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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Critica: Antes Que o Mundo Acabe


"- Por que eu tenho que encarar um pai que não sabe nada de mim?
- Porque ele existe!"



Baseado no livro de Marcelo Carneiro da Cunha de mesmo nome, "Antes que o Mundo Acabe" traz para tela um harmonioso filme sobre a adolescência  para a adolescência e que encanta todas as idades.

A estreia da Gaucha Ana Luiza Azevedo na direção de longas metragens, resultou num filme coeso, delimitado e extremamente eficaz na sua proposta.

Detentor dos prêmios  - Melhor Direção de Ficção, Figurino (Rosangela Cortinhas), Trilha Sonora (Leo Henkin), Direção de Arte (Fiapo Barth) e Fotografia (Jacob Solitrenick) do II Festival de Paulínia em 2009.

Daniel (Pedro Tergolina) tem 15 anos e vive numa pequena cidade, no interior do Rio Grande do Sul. Em sua existência restrita, vive seus pequenos dramas: uma namorada - Mim (Blanca Menti) - que não sabe se gosta dele ou de seu melhor amigo - Lucas (Eduardo Cardoso) que esta sendo acusado de ladrão e o pai - de quem recebeu o mesmo nome (Eduardo Moreira), fotografo que esta na Tailândia e que reaparece depois de 15 anos, mostrando para o menino, por meio de fotografias, que existe muito mais além das fronteiras de seu restrito mundo.

A sinopse é essa, mas o filme não se limita a apenas ela.
O roteiro assinado por Paulo Halm, nos leva pela vida de Daniel, através da narração de sua meia-irmã. Isso confere ao filme um tom ao mesmo tempo leve, sem pretensões mas também hipnotizante ao conseguir introduzir uma serie de ironias e referencias ao cinema, pela visão da garota que faz um paralelo interessante com as mensagens e desenvolvimentos da narrativa do enredo.
São signos diversos, como metáforas para a sensação de enclausuramento dos adolescentes nessa fase da vida, o desejo de querer se libertar da gaiola e enfrentar o mundo la fora, é o medo do desconhecido, a relação da fé, da crença que se torna mais instigante através de uma simples imagem de uma santa, é a relação de certo e errado, a moral, em pequenos furtos como roubar uma bala ou mesmo dinheiro de uma santinha para comprar dois passarinhos.
Ha uma serie de alusões que o filme recorre para ajudar a compor de forma contudo leve uma fase da vida conturbada que é a adolescência, o inicio dela.

O primeiro porre, a primeira decepção amorosa, a primeira vez, as escolhas de futuro, lidar com as conseguencias de atos. Tudo é mostrado de forma simples, natural, sem se aprofundar em crises de existencialismo ou dramas mais condensados. e é ai que reside a beleza e força do filme.

Ele não possui pretensões de mostrar a parte pesada da adolescência, mas visa dialogar com ela, mostrando o que ali, um abarrotado de situações, sentimentos, responsabilidades, dramas estampados de uma vez só, como hormônios descontrolados, como mudanças de humor repentinas.

nisso a edição colabora de maneira eficaz ao induzir objetividade a trama sem se prender muito tempo num problema só, porem sem se perder ou abandona-los. Tudo soa organicamente bem.

Alem das atuações corretas do trio principal, composto pelos atores Pedro Tergolina, Eduardo Cardoso, Blanca Menti; que demonstram uma harmonia gostosa em tela, e dos experientes Janaina Kremer e em especial o fantástico Mauro Grossi, que vive o padrasto de Daniel; o filme nos brinda de fato com o jovem talento de Caroline Guedes, que vive a meio-irmã de Daniel. A pequena e estreante, rouba as atenções em todas as cenas em que surge. E desempenha um papel importantíssimo na trama, uma vez que representa do o gancho de desenvolvimento entre os personagens secundários e as situações ali vividas.

A narração constante em off as vezes concede certa lentidão incomoda a condução do enredo, mas nada que o retire dos trilhos.

A sequencia de abertura também possui um pequeno erro de sincronia na edição de som, uma vez que por estarem dialogando em diversos espaços grandes, em planos abertos, a sonoplastia recorreu ao uso de dublagem nas cenas- quando é introduzido uma gravação de estúdio dos próprios atores com os mesmos diálogos  e introduzidos na pós produção -.

