Pegue South Park, Os Simpsons, Family Guy varias pitadas de
humor negro, sarcasmo e ironia e bata no Liquidificador do Borat. Eis Ted. E
não é uma comparação irônica e ruim não. Muito pelo o contrario.
Antes de tudo
é preciso entender que Ted não é nem de longe um filme de humor ‘coxinha’. Seu
humor é peculiar, esta nas referencias literárias e de atualidade e inclusive
na trilha sonora. O próprio Ted em si - o urso de pelúcia- já é uma metáfora,
que aos olhos conservadores beira a algo satânico, tal qual a conclusão feita
no filme assim que ele “nasce”.
Filme do diretor Seth MacFarlane e criador da animação
televisiva Family Guy, Ted conta a historia do jovem garoto John Bennett (Mark
Wahlberg), uma criança que sofre um tipo de bullyng social desde cedo, solitário
com desvio de idade, e uma família aparentemente certinha. No natal, sua família
preocupada com sua solidão visível, lhe presenteia com um belo ursinho de pelúcia,
a quem John se apega rapidamente. Então John certa noite faz um pedido aos
céus: que seu urso criasse vida e se tornasse seu melhor amigo. E seu pedido é atendido.
Os dois crescem juntos e, já adulto, John que esta numa
relação amorosa de longa data com Lori Collins (Mila Kunis) deve escolher entre
ficar com sua namorada – que não aprova o relacionamento de dependência dele e
do urso - ou manter sua amizade com o urso Ted (Seth MacFarlane).
Filme delicioso.
Ted possui um roteiro extremamente bem escrito, com uma decupagem
fabulosa e que peca apenas ao carregar algumas características próprias da televisão que nem sempre funcionam no cinema. A narrativa assume um papel extremamente importante ao elucidar
tantas referencias cinematográficas, políticas, sociais, do esporte e do cenário de
atualidades pop global. Mas com foco americano claro.
Diálogos eficientes, ágeis e inteligentes somam-se a um
humor acido, irônico e imensamente sarcástico e com fio condutor sempre na
critica escrachada, escondida ou camuflada por humor que a primeira vista e
fora de contexto pode soar, como humor barato ou apelativo, mas que na realidade é um ode de veia critica.
E eles atiram para todos os lados; a igreja católica - o seu
lado conservador e intolerante; a igreja evangélica e seus estereótipos, a política
e a mídia globalizada (referencias a cantores pop’s, e atores da mídia) são
frequentes entre um dialogo e outro. Entre uma piada e outra ou ato cômico. Há
sarcasmos e ai uma critica ate saudável se olhar o contexto inteiro, sobre
miscigenação e preconceito de raças- étnicas e contra a xenofobia - orientais,
muçulmanos etc.
É um deleite. É um riso que ate surge incomodo no começo, mas que dura
do inicio ao fim.
Com uma construção narrativa e de personagens,
principalmente a da figura do Ted, o filme explora toda uma carga dramática de
medo a realidade, de busca por forças para enfrentar o mundo, a vida adulta,
cria um quadro de controle para se assumir responsabilidades e de fato ser
livre pelas escolhas que faz. Tudo tendo como pano de fundo, um relacionamento
sincero mas que beira entre o limite do amor e da amizade constante.
Não é o melhor papel
do Mark Wahlberg, mas ele permanece correto na figura a que se propõe, de
um adulto que se recusa a crescer. E pir; que quando tenta, não sabe como fazer
isso. O mesmo podemos dizer da Milla Kunnis. Não que as atuações sejam ruins, mas não ha quimica entre o casal, e sempre que eles são deixados sozinhos em cena sem o Ted, o filme assume uma chatisse sem igual. Ted é a vida do longa.
O filme ainda conta com uma trilha sonora que para qualquer
cinéfilo, parece um deleite. Há desde Guerra nas Estrelas, ate apertem os
cintos que o piloto sumiu. Vamos de Nirvana a Pink Floyd, e destes a Norah
Jones, belíssima como sempre, que atua também no filme, mais para o final da
projeção.
A produção do filme assume uma técnica excelente de
manipulação e movimentos que conferem ao boneco, que tem a voz do próprio diretor
Seth, um tom de realidade absurda, desde os passos ate as expressões faciais, o
olhar.
Com planos que nos ajudam a compreender a relação que
personagem tem de si mesmo e entre eles, surge uma cena curiosa em que é
utilizado o contra-plongée pela primeira vez de forma metafórica.
A cena em questão se dá numa discussão briga entre Ted e John
na rua. Ate então sempre vemos os dois num mesmo nivelamento coerente de
enquadramento em tela. O que representa a relação entre os dois que sempre foi
de igual para igual. Ted nunca se viu como um urso de pelúcia tendo como dono o
John, mas sim um amigo, o único amigo real dele.
Porem, após a briga vemos John se afastar pela Rua deserta,
tendo de principio a visão de Ted, em um contra-plongée evidente que mostra pela
primeira vez a diferença de altura entre os dois e coloca Ted como o que é pela
primeira vez também de forma tão clara: um urso, um brinquedo. Ted se sente
pequeno, derrotado diante da situação ali gerada, e essa escolha de plano ajuda
a entender isso.
Com uma fotografia apenas correta, o filme ainda traz um
deleite de humor ao trazer um antigo herói de John e Ted na infância para uma
festa regada a ‘pegação’, bebidas, drogas e karaokês – há espaço ate para um
embate aos moldes velho oeste com um pato-.
Talvez a melhor cena e que faz um referencia clara aos
filmes clássicos de perseguição de carros, seja aquela em que rola um sequestro
intenso.
Contudo, ao final da projeção percebemos que ele, mesmo beirando ao magnifico, poderia se sair melhor ainda, se Seth MacFarlane não sucumbisse as normas 'do limite do certinho' de Hollywood. Acredite, o potencial da narrativa poderia ser muito mais explicita - sincera - do que realmente acabou sendo. Uma pena. Mas é um detalhe que não tira o mérito do longa.
Tudo isso, faz com que Ted seja uma surpreendente surpresa e
corajosa. Ted não só é um humor cabeça, politicamente incorreto, mas é também
um drama repleto de lições morais encubadas que aos olhos mais atentos gera uma
excelente reflexão aos dias atuais.
A pergunta que fica é: quantos dos espectadores desse filme
serão como os Ted’s das prateleiras, e quantos serão Ted’s dos milagres de
natal?
FICHA TÉCNICA
Diretor: Seth MacFarlane
Elenco: Mila Kunis, Mark Wahlberg, Giovanni Ribisi, Jessica
Stroup, Patrick Warburton, Seth MacFarlane, Joel McHale, Laura Vandervoort,
Melissa Ordway, Aedin Mincks, Ralph Garman, Ginger Gonzaga, Alexandra East
Produção:
Jason Clark, John Jacobs, Seth MacFarlane, Scott Stuber, Wellesley Wild
Roteiro:
Seth MacFarlane, Alec Sulkin, Wellesley Wild
Fotografia: Michael Barrett
Trilha Sonora: Walter Murphy
Duração: 106 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Comédia
Classificação: 16 anos
2 comentários:
Serio mesmo que você gostou? =/
Muito Ronaldo! achei ele subestimado demais. Achei um humor peculiar dentre o mais do mesmo dos últimos lançamentos de humor do tipo.
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