Lee Daniels nos entrega uma obra densa, tensa, repleta de
imprevisibilidade, instigante, que choca, aterroriza, nos leva as gargalhadas e
ao mesmo tempo impressiona, pela crueza e bizarrice imposta totalmente coesa
com sua proposta.
Um show bizarro e visualmente belo. Essa seria a palavra
para The PaperBoy. Repleto de cenas chocantes, que carregam a visão animalesca
do ser humano em passagens e trechos que se mesclam com a natureza lamacenta de
um sul americano intolerante e abafado.
Com direção segura sem medo de erros, Daniels nos leva com perspicácia num Ode ao suspense policial clássico, mas com um toque de cinema
pastelão em seus momentos mais inventivos. Matthew McConaughey surge como o
misterioso Jornalista investigativo que ao lado de seu parceiro/amigo Yardley
(David Oyelowo) um negro bem sucedido para a época visam encontrar provas que
provem a inocência de um famigerado homem condenado a cadeira elétrica pelo
assassinato de um xerife local. Sua namorada, ao qual conhece apenas por
cartas, a sedutora decadente Charlotte Bless ( Nicole Kidman), os contrata para juntos tirarem
seu “homem” Hillary Van Wetter (John Cusack) da prisão. Com o apoio paralelo do ex-nadador e
irmão mais novo de Ward (Mattehew), Jack (Zac Efron) eles partem rumo a uma investigação
repleta de furos enquanto Jack vaio nutrindo uma paixão incondicional por Charlotte.
Tudo isso é narrado pela segura Macy Gray que trabalhou e ajudou a criar os irmãos Jack e Ward.
O trabalho visual desse filme é uma das coisas mais gostosas
de se conferir. Adotando uma filmagem com uma fotografia repleta de luz e cores
saturadas, em alguns momentos granuladas demais o que culmina numa imagem que
nos remete a películas antigas da década de 60/70 o filme ainda nos brinda com
uma trilha sonora de beco, repleta de Swing.
O longa passeia entre o mundo negro e o mundo branco decadente
tão subdividido daquela época contendo em falas e olhares a discriminação
latente, onde palavras e sentenças eram de máxima importância para não passarem
a ideia errada.
Numa construção de roteiro impecável, o longa estrutura seus
atos de forma delineada, com o auxilio de uma montagem curiosa e bem feita,
repleta de efeitos visuais, fusões e uma edição com cortes secos que instigam
ainda mais a curiosidade do espectador e também inevitavelmente seu asco e
choque em diversos momentos.
Há uma cena de sexo extremamente desprovida de qualquer
pudor, que usa montagens em flashs de animais em decomposição enquanto o sexo
rola brutalmente de maneira desajeitada quase absurda. Se ao primeiro momento
ele causa hilaridade depois se torna chocante e incomodo tamanha violência que
é exasperada ali. Isso é brilhante da parte do diretor.
Do inicio ao fim, The Paperboy constrói uma narrativa rumo
as perspectivas de cada personagem e do meio em que vivem. A pretensão do filme não é educar ou mesmo criticar – diretamente- o sistema judiciário, que
é o pano de fundo da trama, nem mesmo
trabalho de integridade nos fatos da imprensa Mas sim, cair fundo na
reflexão e discussão das tormentas de cada personagem tão peculiar
apresentados La. Personagens que buscam uma redenção cujo qual nem eles
mesmos sabem definir qual é.
Cada persona de The PaperBoy parece estar a procura de algo que eles mesmo não sabem definir. É uma
insatisfação latentes em seus olhares cabisbaixos e mortos. Mesmos os sorrisos
carregam certa melancolia. A degradação social e física e emocional é clara.
Seja na Mulher submissa, com baixo auto estima, sexy e
selvagem que vai decaindo sobre as próprias escolhas, seja pelo garoto que viu
seu sonho frustrado diante de um átimo de fúria pela perda da mãe, seja por um
homem repleto de segredos que odeia a si mesmo ao ser quem é, seja por um outro
homem que deseja se provar diante da intolerância imposta pela sociedade.
A todo momento o espectador é levado a crer em uma verdade
que no momento seguinte se torna uma duvidosa mentira. E em seguida algo a se
considerar novamente.
E o longa nesse sentido não nos polpa de cair fundo nesse cenário
quase caótico interno e externo. Ele externaliza esses sentimentos em tela,
seja mostrando uma ejaculação nas calças de um preso, uma mulher indo ao
orgasmo em se tocar, seja um garoto sendo queimado por águas vivas e sendo em
seguida mijado por uma mulher em plena praia, seja por uma faca rasgando e
expondo as tripas de um jacaré recém abatido. The PaperBoy não polpa seu
espectador de realidades cruas e feias, bizarras, para chocar e nos preparar
para exatamente aquilo tudo que seu clímax arrebatador e imprevisível nos
guarda.
O sexo e sensualidade aqui é usada e abusado, mas não como artificio para excitar, mas para compor ainda mais a sensação de degeneração que o longa adota para o meio e seus personagens. Zac Efron surge exalando um sex apple extremo, que quando junta com o de Nicole, explode em tela. Mas é notável constatar como o diretor se contem em privar o expectador justamente do momento prometido entre ambos. ficando apenas em nosso imaginário o que resultaria tal ato. Justamente para que as cenas seguintes surjam com mais impacto.
O sexo e sensualidade aqui é usada e abusado, mas não como artificio para excitar, mas para compor ainda mais a sensação de degeneração que o longa adota para o meio e seus personagens. Zac Efron surge exalando um sex apple extremo, que quando junta com o de Nicole, explode em tela. Mas é notável constatar como o diretor se contem em privar o expectador justamente do momento prometido entre ambos. ficando apenas em nosso imaginário o que resultaria tal ato. Justamente para que as cenas seguintes surjam com mais impacto.
E importante salientar aqui um dos melhores papeis de Nicole
Kidman em muitos anos. Tanto seu personagem quanto a atriz se doam completamente
numa personificação marcante, que diverte, seduz e entristece, emociona pela decadência
exposta de maneira tão cativante e cruel. Um papel grande que merecia e merece
ser mais lembrado e aplaudido. A tal ponto que todos os outros atores - que fazem bonito, estando corretos em seus papeis - ficam ligeiramente ofuscados pela simples menção de seu nome em cena. um trabalho realmente primoroso e que impressiona.
Por fim, The PaperBoy se revela mais uma preciosidade de Lee
Daniels. Menor em sua produção e alcance, mas enorme na sua capacidade de
demonstrar arte pura em um contexto soberbo. Um ótimo filme.
Trailer
Ficha técnica
Diretor: Lee Daniels
Elenco: Zac Efron, John Cusack, Nicole Kidman, Matthew
McConaughey, Scott Glenn, Beau Brasseaux, Nikolette Noel, David Oyelowo, Ned
Bellamy, Katarzyna Wolejnio,
Produção:
Ed Cathell III, Lee Daniels, Cassian Elwes, Hilary Shor
Roteiro: Peter Dextel
Fotografia: Roberto Schaefer
Trilha Sonora: Mario Grigorov
Ano: 2012
País: EUA
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