Mas o que mais chama a atenção no longa é o uso das imagens, em especial as montagens durante a projeção, todas de bom gosto e extremamente pertinentes com a narrativa em questão. A fotografia também é muito bonita, clara, nos espaços abertos repletos de saturação e um uso das cores- vermelho e verde - que transmitem ora a mudança de humor que vem pela frente de Daniel, ora para representar toda a vastidão de mundo que os espera.

A textualidade surge aqui também de maneira interessante quando o longa traça um paralelo entre as cartas e historias do pai, as descobertas que o garoto e nos espectadores vamos adquirindo dele e de todas as culturas pelas quais ele passou fotografando, e as historias vividas aqui pelo menino. elas surgem num paralelo de comparação a niveis de Tempo, muito mais do que do espaço que os separa. E é mais interessante ainda como assim, e através do simbolo das fotos e da arte de fotografar em questão, e em destaque com o tom de cotidiano e o objeto das bicicletas recorrentes durante toda a projeção, o filme adquiri um ar de nostalgia e anacronismo ao conseguir interagir com as passagens de tempo e de realidade, modernidade versus passado, cartas versus Email  brinquedos antigos, quebra cabeças versus jogos de computador, brincadeiras num lago versus baladas com musicas pop's, ruas de pedra, versus aulas avançadas de química. Tradição do interior versus correria e sonhos de cidade grande de olho no futuro.

Por fim Ana Luiza Azevedo, prova que aprendeu bem a arte da direção com seus mestres - a quem é visível as homenagens e referencias a Jorge Furtado que inclusive co-assina o roteiro do longa por exemplo-, e nos entrega um filme delicado, saboroso, instigante e que mostra um cinema nacional longe de barbaridades, violência  degradação ou sombras. Ela revela com humor e drama sincero, uma vastidão de cores, de sotaques, de culturas e costumes que muitas vezes se perdem em simples estampas e papeis de fotografias, mas que existem, e estão a nossa volta, prontas para serem eternizadas e vividas.

Um excelente filme.

Trailer




FICHA TÉCNICA

Diretor: Ana Luiza Azevedo
Elenco: Pedro Tergolina, Eduardo Cardoso, Blanca Menti, Janaina Kremer, Mauro Grossi.
Produção: Ana Luiza Azevedo
Roteiro: Paulo Halm
Fotografia: Jacob Solitrenick
Trilha Sonora: Leo Henkin
Duração: 102 min.
Ano: 2009
País: Brasil
Gênero: Drama
Classificação: 10 anos










sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Critica: As Aventuras de Pi



O filme é baseado no livro homônimo do canadense Yann Martel.

O filme narra a historia de um homem chamado Pi(vivido pelos atores Gautam Belur, Ayush Tandon, Suraj Sharma e Irrfan Khan em diferentes fases da vida), que recebe a visita de um escritor (Rafe Spall), em busca de inspiração para um novo livro na promessa de que Pi lhe conte uma historia fantástica que lhe dê motivos para acreditar em Deus. A partir daí conhecemos através de Flashes Back a historia de sua vida e sua fantástica aventura por sobrevivência, num naufrágio, onde ele sobreviveu sozinho na companhia de uma hiena, uma zebra, um orangotango e um tigre de bengala, em pleno Oceano Pacifico por mais de 200 dias à deriva.

O premiado diretor Ang Lee nos trás com As Aventuras de Pi, uma aventura dramática fantástica e impressionante sobre a fé, a vida e principalmente sobre as escolhas do Homem rumo a compreensão durante nossa permanecia neste mundo.

Uma das características que mais chamam a atenção neste longa, são suas montagens. A forma como ele utilizava as sobreposições de imagens, as fusões, as passagens de tempo em elipses inteligentes; não só para compor melhor as imagens, mas como um auxilio a mais na construção da narrativa. Que alias justifica-se pelo enredo todo, ate seu final surpreendente e instigante.

O roteiro é funcional, muito bem escrito que desde o inicio constrói o caráter de seu protagonista Pi. Nos remontando desde sua infância, pela adolescente, medos, receios, aprendizados, amores, escolhas  e anseios. O que é eficiente quando o filme entra em seu segundo ato, ajudando ao espectador a entender todas as situações ali enfrentadas e a maneira que ele lida com elas.


