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domingo, 13 de janeiro de 2013

Critica: A Hora Mais Escura ( Zero Dark Thirty )


Filme sobre a caça e execução do terrorista saudita Osama Bin Laden (Ricky Sekhon) por soldados americanos no Paquistão, em maio de 2011.



Osama bin Mohammed bin Awad bin Laden, mais conhecido como Osama bin Laden, foi um líder e fundador da al-Qaeda, organização terrorista à qual são atribuídos vários atentados contra alvos civis e militares dos Estados Unidos e seus aliados, dentre os quais os ataques de 11 de setembro de 2001. 
Procurado havia pelo menos dez anos pelos EUA, Bin Laden era considerado o mentor dos atentados de 11 de Setembro de 2001, que derrubaram as Torres Gêmeas em Nova York, atingiram o Pentágono e deixaram cerca de 3.000 mortos.
Os ataques levaram à invasão do Iraque e do Afeganistão por tropas lideradas pelos EUA, no que ficou conhecido como "guerra ao terror".

Em 2 de maio de 2011 autoridades dos Estados Unidos divulgaram que Bin Laden teria sido capturado e morto em um esconderijo nos arredores de Abbottabad durante uma operação secreta realizada por forças da Joint Special Operations Command em conjunção com a CIA e o governo paquistanês, que colaborou para a localização do paradeiro do terrorista.

“A Hora Mais Escura”, novo filme da diretora Kathryn Bigelow, conta detalhes sobre essa operação secreta que culminou na morte de um dos homens mais procurados do mundo.

O resultado, é uma obra superior a anterior de Bigelow (Guerra Ao terror), que vai além de suas próprias possíveis limitações, e condensa-se num filme denso, repleto de tensão e tamanha crueza e detalhes nos fatos narrados, tornando-se uma digna obra prima que subverte qualquer conceito pré estabelecido de ser apenas mais um filme patriota norte americano.

Kathryn Bigelow, numa direção segura, repleta de cuidados quanto sua narrativa, nos entrega um filme estruturalmente eficaz e coeso e uma trama que surpreende por contar detalhes ínfimos sobre as operações especiais da Cia.

O trabalho de pesquisa da produção do filme levou nada mais nada menos que longos 9 anos. Onde foi decupada cada informação acerca de manejos sobre operações de tal calibre. Mas A Hora Mais Escura não se limita a apenas mostrar os fatos que culminaram na morte de Bin Laden. 
Não se limita em demonstrar uma saga de vitoria americana. 
Muito pelo contrario.
O filme tem um tom muito mais de Causa e Consequência, do que ode pela justiça.

Com ares episódicos, quase como se fosse um filme relatório, o filme traça um panorama do pais EUA em paralelo com os países Islâmicos, onde entre culpa e vitimizações vão alem da política de tais países. Isso fica claro, quando num dialogo distinto, a personagem de Jessica Chastain, Maya, uma agente da Cia especializada em pesquisar o paradeiro de Bin Laden, diz durante uma reunião em resposta a um comentário de um de seus colegas sobre pistas quanto ao paradeiro de Bin Laden : 

“nós acreditamos que ele (Bin Laden) não alterou suas táticas de segurança.”; 
ao que Maya retruca: 
“Nos atacamos o Afeganistão. Essa é a razão”

Apenas essa passagem demonstra o tratamento que diretora e roteirista escolheram tratar o assunto.

É importante salientar que Bigelow e Boal (roteirista) visavam retratar o fracasso americano nas investigações. Porem tudo mudou, quando durante as pesquisas para realizar tal filme, o terrorista foi capturado e morto.

Longe de cunho políticos. Apenas fato sobre fato, atribuindo em posições estritamente pessoais de cada personagem ali descrito, suas parcelas de culpa. O filme tem um tom quase jornalístico. Patriotismo definitivamente não tem lugar aqui.
Com exceção talvez de algumas montagens e concepção de cenas que remontam a protagonista como a sombra da bandeira americana. 

