Após passar anos na Alemanha, Ahmad (Shahab Hosseini) volta
ao Irã e seus amigos organizam três dias de comemoração. Sem que o resto do
grupo saiba, Sepideh (Golshifteh Farahani) convida para a festa a jovem Elly
(Taraneh Alidoosti), professora de sua filha. Elly é uma jovem tímida e esquiva. Ahmad, que
acabou de se separar da esposa alemã e gostaria de começar uma nova vida com
uma iraniana, vê em Elly a mulher perfeita. Os amigos ajudam a construção de um
possível romance entre eles. A festa em questão consiste em passar esses três
dias em uma casa alugada próximo a praia. Logo no primeiro dia, tudo ocorre
perfeitamente bem, os amigos se divertem, fazem compram, arrumam a casa. As
crianças começam a brincar próximo ao mar enquanto as mulheres terminam de
arrumar e limpar a casa, e os homens descansam, num momento de descontração
jogando vôlei.
O problema é que Elly precisa ir embora ao final da noite.
Mas sua amiga Sepideh a enrola para não deixa-la ir.
Uma das mulheres pede que Elly supervisione as crianças nas
brincadeiras.
No entanto, misteriosamente ela desaparece logo em seguida
que uma das crianças quase se afoga no mar. Começa assim uma busca densa, e
extremamente violenta por respostas,
para saber onde esta Elly.
Com essa premissa que dura quase trinta minutos em tela, Procurando
Elly, do diretor e roteirista Asghar Farhadi se torna um filme intenso e denso,
e extremamente sufocante.
Com um roteiro contendo algumas falhas de evolução narrativa,
e informações que se perdem às explicações necessárias; mas que compensa em seu
magnífico panorama das crenças sociais e ditos comportamentais dos iranianos, o
filme constrói momentos que vão da descontração e leveza a uma mudança brusca de
aflição e verdadeiro beco sem saída.
É muito interessante os momentos em que o grupo de amigos dividem suas tarefas rotineiras e se divertem. Não ha nenhum vestígio naquela cultura massificante entre mulheres e homens tão característica da cultura daquele país. E é aí talvez que resida a força do filme e ao mesmo tempo a falha (encontrada em sua cena final). Não há distinção clara entre os homens e mulheres ali, se não fossem os véus sobre as cabeças das moças, não lembraríamos que estamos diante de uma obra islâmica. Vide por exemplo, a cena de abertura onde estão todos no carro rumo a casa de praia, gritando e rindo com as cabeças para fora da janela, principalmente as mulheres. Chega a chocar, por não imaginarmos tal "liberdade" numa cultura predominantemente machista e intolerante.
Uma brincadeira de mimica, um jantar, uma dança boba. Tudo ajuda a construir a identidade e o caráter fílmico aqui. Mas é a cena lindíssima de Elly correndo de um lado para o outro na praia para tentar colocar uma pipa rosa no céu que vale o filme todo. A montagem e a trilha sonora na cena é plausível ao mostrar toda a beleza daquela atriz distinta e ao mesmo tempo seus olhar de mistério e fascínio numa simples pipa.
O elenco infantil que não é destaque algum, merece credito apenas ao construir a base de influencia e circulo vicioso que aquele grupo adota durante o filme. Como a cena em que os pais de uma das crianças brigam, por se responsabilizarem pelo desaparecimento de Elly, e que a criança nota a briga, exibe um olhar triste e logo em seguida, provavelmente mente, para amenizar as discussões, colocando novas possibilidades a investigação. Uma vez que logo apos o incidente a menina não se lembrava de ter visto nada, e foi só ver os pais brigando que repentinamente consegue fornecer lembranças ate então inexistentes.
Muito disso é fruto das atuações brilhantes de seus atores,
principalmente de Golshifteh Farahani na
pele de Sepideh, que demonstra a todo instante, ares de preocupação e de
contenção de quem esconde informações. São notáveis as características físicas que
ela adotou para a personagem, como as tosses constantes, com a impressão de que
esta sufocada, passando mal os olhos ejetados conforme o peso das discussões e
desentendimentos entre os amigos cresce.
Mas também da escolha dos planos nas cenas de mais ação.
Como a cena do mar, em que eles procuram pela criança que esta se afogando. Com
a câmera em mão, somos impelidos juntos a emergir na procura. Isso aumenta cada
vez mais a tensão e o tom de urgência a tal ponto que mal conseguimos desviar a
atenção da tela. Como se pudéssemos pressentir alguma tragédia surgir a
qualquer instante.
O filme perde sua evolução natural, mais para o final, ao introduzirem valores de culpa e ações que poderiam muito bem ser simplificadas com uma montagem mais razoável levando-se em conta que filme todo se passa em apenas três dias.
Com um final previsível e de certo modo decepcionante devido
a todo o cunho tenso que criou durante toda a narrativa, principalmente na escolha falha mas compreensível de um carro na cor vermelha atolado na areia próximo ao mar; o filme ainda assim
consegue cumprir bem o seu papel e passar sua mensagem.
Procurando Elly prova que às vezes há varias verdades
embutidas numa mesma mentira, e que muito mais do que buscar revelações no
nosso dia a dia, o segredo de tudo esta mais no que não se é dito, do que no
que é dito. Um Bom Filme.
FICHA TÉCNICA
Diretor: Asghar Farhadi
Elenco: Taraneh Alidoosti, Golshifteh Farahani, Mani
Haghighi, Shahab Hosseini, Merila Zarei, Peyman Moadi, Rana Azadivar, Ahmad
Mehranfar, Sabe Abar.
Produção: Mohammad Sadegh Azin
Roteiro: Asghar Farhadi
Duração: 119 min.
Ano: 2009
País: Irã
Gênero: Drama
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