Um filme que soa orgânico, mesmo com alguns problemas narrativos que ele enfrenta ao longo da projeção, como por exemplo a narração continua do protagonista. Por ser um historia com muitos elementos que não são perceptíveis apenas através dos atos, o único recurso encontrado pela direção foi colocar a narração quase intrusiva do protagonista em todo o momento, isso aliado a alguns planos em dado momento que surgem com uma aproximação de câmera rápida demais, o que causa um desfoque excessivo nas imagens, como na sequencia inteira do naufrágio, prejudica a narrativa do enredo – neste ponto isolado- principalmente no caso dos planos desfocados e achatados, quando se projeta ele em 3 D que é justamente o uso da profundidade de campo. Um anula o outro.
Ainda assim o 3D é eficaz, tirando esse breve deslize.

Mas tirando isso, o filme – que alias funciona extremamente bem sem ser em 3D, salvo uma ou duas cenas, como a do fundo do mar, e o do salto de uma enorme baleia, onde ele se faz quase que indispensável -, é impecável. Principalmente do ponto de vista estético.

A fotografia é carregada de cores vibrantes e granuladas, há uma textura que chama a atenção em todo o primeiro ato do longa, quando estamos no zoológico. As próprias cenas são belas, repletas de signos e símbolos, em figuras bonitas de se visualizar em tela. O designer e os efeitos visuais também são fantásticos, todas as cenas em alto mar demonstram um cuidado excessivo com as imagens de forma que impressiona. Mas não tanto quanto o excepcional e quase assombrosa construção do Tigre de bengala, um dos protagonistas do longa que atende pelo nome de Richard Park. O efeito usado na construção desse tigre virtual - e no de todos os demais animais que surgem, inclusive algumas moscas de furtas - é de tamanha realidade que não há como distinguir os takes em que se usou um animal real e o que se usou um efeito especial. Isso provem de um trabalho intenso de pesquisa e de uso da tecnologia que usou mais de 15 pessoas apenas para delimitar os mais de 10 milhões de pelos do corpo do animal. Realmente impressiona.


E é nesta relação alias, entre Tigre e Garoto, que surgem as metáforas e mensagens mais bonitas e instigantes do filme. Alias signos de representação não faltam ao longa que consegue imprimir suas metáforas ate mesmo numa ilha paradisíaca mas enganosa que se transforma do dia para anoite e que a distancia se assemelha ao corpo de uma mulher repousando no oceano.


Por fim, As Aventuras de Pi se engrandece e prova que não é apenas mais um filme, ao conseguir propor uma discussão de forma plena e justa: A da fé.

A fé que permeia todo o enredo é mostrada de uma forma libertaria, diversificada. Tudo isso na Figura da busca de Pi por compreensão do mundo através da religião sem contudo se ater a instituições. O que lhe interessa sabiamente é a fé. E desmembrar os mistérios e conhecimento por trás de cada religião que passa por seu caminho. Assim o filme versa justamente pela busca humana em compreender do que é formado os fatos da vida.

Quando um filme consegue conversar diretamente com o espectador, sem que este se sinta deslocado ou atacado por pregações; é ótimo.

Esta – a crença-  que esta no sentimento de cada um em obter respostas e "curas" para seus males internos, redenção pessoal, para aquilo que a ciência não pode resolver- e mesmo essa, a ciência, tem espaço no filme e de forma discutível através por exemplo, da crença do pai de Pi nela, ou na constatação da mãe de Pi que diz que em certo momento que "a ciência é importante para o lado exterior do Homem, mas é na religião que se encontra a solução para o lado Interno, aquele que não se vê e só se sente sem poder explicar" - é um filme cuja moral esta naquilo que nós escolhemos acreditar.

Na força da natureza e seus mistérios com relação ao Homem e principalmente no universo todo que reside dentro de nós.

O ato final revela essa proposta de discussão ao deixar para o espectador a escolha de como digerir o filme, da maneira que seu coração ou razão melhor escolherem. Em ambas as escolhas o resultado os levara pro mesmo final, porem a ida ate ele é que é a chave, tal qual a experiência da vida.

