Annie (Liana Liberato) tem 13 anos de idade, gosta de jogar vôlei
e esta sempre conectada na internet. Principalmente os chats de bate papo on
line, onde ela mantém um relacionamento amigável de pré-romance com Charlie, um
garoto de 15 anos de idade, de outra cidade.
No seu aniversario de 14 anos, seus pais, Will (Clive Owen)
e Lynn (Catherine Keener) resolvem lhe presentear com um computador novo. Certo dia, Annie resolve marcar um encontro para conhecer
finalmente Charlie. Mas o encontro irá mudar sua vida e de toda a família para
sempre.
Com direção de David Schwimmer – o eterno Dr. Ross Geller da
serie Friends -, Trust (que recebeu o titulo de Confiar aqui no Brasil) é um drama de angustia psicológica e emocional, mas
antes de tudo de alerta.
Ao nos deparamos com Annie e sua família, vemos uma menina
que esta florescendo numa jovem inteligente, sensível e cheia de autoconfiança.
Com apenas 14 anos de idade, ela ainda guarda ares de pureza e inocência infantil.
Não por acaso, quando conhece Charlie (Chris Henry Coffey)
através de um chat para adolescentes na Internet, é que ela começa a ficar a par
de sua sexualidade. Uma sexualidade voltada totalmente para Charlie, um jovem
bonito de 15 anos de idade.
E é quando finalmente decidem se conhecer pessoalmente num
passeio pelo shopping da cidade, que o filme nos mergulha numa crescente
desenfreada de tensão e angustia.
Quando Annie, finalmente conhece Charlie, descobre que ele
na realidade é um homem de 30 anos de idade. Inteligente como é, Annie logo se
coloca em estado de alerta, mas como a adolescente apaixonada que também é se
deixa levar pelas palavras calorosas e confiantes de Charlie, e acaba por ser
molestada pelo mesmo num quarto de hotel.
Apartir daí um turbilhão de emoções vem à tona, tanto de
Annie que se sente confusa, quanto de seus pais.
Schwimmer, contando com um roteiro excepcionalmente bem
escrito, traça uma narrativa densa, repleta de dramas psicológicos e
emocionais. Ele imerge o telespectador numa crescente angustia ao mostrar a
devastação de Annie e de seus pais pelo ocorrido.
Will, que sempre fora um pai protetor e amoroso, se torna de
repente um justiceiro frio e inconsequente em busca do pervertido sexual que
molestara sua filha. E é tocante a interpretação de Owen, ao caracterizar esse
pai e seu sofrimento pelo amor que sente a filha. Mas não se enganem por essa premissa. Owen não assume o papel de vingador, com arma na mão explodindo tudo em perseguições de carros atras do molestador. O filme narra os esforços dessa família em se restabelecer e restaurar o elo de segurança e "normalidade" que possuíam antes dessa fatalidade.
Lynn, a mãe que desolada
tenta representar o papel de alicerce familiar, escondendo dos amigos o
ocorrido a pedido da filha, tentando em silencio controlar e dar apoio ao
marido e ao mesmo tempo tendo de lidar com o sofrimento da filha e o de si
mesma; papel esse que é sobriamente interpretado Keener .
Mas é Liana Liberato e sua Annie que carregam o filme. Com
uma atuação muito interessante, ela demonstra totalmente as confusões e receios
de uma garota confiante, mas com dramas comuns e sérios de uma adolescente. Confusa, desiludida, se sentindo invadida, usada, humilhada, socialmente destruida. A carga emocional que a atriz consegue transpor a tela sem pecar em momento algum a obviedade comum de se atirar em gritos e puxões de cabelo é fabuloso. (Uma
garota que promete bons papeis futuros.)
Trust antes de tudo é um filme educacional. O esmero com o
qual Schwimmer orquestra as cenas é admirável, desde montagens paralelas para
elucidar os acontecimentos, ate as sobreposições de imagem que mostram a
perturbação de Will pela violência que a filha sofreu, ate o bom gosto em
tratar a relação sexual ali cometida, de forma sugestiva e nunca escrachada.
