mais coerente ali, não consegue transmitir força de
temperamento e ideologias, mesmo emocionais que justifiquem seus atos, e seus
dramas. Uma mãe que tenta ganhar a vida como DJ e vê as drogas como porta e machado de sua vida. É tudo muito vazio, muito raso. Tudo soa – por falta de expressão
melhor – teatral demais. Não convence. É como se os personagens não merecessem
o filme a que estão inseridos.
O primor dos filmes com tal tema é justamente demonstrar a
densidade que o mundo das drogas possui. E veja que aqui nem falo de
julgamentos morais não. O que alias é um ponto alto para Paraísos Artificiais. Que
se limita a simplesmente apresentar e mostrar tal mundo, tais escolhas sem
nunca julgar, ou pender a narrativa descriminando ou fazendo apologia ao uso.
Ainda assim o filme se sustenta por conter mais acertos do
que falhas. E é interessantíssimo constatar a evolução imagética do cinema
nacional com Paraísos Artificiais. Muitos taxam essa mudança – evolução – como uma
forma pejorativa de perda de identidade visual nacional. Besteira em minha
opinião. Cada filme necessita de uma abordagem e um tratamento estético próprio,
independente do país e cultura de origem.
Dito isso, Paraísos Artificiais é um grande filme,
tecnicamente infalível, coeso, interessante, ousado e gostoso de assistir.
Mas poderia ir alem. Muito alem.
FICHA TÉCNICA:
Diretor: Marcos Prado
Elenco: Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno,
Bernardo Melo Barreto, César Cardadeiro, Divana Brandão, Cadu Fávero, Erom
Cordeiro, Roney Villela, Emilio Orciollo Netto, Mathias Gottfried, Yan Cassali.
Produção: José Padilha, Marcos Prado
Roteiro: Cristiano Gualda, Pablo Padilla, Marcos Prado
Fotografia: Lula Carvalho
Trilha Sonora: Rodrigo Coelho, Gustavo M M
Duração: 96 min.
Ano: 2012
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
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