As Aventuras de Pi é um mergulho em nossas próprias aventuras, seja como ali, na companhia de um tigre de bengala ou de um amigo de polegares opositores como nós.

Seja no mar ou na terra.

Um belo filme, sensível e em toda sua mistificação; humano.


Trailer





Ficha Técnica

Diretor: Ang Lee
Elenco:  Irrfan Khan, Rafe Spall, Depardieu, Suraj Sharma, Adil Hussain, Ayush Tandon
Produção: Ang Lee, Gil Netter, David Womark
Roteiro: David Magee, baseado na novela Yann Martel
Fotografia: Claudio Miranda
Trilha Sonora: Mychael Danna
Duração: 129 min.
Ano: 2012
País: EUA










terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Critica: De Pernas Pro Ar 2


Prestes a abrir sua primeira sex shop nos Estados Unidos, em sociedade com Marcela (Maria Paula), Alice (Ingrid Guimarães) tem um novo desafio: levar para a América do Norte um produto erótico inédito. Muito agitada e obsessiva, Alice também precisa descobrir como equilibrar a ambição profissional e a vida pessoal, já que seu casamento, novamente, está em risco. A situação começa a ficar fora de controle na festa de inauguração da 100ª loja SexDelícia no Brasil, quando ela tem um piripaque por excesso de trabalho e é obrigada pelos médicos a passar uns dias no Spa Desestresse. Ao sair da clínica para encontrar a sócia nos Estados Unidos e fechar negócio com investidores americanos, Alice vive as mais inusitadas situações para esconder da família que, na verdade, está lá a trabalho e não a passeio, como tinha dito.

Com direção de Roberto Santucci, De Pernas Pro Ar 2 compensa suas falhas anteriores e consagrasse como uma das comedias românticas mais bem feitas que nosso pais produziu na atualidade, numa narrativa coesa, hilária, repleta de talentos e artifícios técnicos acertados.

Se Em De Pernas Pro Ar, o diretor Santucci demonstrava um potencial interessante mas uma latente covardia em desenvolver esse potencial, aqui em De Pernas Pro Ar 2, sua continuação, ele demonstra segurança, coesão e coragem em levar a tela um filme despretensioso e extremamente eficaz em sua proposta.

A trama novamente nos leva para a vida de Alice- vivida pela deslumbrante Ingrid Guimarães que não só reafirma seu posto como uma comediante exemplar, mas que vai alem e ao demonstrar ser uma atriz experiente e com extrema técnica de atuação que compreende e desenvolve seu personagem lhe dando naturalidade e confiança- em sua empreitada pelos negócios. Sua Sex Shop hoje em dia desponta como um negocio de sucesso, com mais de 100 filiais pelo Brasil. Assim, quando é chegada a hora de expandir os negócios e torna-lo globalizado, Alice imerge numa sucessão de horas intensivas de estresse e trabalho para conduzir com maestria e rigor tudo, ao lado de sua melhor amiga e sócia Marcela  - na correta e sempre ‘caliente’ Maria Paula -.

Mas apesar de seu relacionamento com o marido ter encontrado uma certa concessão; dessa vez Alice abre mão da própria saúde em prol de seu sucesso profissional o que lhe obriga após um piripaque que é vastamente noticiado, inclusive indo parar no youtube; a se internar numa clinica que se assemelha a um SPA, para desestressar e trabalhar essa sua compulsiva mania de trabalho desenfreado. Lá ela conhece inúmeras figuras, cada qual com um vicio/problema que lhes tiram por momentos a sanidade, como uma atriz que confunde seus personagens e as famas destes com sua vida pessoal – a hilária Tatá Werneck, - ou mesmo um ex-jogador de futebol viciado em sexo, seja com que pessoa for – no caricato escrachadamente parodiando o jogador de futebol Warner Loove, personagem vivido pelo ator Luiz Miranda, -.

Mas Alice não consegue se conter diante de uma proposta irrecusável de abrir uma filial milionária em Nova York e após dar um jeito ‘profissional’ de sair da clinica, parte em viagem com a família rumo aos EUA com o falso pretexto de tirar férias; para conseguir fechar contrato.

