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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Critica: Os Miseráveis


Historia:

Les Misérables (Os Miseráveis) é uma das principais obras escritas pelo escritor francês Victor Hugo, publicada em 3 de abril de 1862 simultaneamente em Leipzig, Bruxelas, Budapeste, Milão, Roterdã, Varsóvia, Rio de Janeiro e Paris (nesta última cidade foram vendidos 7 mil exemplares em 24 horas).
A história passa-se na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (1815) e os motins de junho de 1832. Daqui resultam, cinco volumes, que vão contar desde a vida de Jean Valjean, um condenado posto em liberdade, até sua morte. Em torno dele giram algumas pessoas que vão dar seus nomes para os diferentes volumes do romance, testemunhando a miséria deste século, a pobreza miserável de: Fantine, Cosette, Marius, mas também Thénardier (incluindo Éponine e Gavroche) e o inspetor Javert.

Filme:

Com a França do século XIX como pano de fundo, Os Miseráveis; conta uma apaixonante história de sonhos desfeitos, de um amor não correspondido, paixão, sacrifício e redenção, num testemunho intemporal da sobrevivência do espírito humano.

Jean Valjean (Hugh Jackman) consegue a liberdade condicional do seu guarda prisional, Javert (Russel Crowe), após dezenove anos de penitência pelo roubo de um pão. A miséria impele Valjean a cometer roubo numa igreja, onde um bispo lhe concede abrigo. Novamente capturado, Valjean é perdoado pelo bispo e decide mudar sua vida para sempre, abandonando seu nome verdadeiro e assim a historia que tal nome carrega. Anos mais tarde, sob outro nome, tendo fugido à sua obrigação de se apresentar periodicamente às autoridades, Valjean volta a confrontar-se com Javert, que continua à sua procura. Na sequência, Valjean sem intenção, causa o desligamento de uma funcionária da sua fábrica, a jovem Fantine (Anne Hathaway),mãe solteira que batalha na vida sozinha para conseguir dinheiro para mandar para um casal, chefiado pelo mau caráter Senhor Thénard (Sacha Baron Cohen), que cuida de sua pequena filha Cosette( na vida adulta interpretada por Amanda Seyfried).
Após Fantine cair em total desgraça, Valjean lhe faz uma promessa de cuidar de sua filha Cosette. Mas com isso o agora inspetor Javert aumenta o cerco a sua procura. Todas essas vidas durante duas gerações se cruzam.

Essa é a premissa de Os Miseráveis, adaptação do famoso musical baseado na obra de Victor Hugo, dirigido por Tom Hooper. O que poderia se tornar um verdadeiro épico eterno na historia cinematográfica, sai pela culatra, numa obra repleta de falhas narrativas que tenta carregar mais do que suporta, restando por fim apenas a beleza visual/técnica e as atuações memoráveis de atores competentes.

Primeiro é preciso entender que Os Miseráveis, possui uma das historias mais complexas, longas e grandiosas da literatura global. São tramas e subtramas únicas e que ao longo da história se intercalam, formando grandes núcleos independentes com estruturas especificas. O livro em si, em seus cinco grandes volumes já se mostra um desafio e tanto de estrutura e desenvolvimento para não se tornar uma bagunça completa. O musical encenado pela primeira vez em 1980 na em Paris, por sua vez em e=intermináveis atos, possuía a mesma responsabilidade de dar coesão à trama e ainda adapta-la visualmente, o que denotava planejamento em escalas tanto de narrativa quanto de desenvolvimento em conjunto com as musicas e sua encenação.

Se tudo isso já é um desafio e tanto, imagina trazer tudo isso para o cinema, em tela, para se enquadrar em pouco mais de 2 horas e 40 de projeção!? Tom Hooper quis testar e comprar o desafio. E o resultado foi um desastre de direção.

Os miseráveis talvez seja a historia mais adaptada do cinema, com incríveis quarenta e seis adaptações entre cinema e televisão.
Mas é a primeira vez que se tenta levar uma adaptação do musical de 1980 e não da obra em si para a tela dessa forma tão grandiosa visando o mainstream.

