A Separação, filme ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2012, Ganhador do César (espécie de Oscar Francês) de Melhor Filme Estrangeiro do mesmo ano, alem de Vencer na mesma categoria o Globo de Ouro e Urso de Ouro e Prata no Festival de Berlim, do diretor Asghar Farhadi, é uma densa historia de demonstração de valores morais e éticos.
O Roteiro de Farhadim cria um arco dramático repleto de densidade
em seus diálogos sempre críticos e seu enredo problemático. É impressionante a
construção de narrativa criada por ele, que culmina num roteiro sempre em
progressão, coerente, coeso, extramente bem amarrado e decupado.
Irã. O casal Nader e Simin atravessam um denso conflito no casamento. Simin deseja sair do país atras de melhores oportunidades de bem estar de vida, mas Nader não
concorda em viajar e deixar o pai com Alzheimer sozinho. Decidida a deixar o pais Simin pede o divorcio para poder viajar com a filha. Nader a custo aceita, mas não concorda em abrir mão a guarda da filha. Isso gera uma disputa
pela guarda da adolescente.
Simin sai de casa e vai temporariamente morar com a mãe, deixando o marido sozinho com a filha - que decide permanecer em casa enquanto a justiça não se decide- e
o pai doente.
Nader, então, contrata a religiosa Razieh para cuidar de seu
pai durante as tardes, enquanto trabalha e a filha está na escola. Razieh, uma mulher devotada religiosamente e com uma filha pequena, logo de cara acha errado, ela uma mulher casada, trabalhar para um outro homem
casado sem a presença da esposa. Com o marido desempregado e afundado em
dívidas, ela contudo aceita o emprego, mas esconde a verdade do marido.
Um
acontecimento lamentável, no entanto, gera uma outra briga judicial, mas desta vez
envolvendo Nader, Razieh e seu marido.
Logo de inicio o filme inicia-se num plano fixo,
centralizado, mostrando marido e mulher diante de um juiz- raramente mostrado
em tela- acertando os tramites para a separação. É preciso dizer que no Irã,
uma mulher casada não pode viajar sem o marido.
Tudo isso nos é mostrado através de diálogos rápidos e que
soam muito naturais, percebemos que há conflitos não só de interesses entre o
casal.
O filme nos mostra todos os lados de um mesmo fato, sempre
de forma linear. O julgamento do que realmente aconteceu e do certo e errado
fica por conta do espectador. Em nenhum momento o filme nos induz a ficar do
lado de um personagem ou outro. Sem se perder em frieza, alias muito pelo
contrario, ele nos faz de Juízes diante daquela trama.
Isso já nos é mostrado desde o inicio naquele plano inicial
em que eficientemente somos postos no lugar do juiz. Vemos toda aquela cena do
ponto de vista dele.
Contando com uma bela fotografia urbana e uma direção de
arte eficaz, o filme ainda nos leva a questionamentos acerca dos costumes
daquele país, e propõe outra visão. Ali no filme é justamente a figura de
Nader, o homem da casa, que se apresenta mais centrada, justa. É ele que assume
a maior parte das responsabilidades de cuidado ao pai, é ele que parece ‘aparentemente’
mais devotado a filha, é ele que ensina e encoraja a filha valores de liberdade
e individualismo. Ensinamentos que encorajam a filha a pensar por si mesma e
fazer suas próprias escolhas.
Num país que quando consegue introduzir uma obra no
ocidente, vem carregada de questionamentos políticos, A Separação se mostra
eficaz ao deixar essas questões apenas como pano de fundo, soando assim mais orgânico
e natural. Muitas vezes esquecemos durante a projeção de que estamos diante de
um filme Iraniano e de uma ficção, de tão verossímil e instigante que a
projeção assume. é interessante como o filme consegue nos distanciar do esteriótipo ocidental criado, de que povos islâmicos vivem dramas apenas políticos e religiosos. O filme nos mostra que eles assim como nós também possuem seus próprios dramas familiares, afetivos e sociais. Somos mais parecidos do que imaginamos.
Em dado momento, é criado um intenso e gravíssimo conflito
entre a empregada e Nader, que perde a cabeça e empurra-a para fora de sua
casa.
Esse empurrão não só serve como fio condutor pelo resto da
projeção colocando seus personagens e suas vidas em um panorama de extrema
densidade e tensão; como empurra ou no caso puxa o espectador para a projeção
como nunca antes. Se antes assumíamos o papel de observador apenas, a partir desse ato nossa emersão é plana. O diretor nos leva num embate quase físico,
emocional e sentimental nos dramas ali em tela. É angustiante e paralisante.
Amparados por um excelente grupo de atores e um magnífico
trabalho de construção de personagens, A Separação chega a seu clímax, numa
cena elucidativa belíssima, num corredor de justiça milimetricamente dividido.
Beira a genialidade.
Alias devo destacar o brilhante e catártico trabalho de Peyman
Moaadi e seu Nader, que assume totalmente o papel proposto, dando uma
naturalidade e visceralidade tocante ao personagem.
O que posso dizer é que A Separação é um filme corajoso dado
o país de origem, inteligente, denso, que consegue ser criticamente político sem
trair a religiosidade e nem fazer apologia a mesma que o Irã tanto preza. Causa
uma identificação e fisga o espectador, mas se distancia de impor sua visão ao
espectador deixando a ele, a nós decidirmos sobre aquelas vidas e assim
refletirmos sobre as nossas também. E esse é o maior triunfo de A Separação.
Um filme excelente que vale muito ser conferido!
FICHA TÉCNICA
Diretor: Asghar Farhadi
Elenco: Leila Hatami, Peyman Moadi, Shahab Hosseini, Sareh
Bayat, Sarina Farhadi, Babak Karimi, Ali-Asghar Shahbazi, Shirin Yazdanbakhsh,
Kimia Hosseini, Merila Zarei, Hayedeh Safiyari
Produção: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Fotografia: Mahmoud Kalari
Duração: 123 min.
Ano: 2011
País: Irã
Gênero: Drama
Classificação: 12 anos
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