De Pernas Pro Ar 2 a partir daqui, após ter preparado toda a narrativa para seguir o enredo de forma coesa, parte em sequencias desenfreadas de hilaridade e situações imprevisíveis de humor, alternando-se com o romance entre Alice e seu marido que devido a ausência de interesse da esposa e de um certo deslize do marido também entra em novo conflito mais intenso- e mais justificável – que o anterior do primeiro longa.

As piadas e diálogos possuem um timing cômico excelente, respeitando o entendimento de seu publico e o tempo correto entre uma sequencia e outra. Isso faz com que o desenvolvimento ocorra de uma forma mais linear e condizente com o enredo, tornando a linguagem do filme aceitável. O filme não se arrasta em momento algum e nem corre demais. Tem o tempo exato.
Como uma das cenas mais hilarias do longa, que acontece no momento de uma apresentação crucial para a empresa, e que Alice enfrenta certo "efeito de reação". A cena é extremamente eficaz e bem conduzida.

Isso alem de demonstrar um trabalho eficaz de montagem e edição, revela um apreço e um cuidado perceptível do roteiro, dessa vez escrito por três pessoas - Paulo Cursino, Marcelo Saback e inclusive da própria Ingrid Guimarães. Isso doou a trama diálogos mais consistentes e inteligentes, dinâmicos, situações cômicas estruturalmente coesas, alem de conferir uma dramaticidade e uma construção de personagens mais solida também. Alice é a personagem mais bem trabalhada dessa vez,. O filme já inicia nos mostrando um vídeo caseiro, onde ela surge ainda criança dizendo quais seus sonhos para a vida adulta. O que diz muito sobre a personagem e ajuda a compreender seus atos, seus erros, suas ações. Isso é imprescindível para a historia.

A fotografia aqui também surge mais trabalhada e cuidadosa, toda delineada em tons claros que nos situam bem em cada ambiente mostrado. Há uma sutil mudança no tom e na luz da fotografia quando o filme passa para Nova York por exemplo.

O sexo e a auto suficiência feminina mais uma vez e pano de fundo da trama, e de forma totalmente natural também.

O núcleo de apoio também surge soberbo, com momentos e personagens marcantes em situações impagáveis. Destaque para os personagens da empregada vivida pela ótima atriz Cristina Pereira; e para uma participação rápida, mas essencial em uma das cenas de um Garçom brasileiro, natural de Governador Valadares num restaurante em que Alice e a família vão almoçar. O personagem é vivido pelo inventivo e camaleônico ator  Rodrigo Sant’anna (mais conhecido pelo seu papel como Valéria Vasques  no humorístico de qualidade duvidosa Zorra Total). A  sequencia toda em que ele surge é de uma comicidade inspiradora.

Mas o que realmente chama a atenção em De Pernas Pro Ar 2 é a naturalidade que o enredo e as situações surgem em tela. Mesmo que no inicio alguns diálogos surjam perigosamente caricatos, no desenrolar da trama, tudo se torna coeso. Há preparação e desenvolvimento que culminam num clímax correto. Dando ao espectador a sensação de que estão testemunhando situações corriqueiras naturais de comicidade e não que estão vendo uma serie de diálogos e atos ensaiados e piadas prontas num especial de TV humorístico, que alias é a grande falha que muitas comedias românticas possuem, não só as nacionais.

De Pernas Pro ar 2 se coloca num terreno pouco trabalhado pelo Brasil. O gênero comedia romântica que é sinônimo de bilheteria em muitos países inclusive no nosso, mas que nunca foi um gênero que o país costumava realizar. Ou ao menos realizar de forma seria, com preocupação clara em entregar ao publico um produto, uma obra de qualidade narrativa e técnica. De Pernas Pro Ar 2 prova que é possível sim isso acontecer.

E o que se obtém alem de uma hora e meia de riso fácil, gargalhadas frenéticas e certos momentos de tensão, é uma obra contundente  interessante, eficaz e extremamente deliciosa de se ver, rever e rever quantas vezes for preciso.

Tal eficiência se reflete no publico, que largamente demonstra sua aprovação ate os instantes finais - dos créditos - do longa.

Excelente!