O que se vê em tela é uma espécie de filme hibrido entre musical/peça teatral filmado e os antigos musicais de Hollywood quanto as encenações. Por incontáveis vezes fica difícil acompanhar a mescla entre o que é teatro filmado e cinema de fato. Isso destoou totalmente na linguagem do longa, em sua narrativa e inclusive impiedosamente prejudicou o enredo, que surge corrido e repleto de furos de desenvolvimento.

O que se obtém é um filme corrido, com sensação de ter sido mau decupado, mal editado, sem introdução coerente ou delineamento das tramas e principalmente de estruturação de seus personagens. Não há arco que se sustente por muito tempo. Os personagens e suas tramas surgem de repente e partem da mesma maneira. Não se tem clareza dos fatos. São episódios atrás de episódios como se fosse realmente uma peça de teatro onde cada quinze minutos de filme ou cada musica encenada é um ato. Que ao seu fim dá lugar a outro quase que independente ao seu antecessor. Sem coesão nenhuma.

Isso alem de causar confusão e exigir um prévio conhecimento do publico há trama original a qual o filme se baseia, ainda compromete o tom emocional e dramático do enredo que em suma é a maior força de Os Miseráveis. A historia é lendariamente famosa e amada por inúmeras gerações justamente pelo seu cunho extremamente emocional, por levar o melodrama ao ápice. Tom Hooper não consegue chegar nem perto.

Cito insistentemente a falha de Tom Hooper, pois o problema não esta na historia e sim no roteiro formado para contar tal historia e mais ainda na direção que aparenta muitas vezes insegurança em adéqua-la a um formato viável. Talvez se ele dividisse o filme em partes, talvez se ele não se utilizasse de musicas demais e diálogos “normais” de menos, a coisa funcionaria razoavelmente bem. Sim, porque Os Miseráveis de Hooper tem incríveis e por vezes cansativos e desnecessários 98% de musicas executadas. Os diálogos podem ser contados nos dedos de uma mão. E mesmo esses são corridos e sem muita importância.

Mas Os Miseráveis não é um erro completo no entanto. Pois ele conta com uma força tremenda que tem de ser levado em conta.

Tecnicamente o filme é primoroso. Possui uma fotografia esplendida  carregada de tons azuis, vermelhos e brancos – as cores da bandeira da frança – em saturações e granulações assertivas, da maneira correta, na hora e nos lugares corretos. Igualmente soberba é a direção de arte do filme, que conta com projeções de locações milimetricamente construídas e acabadas, um figurino marcante, uma sonoplastia clara e de timing certeiro.

Os planos são outro destaque. A maneira que Hooper escolheu filmar sua obra com lentes angulares, câmera na mão, planos longos que por vezes dão a ilusão de terem sido gravados em plano sequência, as panorâmicas gigantescas, e mesmo os repetitivos momentos de desnivelamento de câmera, conferem ao longa um tom épico e grandioso. Bonito de se ver e apreciar cada detalhe.

Mas se há algo que realmente vale o ingresso, a exibição e o aplauso aqui, é a atuação de Anne Hathaway e sua Fantini.

Mesmo que o longa conte com atores de peso como Hugh Jackman muito bem em seu papel, tendo a primeira sequencia e a ultima do longa, seus melhores desempenhos, Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter, como os divertidos vilões pilantras e aproveitadores que tomam conta- abusam- de Cosette em sua infância, Amanda Seyfried e Eddie Redmayne como o principal par romântico, igualmente corretos em seus papeis, mas que sofrem também pelas falhas de construção de personagem que o roteiro possui, mas que brilham com suas vozes impecáveis; e ate mesmo Russell Crowe num dos seus papeis mais mornos, mas que consegue sustentar bem, apesar de apresentar falhas consideráveis na hora de executar as canções. Mesmo com todos esses talentos é impossível não se ater e aplaudir de pé ou mesmo se curvar pela atuação de total entrega de Anne Hathaway

Sua personagem Fantini é de longe a personagem que mais sofre e tem o destino mais miserável da trama. E a atriz demonstrando uma total compreensão disso, se doa fisicamente e emocionalmente de tal maneira ao papel, que não seria exagero considerar sua atuação – infelizmente com pouco tempo de tela- a melhor de toda a sua carreira, de ficar marcado durante tempos e tempos.