Por vezes pode demonstrar uma falta de ousadia em transpor à tela aquela realidade dura e pesada, mas nota-se o cuidado e a consciência nessa escolha de sugerir, muito mais do que explicitar.
Contudo é curioso que nos EUA, o filme sofreu para conseguir ser liberado com uma classificação indicativa de idade inferior a 18 anos. Não conseguiu. E é estranho, uma vez que não ha cenas de nudez ou ato sexual, e mesmo a linguagem usada, quase não contem termos esdrúxulos.
Alias, é importante ressaltar o cunho sem distinção de
julgamento do enredo. Andy Bellin e Robert Festinger optaram por criar um roteiro
de alerta e que traça um panorama sobre o cenário de abusos sexuais a menores,
os perigos que a internet pode causar, mas sem, contudo ser pedante.
A vilã ali não é a internet, nem mostra pais prolixos, ou
uma jovem socialmente perturbada. Ele é frio ao mostrar que os perigos estão em
toda a parte, que da mesma maneira que não devemos confiar num estranho na rua,
não devemos confiar totalmente num estranho na internet. Ele sugere que a
internet é apenas uma extensão de nossa realidade física e como tal, os
cuidados com ela deve ser os mesmo. E nem sempre nos lembramos disso.
E nisso a estrutura do roteiro é eficaz ao apresentar uma verossimilhança crível a toda à trama, e englobar o mundo da puberdade com tamanha crueza, por vezes cruel e pesada sem cair nos fatídicos clichês – drogas, álcool – latentes nas produções do tipo.
Vale ressaltar ainda a escolha em traçar uma pequena intertextualidade entre o trabalho do pai Will com o ocorrido com Annie; ao mostrar Will trabalhando em alguns catálogos e projetos de ensaios fotograficos para uma marca de roupas que abusa da sexualidade para vender seus produtos.
Vale ressaltar ainda a escolha em traçar uma pequena intertextualidade entre o trabalho do pai Will com o ocorrido com Annie; ao mostrar Will trabalhando em alguns catálogos e projetos de ensaios fotograficos para uma marca de roupas que abusa da sexualidade para vender seus produtos.
Inclusive, o mais notável na narrativa é que a todo o momento, ficamos na duvida de como julgar tal caso. Sim, Annie é menor de idade, mas de certo modo, o que foi ali cometido por Charlie, não foi uma violência sexual, e sim um molestamento. O que não tira a seriedade de forma alguma.
Trust assim sugere debates diversos e intermináveis. E isso é plausível.
Como bem diz uma frase da Psicóloga de Annie, interpretada
pela sempre magnífica Viola Davis:
“o mundo é repleto de perigos. E cabe a nós pais, protegermos nossos filhos e oferecermos ajuda. Mas não podemos evitar suas quedas. O que podemos fazer é oferecer apoio e a mão, para ajuda-los quando caírem.”
Ao final, Trust ainda apresenta mais um trecho dessa
realidade que coloca-nos num alerta ainda mais amplo. Pode soar artificial, mas
dentro do enredo foi cabível a escolha.
Definitivamente Trust é um belo filme, que não se deixa
levar por clichês, que cumpre o papel de levar sua mensagem de forma eficiente
e que ainda encanta pela beleza e cuidado com o que nos conduz por esse cenário
pesado, repleto de tensão e dramaticidade.
Um filme que merece ser visto por todos, não somente
adolescentes, mas seus pais também.
Recomendo. Pode confiar!
FICHA
TÉCNICA
Diretor:
David Schwimmer
Elenco:
Clive Owen, Catherine Keener, Viola Davis, Liana Liberatz, Noah Emmerich, Jason
Clarke, Chris Henry Coffey, Brandon Molale, Nicole Forester, Garrett Ryan, Noah
Crawford
Produção:
Ed Cathell III, Dana Golomb, Robert Greenhut, Tom Hodges, Avi Lerner, Heidi Jo
Markel, David Schwimmer
Roteiro: Andy Bellin, Robert Festinger
Fotografia: Andrzej Sekula
Trilha Sonora: Nathan Larson
Duração: 105 min.
Ano: 2010
País: EUA
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