 Trailer



Ficha Técnica
  
Diretor: Roberto Santucci
Elenco: Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Maria Paula, Denise Weinberg, Cristina Pereira, Eriberto Leão, Christine Fernandes, Luiz Miranda, Alice Borges, Tatá Werneck, Pia Manfroni, Wagner Santisteban, Rodrigo Sant’anna, Eduardo Mello
Produção: Mariza Leão
Roteiro: Paulo Cursino, Ingrid Guimarães, Marcelo Saback
Fotografia: Nonato Estrela
Duração: 99 min.
Ano: 2012
País: Brasil
Gênero: Comédia









sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Critica: Anna Karenina


"Todas as famílias felizes são iguais. As infelizes o são cada uma à sua maneira".


Na Rússia de 1874, Anna Karenina (Keira Knightley), jovem aristocrata casada com Karenin (Jude Law), um alto funcionário do governo, envolve-se com o Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson), oficial da cavalaria filho da Condessa Vronsky (Olivia Williams), chocando a alta sociedade de São Petersburgo.

Anna Karenina é um romance do escritor russo Liev Tolstói, publicado entre 1873 e 1877. É uma das obras-primas do autor, ao lado de Guerra e Paz.

A trama da obra gira em torno do caso extra-conjugal da personagem que dá título à obra, uma aristocrata da Rússia Czarista que, a despeito de parecer ter tudo (beleza, riqueza, popularidade e um filho amado), sente-se vazia até encontrar o impetuoso oficial Conde Vronski.

No decorrer da obra, também são tratadas questões importantes da vida no campo na Rússia da época, onde algumas personagens debatem a respeito das melhores maneiras de gerir suas propriedades de terras, bem como o tratamento com os camponeses, então chamados de mujiques.

Com direção de Joe Wright, Anna Karenina surge com um encanto cinematográfico, de beleza, requinte, exasperada técnica visual e cenográfica e a consolidação de uma parceria eficaz e a confirmação de que Keira Knightley nasceu para a Aristocracia de época.

Em Orgulho e Preconceito, soberba obra adaptada por Wright pros cinemas, a parceria dele com Keira, já era evidente. O entendimento de diretor e atriz em tela transborda. Em cada detalhe desta produção é possível ver a nostálgica e incisiva visão de Wright sobre a aristocracia. A trama que já esconde criticas ao sistema de classes da época da sociedade russa, aqui ganha ares mais modestos, mas não pouco assertivos.
É um jogo interminável de regras a se seguir, razão versus fé e os bons costumes que permeiam todo o longa.

Ao contrario do que se possa pensar, o orçamento de Wright para este longa foi mais modesto do que o próprio imaginava possuir. Para burlar esse empecilho, o diretor buscou nos velhos e sempre funcionais, manejos cinematográficos o chamado “truque” a inspiração e solução.

Anna Kerenina surge impecavelmente visual. Um espetáculo de cenas, planos e sequencias, com uma fotografia vibrante e delineada, cuidadosamente pincelada, como se fossem inúmeras pinturas de fato. O figurino repleto de detalhes, e sempre majestosos tanto nas costuras como nas cores e modelos também agregam esse espetáculo. Mas é a escolha de trazer a linguagem teatral e dramática dos palcos que transforma Anna Kerenina numa pequena joia a ser levada em consideração.

O roteiro assinado por Tom Stoppard constrói uma personagem extremamente aflitiva e vazia. Anna é vazia em sua vida perfeita. Ao seu redor tudo corre bem, mas algo dentro dela, parece querer se encontrar, ter paz. Essa paz vem com o interesse imediato que tem e recíproco pelo Conde Vronski. Mas ao mesmo tempo que este interesse cresce e lhe dá algum sentido interno, ele o vai a destruindo, emocionalmente, posteriormente socialmente, fisicamente e psicologicamente. Ela vai caindo numa alteração descontrolada de humor e estado de espírito que lhe dá ares de psicose em alguns momentos. O descontrole emocional é pontuado pelas cores escuras e por uma montagem que faz referencia as maquinações de trem.
Quando o descontrole dá vazão ao desequilíbrio, o filme adota a velha técnica dos espelhos e superfícies refletivas para expressar isso.

Como não possuía grande verba, a solução encontrada pela produção do longa foi utilizar como cenário e locação primário, um antigo teatro. Ali a maior parte das cenas são rodadas, onde o palco e o teatro se adaptam e se transforma de acordo com a o que a situação pede. Vemos despretensiosamente atores servindo de figurantes, trocando de roupa em frente à tela, carregando os pedaços dos cenários e os dispondo em cena para transformar a locação.