Toda cena em que Anne Hathaway surge, ela se torna o centro das atenções. E ganha seu ápice total na já clássica instantânea cena em que ela interpreta a famosa e histórica musica “I Dreamed A Dream”. A cena é tão impressionante que é talvez o único momento do filme em que o espectador consegue- não se contem- ir as lagrimas, ou no mínimo se emocionar ou se abalar. 
Ao final da projeção a musica fica gravada na mente igualmente com suas expressões de sofrimento e total desamparo de uma mulher que perdeu tudo e clama com uma voz belíssima e inflamada entre suspiros e um choro incontido por redenção.

É importante ressaltar também a atuação de Samantha Barks e sua Epónine; que alem de possuir a melhor voz de todo elenco, demonstra uma presença em tela que apaga em cena os próprios protagonistas em seus poucos minutos em tela também.

Alias outro aspecto que doa ao Os Miseráveis créditos  foi a escolha de Tom Hooper, aqui sim acertando completamente, de filmar as canções ao vivo, durante as filmagens e não como é habitual se fazer, adquirir as musicas gravadas previamente em estúdio e depois dubladas pelos atores. Quando os atores e atrizes estão cantando, não é dublagem. Eles realmente estão executando as canções ali, como se estivessem num teatro. E o efeito que isso dá em tela inclusive sonoramente falando é impagável e brilhante de conferir. Para amantes de musical, é um deleite a parte.

A trilha sonora como não poderia deixar de ser é perfeita em cada detalhe, letras poderosas e universais, e os arranjos aqui ganham um tom ainda mais orquestral e dinâmico.

Por fim a sensação que fica e a conclusão que se tira de Os Miseráveis  é que ele é um grande filme sim, que merece destaque e apreciação pela grandiosidade, ousadia e coragem de ter sido realizado, pela competência de seus atores, pela forma extrema de sua historia e principalmente pelo esmero visual que possui. Mas que peca imperdoavelmente ao tratar uma historia com tal nome como essa, de maneira leviana e sem um mínimo de preocupação com sua essência.

É o típico “enche os olhos mas não enche a barriga”.

Quando se espera diamantes e lhe entregam pepitas de ouro, a decepção é latente.

Mas nem mesmo Hooper consegue tirar o brilho dessa historia. Que trata da miséria humana de todas as formas possível.

E é de Anne Hathaway e seus Sonhos Sonhados a ultima nota cantada.

Trailer


Ficha Técnica

Diretor: Tom Hooper
Elenco: Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Hugh Jackman, Russell Crowe, Eddie Redmayne, Samantha Barks, Aaron Tveit, Colm Wilkinson, Ella Hunt, George Blagden, DanielHuttlestone,
Produção: Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron Mackintosh
Roteiro: William Nicholson, baseado na obra de Victor Hugo
Fotografia: Danny Cohen
Trilha Sonora: Claude-Michel Schönberg
Ano: 2012
País: Reino Unido
Gênero: Musical







3 comentários:

Para quem achou o filme decepcionante a crítica ficou bem grande, não é? Verdadeiras críticas também geram linhas. A crítica ficou ótima, gostei muito.
Eu ainda não tive a oportunidade de assistir Os Miseráveis. Antes dessas férias eu fiz a prova do resumo do livro, então não sei muita coisa, mas eu acho que vou chorar. Digo, eu não sou emocionalmente abalada, mas as cenas da Anne são chorantes. Dá pra ver bem que a Anne realmente se entregou ao papel pelo trailer.
Eu mal posso esperar para ver minha Helena Bonham Carter mais uma vez com um visual não convencional.

eita.. erro consertado já. Desculpe-me e Obrigado pelo toque Diego. Abraço =)

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