Alice (Ingrid Guimarães) é uma executiva workaholic que
pouco dá atenção ao marido João (Bruno Garcia) e ao filho (João Fernandes).
Tendo o trabalho como foco principal de sua vida, é abandonada pelo companheiro
no dia em que recebe a chance de uma promoção. Com esse choque de realidade da
vida que ela considerava perfeita, Alice se atrapalha e falha na apresentação
que a tornaria diretora de marketing da empresa. Desempregada e desquitada, ela
conhece Marcela (Maria Paula), uma vizinha sensual que é dona de uma sex shop e
que decide fazer Alice levar uma vida mais descontraída.
De Pernas Pro Ar, do diretor Roberto Santucci, prova que vai contra a ideia de seu titulo
e nos concede uma deliciosa comedia, repleta de situações cômicas impagáveis, a
confirmação de um talento nato e uma característica no nosso cinema que já havíamos
esquecido, mesmo que tudo isso venha embalado em covardia.
O filme é uma delicia do inicio ao fim. Tem seus momentos cômicos
mais mornos para se reafirmar como comedia, e não comedia romântica necessariamente-
mesmo que possua um paralelo que conduz toda a narrativa no casamento da
protagonista-. Mas o foco é o humor.
Há uma sequência sensacional envolvendo um apetrecho sexual
e um jogo de futebol infantil. Impagável.
Mas o destaque esta com a atriz Ingrid Guimarães que
reafirma seu posto como uma das atrizes comediantes mais inventivas e naturais
que possuímos na atualidade. Seu personagem e extremamente coeso e em nenhum
momento surge forçado ou inverossímil. Ela convence como mãe, convence como
empresaria, convence como uma mulher recatada e convence como uma mulher
liberta de seus próprios conceitos, limitações e prioridades e claro, de sua
libido. Toda a ação dela explode em tela com uma naturalidade impressionante. De
tal forma que é impossível não se identificar ou se cativar. Que alias é uma característica
que há tempos o cinema nacional havia esquecido.
O filme transborda bem comum. Nos dá aquela sensação de que
estamos assistindo algo natural, em nenhum momento o espectador se coloca
abaixo ou inferior aos personagens ali mostrado, não há veneração, um querer
estar ali. Ele nos da a sensação de que tudo ali pode sim ocorrer e ocorre em
nossas vidas, no cotidiano. Ao contrario dos filmes essencialmente hollywoodianos
que tem a característica focada na contra corrente. Onde os filmes compram e
vendem a ideia de que as tramas ali mostradas devem ser ofertadas e nos dê a
sensação de querer viver uma vida fictícia como a que esta sendo mostrada esquecendo-se
da nossa, sem dar soluções para as nossas reais.
Mas não é totalmente correto. Pois peca em alguns momentos,
mais pela expectativa e potencial do que pelo andamento.
O roteiro assinado pelo Marcelo Saback e Paulo Cursino introduz
a ideia de libertação feminina. E isso é excelente. O Brasil, assim como o
mundo ainda é extremamente machista quando o assunto é sexo. Mesmo que nosso
país desde a Era das pornochanchadas tenha um desprendimento ao assunto, ao
tema, ele ainda é visto como algo estritamente masculino, voltado ao sexo
masculino. E quando sai desse nicho, cai no estereótipo comum e acaba sendo
nada mais do que clichês cômicos ou um tabu, sendo apenas sugerido mas nunca
explicitado para algo alem do apenas chamar a atenção.
De pernas Pro Ar, promove uma redescoberta ao tema e convida
o espectador, principalmente a mulher a conversar, a direcionar sua visão para
o próprio corpo, para o próprio prazer. Ao tratar do orgasmo, o roteiro nada
mais faz do que passar a ideia de que a mulher deve sim olhar mais para si
mesma e entender que é igual ao homem na busca pelo prazer, pela realização
pessoal e profissional, que não deve aceitar apenas oferecer prazer ou o que
quer que for sem receber mesmo em troca.
A narrativa é bem estruturada nesse sentido, ao mostrar a personagem Alice
nesse caminho, se transformando se descobrindo- e a metáfora com a montanha
russa é excelente nesse sentido-.
Porem o filme conforme avança na narrativa
vai se perdendo e acaba caindo no mesmo lugar comum de sempre, de que não
existe uma com relação entre trabalho, família e prazer. Principalmente entre
trabalho e família. Que a mulher deve sempre escolher ou o trabalho ou ser a
dona de casa, mãe e esposa. Que não há possibilidade viável de conciliar as
duas coisas. Mas a pior ideia vendida é a da submissão novamente imposta, caracterizada
pelo momento que a Alice aceita se encontrar com o marido novamente. A atitude
e principalmente a resolução, faz cair por terra toda a concepção criada na
premissa do roteiro. E isso é uma falha, um erro ou simplesmente uma covardia
em se manter num foco muito mais interessante, que era o inicial.
Mas nem mesmo essas falhas tiram a eficácia da produção. O
filme é tecnicamente correto. Inclusive em vários planos e cenas realmente bem
montadas, sem contar na edição – destaque para a sequência inicial-. Esta longe
de ser algo soberbo, alias bem longe, mais pela falta de coragem do que por
falta de competência ou potencia.
De Pernas Pro Ar revela a volta a essa característica comum
que nosso cinema sempre possuiu, de aproximação a seu publico sem focar apenas
em criticas sociais ou políticas. É um filme leve, divertido, com uma ótima fotografia
e edição e que nos dá momentos de lazer, demonstrando algo que muitos olhos de
fora e de dentro também se esquecem: que
sabemos rir. E não só diante das desgraças...
Criou uma possibilidade interessante que agradou a publico e
criticas no gerais e que demonstrou mais uma vez que o cinema esta também aqui.
Um bom filme.
Trailer
Ficha Técnica
Diretor: Roberto Santucci
Elenco: Ingrid Guimarães, Bruno Garcia, Maria Paula, Denise
Weinberg, Antônio Pedro, Flávia Alessandra, Marcos Pasquim, Cristina Pereira,
Charles Paraventi, João Fernandes, Ricardo Barrão, Antônio Pedro
Produção: Mariza Leão
Roteiro: Marcelo Saback, Paulo Cursino
Fotografia: Antônio Luis Mendes
Trilha Sonora: Fabio Mondego
Duração: 101 min.
Ano: 2010
País: Brasil
Gênero: Comédia
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