Um quarto vira uma cafeteria em minutos, tudo encenado de forma extremamente teatral, com passos e sonoplastia compassados. Ate mesmo maquetes são usadas.
Algumas cenas memoráveis compõe o enredo como as cenas em que os atores surgem imóveis ao redor enquanto apenas um personagem se move entre eles.

Uma sequencia em particular é digna de aplausos, numa construção de cena memorável de dança, onde a câmera percorre os pares de dança numa montagem frenética e uma edição sincronizada, com um som exasperado, junto a uma trilha sonora que cativa e mantém a atenção do espectador apreensiva a todo instante. Ate mesmo uma cena particular de sexo simulado como se fosse uma dança de balé contemporâneo é bem encenada e de bom gosto dentro da narrativa. É lindo de se apreciar.

As poucas cenas externas se dão justamente no núcleo de apoio encabeçado pelos personagens Konstantin Levin e Kitty, que são responsáveis assim como na Obra de Tolstói, pela parcela moral e reflexiva social do longa.

Mas é Keira Knightley e Jude Law que se apresentam impecáveis em seus papeis. Mais uma vez, Keira prova que nasceu para personificar personagens dessa época. É de tamanha naturalidade seu timing aristocrático, nos trejeitos, na fala, ate mesmo fisicamente ela parece se enquadrar àquela época. Mas pó ser possuidora de um talento reconhecível, em nenhum momento o espectador a compara com seus antigos papeis semelhantes de época.
Alias para o bem e para o mal, Keira possui tamanha simpatia em seu olhar que é impossível realmente desgostar de sua personagem, mesmo que Anna surja irritável a todo instante.

Jude Law também empresta a seu personagem um controle ambíguo impressionante. Como se seu personagem se controlasse a todo o momento para não explodir de vez. Ele intensifica isso ao lhe dar um TOC de estalar os dedos das mãos que realmente compõe o personagem muito bem.

Por fim, Anna Kerenina possui mais acertos do que erros, mesmo que estes existam – como o ritmo por vezes lento e arrastado demais, mesmo que o filme possua pouco menos de 2 horas de projeção- são insignificantes diante da interessante composição narrativa que ele nos oferece.
Este esta longe de ser a melhor das obras de Joe Wright, mas definitivamente se faz enxergar e valer.

Trailer




Ficha Técnica
   
Diretor: Joe Wright
Elenco: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Kelly Macdonald, Matthew Macfadyen, Olivia Williams, Michelle Dockery, Emily Watson, Holliday Grainger, Ruth Wilson,
Produção: Tim Bevan, Paul Webster
Roteiro: Tom Stoppard
Fotografia: Seamus McGarvey
Trilha Sonora: Dario Marianelli
Ano: 2012
País: Reino Unido, França
Gênero: Drama














Critica: In Another Country ( Em Outro País )



O novo filme do diretor sul coreano Sang-Soo Hong é uma sucessão de idas e vindas, de repetições e experimentações absurdas e coerentes numa historia divertida e extremamente original e repleta de inventividade cativante.

O filme inicia-se por uma sub trama onde duas mulheres, mãe e filha, estão sentadas conversando, à hora do chá provavelmente  a mãe fuma, enquanto a filha come bolo -; onde as duas discutem sua situação atual naquele lugar sem nome ou referencia.

Pelos diálogos, é possível entender que o tio delas – o marido da irmã da mãe – se envolveu em algum problema relacionado a dinheiro, e que esta desaparecido por causa disso. As duas estão nesse local aparentemente por apenas algum tempo, enquanto esperam esse tio, mas ao que tudo leva crer a situação é tão critica que ele pode aparecer morto ou preso a qualquer momento.

A filha então, para se distrair, se coloca a escrever num bloco de notas um roteiro de um filme, que inicialmente era para se tratar de uma mulher fugindo de uma divida, mas que acaba virando um roteiro sobre uma diretora de cinema francesa bem sucedida.
A partir daqui o filme inicia a contar a historia proveniente desse roteiro.