Com longas e incômodas cenas de tortura o filme vem causando polemica, nos próprios cidadãos americanos- mais especificamente na política americana – por abordar o fato de os EUA utilizarem de torturas pesadas para conseguir informações sobre a al-Qaeda.
Muitas vezes durante a projeção, fica a duvida de quem é mais terrorista nesse sentido.

E aqui entra o trabalho de atuação fantástico de Jessica Chastain, que consegue imprimir todo o seu desgaste e obsessão em resolver o mistério do paradeiro de Bin Laden. Ela se entrega de tal maneira numa busca sem controle e com desgaste psicológico e emocional tal que causa uma simpatia imediata no espectador, e uma torcida por uma resolução valida para ela, independente de qual lado da trama se escolha ficar. Alias o personagem de Maya é o mais interessante ali, é o que tem mais destaque claro, mas  possui uma construção de persona que diz muito sobre a própria diretora e suas motivações aparentes por tal tema.

Para quem acompanha a serie Homeland, notara as semelhanças tanto na linguagem quanto no desenvolvimento da trama. Ainda que a semelhança entre as produções terminem ai. 

O filme inicia-se num inspirador plano negro, apenas com sons de ligações e de rádios, durante o ataque do 11 de setembro. É uma sequencia de quase 3 minutos, sem imagem alguma, apenas os sons de conversas dispersas que já trazem o tom do enredo.

Repleto de câmeras com planos longos e sequências rápidas, o filme ainda possui diálogos ágeis, por vezes difíceis de acompanhar, mas que prendem a atenção do inicio ao fim e são cruciais em cada silaba fala, em cada impostação para o desenrolar do enredo, mesmo que o espectador- o que é aconselhável- já possua certo embasamento sobre o assunto.

O clímax do filme traz uma eletrizante sequência de exatos 40 minutos, que nos leva ate a captura e morte de Bin Laden. Os exatos 40 minutos informados oficialmente pelo governo americano, que durou tal operação. A sequência utiliza câmeras infravermelhas, em tons esverdeados, ora com câmeras na mão, outras que lembram circuitos internos de câmeras de segurança. É de aplaudir de pé o esmero técnico com o que a diretora conduz essa sequência.

Alias não há como falar sobre A Hora Mais escura e não citar a falha- que muitos atribuem ter sido por questões meramente políticas- que deixaram de fora Kathryn Bigelow no posto de melhor direção no Oscar. Categoria essa que ela não só merecia estar indicada como merecia vencer. Uma pena realmente.
                         
Por fim, A Hora Mais Escura, que designa um termo militar para os momentos certos de se realizar um ataque; termina sua projeção num plano media no rosto de Maya, exalando todas as emoções que tal fato causam ate hoje no mundo inteiro.

Um belíssimo filme, um trabalho excepcional de direção que remontam um dos acontecimentos mais assombrosos da historia humana atual, e sua aparente resolução parcial.

São quase 3 horas de clareza e imersão que merece ser vista e discutida inúmeras vezes.

**Categorias no Oscar 2013: melhor edição, melhor edição de som, melhor roteiro original, melhor atriz (Jessica Chastain) e melhor filme.

Trailer




 Ficha Técnica

Diretor: Kathryn Bigelow
Elenco: Ricky Sekhon, Jessica Chastain, Joel Edgerton, Scott Adkins, Mark Strong, Jennifer Ehle, Chris Pratt, Taylor Kinney, Kyle Chandler, Édgar Ramírez, Harold Perrineau, Frank Grillo, Mark Duplass, Stephen Dillane, Jason Clarke, Lee Asquith-Coe, Fredric Lehne, Fares Fares, Callan Mulvey, Daniel Lapaine, Jessica Collins
Produção: Kathryn Bigelow, Mark Boal, Megan Ellison
Roteiro: Mark Boal
Fotografia: Greig Fraser
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Drama








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