Mas a inventividade do roteiro de Soo Hong esta justamente, no fato de que ele mostra esse roteiro escrito pela jovem sem nome do inicio da projeção, conforme ele vai sendo concebido. Assim o que vemos em tela é a construção na integra e na mesma hora em que o roteiro é escrito. Assim falas sem sentido ou repetitivas, clichês, cenas que se repetem e se alteram momentaneamente, ambientes e situações vão se adaptando conforme a jovem vai alterando seu roteiro. Isso é fantástico.

Não demora muito e a jovem muda de ideia e resolve contar outra historia, com os mesmos personagens com a mesma protagonista – a francesa Isabelle Huppert que em ambas as 3 historias que decorrem na projeção surge como a protagonista francesa chamada Anne, mas que em cada uma das tramas aparece com uma historia diferente da original no qual ela era uma diretora bem sucedida.

A principio Anne (Isabelle Huppert) é uma mulher francesa que está em uma pequena cidade na Coreia do Sul, onde visita um amigo que está prestes a ter um filho e trabalha como diretor. Lá, ao visitar uma praia, conhece um empolgado salva-vidas (Yu Jun-sang), que tenta conquistá-la. 

Pouco tempo depois, no mesmo local Anne é uma mulher francesa que se hospeda nesse local, uma espécie de hotel, para se encontrar com um diretor de cinema famoso, e manterem seu caso de amor extra conjugal, ate que ela perde seu celular na praia onde é encontrado por um salva Vidas.

Em seguida, Anne é uma mulher francesa recém divorciada do marido que a traia, e que se hospeda neste hotel, junto de sua amiga, que lhe mostra a cidade. La ela conhece um casal de coreanas cujo a mulher esta grávida e o homem dá em cima de Anne, e um salva vidas na praia que imediatamente chama a sua atenção.

Ambas as historias são protagonizadas por Anne e pelo Salva vidas. Os mesmos atores assumem essa persona em diferentes possibilidades de trama, enquanto os outros núcleos vão se revesando em vários papeis.

O meio comum de ambas as historias é a busca momentânea por um farol que somente Anne parece ter ouvido falar, e pela presença de um amor passageiro que tenta burlar o problema dos idiomas e nacionalidade diferentes.

Entre esses caminhos o roteiro muito bem estruturado apesar dessa narrativa difusa, introduz a discussão, de paramos para sabermos quem realmente somos, e discutirmos a máxima de que devemos fazer tudo àquilo que podemos fazer. E nos perguntar se vale a pena insistir naquilo que não temos certeza se podemos fazer ou não. Escolha e vontade, versus destino e consequência. Essa é a questão aqui. E a metáfora contida na busca pelo farol, - a luz que nos guia na escuridão – o salva vidas, e a francesa é extremamente pertinente para isso.
Não por acaso a narrativa mais eficaz dentro a trama se encontra na ultima historia.

Em algumas entrevistas o diretor afirma que não pretende nunca levar mensagem nenhuma com seu cinema experimental e tão característico  que a mensagem extraída de seus filmes depende unica e exclusivamente do humor de cada um quando este for assistir.

Aliado em sua maioria a planos gerais ou médio estáticos, alguns planos sequências  com característicos Zoon-in dispersos – marca do diretor-  o que nos da ainda mais a sensação de estarmos vendo um filme sendo montado/editado, o longa ainda possui uma fotografia brilhante e com cores saturadas mais puxadas para o vermelho e o verde.

Um filme primoroso, com uma ideia inventiva e bem executada, que mostra e faz alusão as repetições da vida rumo a um caminho comum aceitável.

In Another Country, cai fundo na concepção de que a vida é tão imprevisível quanto um roteiro sendo construído  Sabemos apenas que há um meio e personagens em comum ao nosso redor, mas que podem num mesmo 'palco' desenvolver inúmeras tramas, escolher diversos caminhos. A unica certeza é a busca, e onde ela nos leva, é questão de experimentar ou deixar a onda levar. depende de cada um.

Um filme excelente.


Trailer


Ficha Técnica

Direção: Sang-soo Hong
Roteiro: Sang-soo Hong
Elenco: Isabelle Huppert (Anne),Jun-Sang Yu (Wonju),Yu Junsang (Lifeguard)
Países : Coreia do Sul
Ano: 2012