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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Critica: PROCURA-SE UM AMIGO PARA O FIM DO MUNDO


Com ares de Melancolia, comédia romântica aposta no sentimental com mesclas de tom cômico e acerta o alvo, num filme gostoso, mas que poderia ser mais interessante.

Em sua estreia na direção Lorene Scafaria nos presenteia com um filme leve, de humor agridoce, com características que o fazem assemelhar-se com Melancolia, filme de 2011 do diretor dinamarquês Lars Von Trier.

Mas calma, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Enquanto melancolia pega pesado em dramas existenciais, com uma perfeição visual, quase orquestrada em tela, com firmeza, num drama perturbador e denso, “Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo", não assume tal pretensão, mas nos entrega uma película semelhante no que diz respeito à “espera pelo fim”.

A premissa é simples e peculiar: Um meteoro- Matilda - está em rota de colisão com a Terra, e a última missão humana enviada para desviá-lo falha em sua tentativa. Não há mais saída: em três semanas, o mundo vai acabar. Algumas pessoas aproveitam os últimos dias de vida para beberem e fazerem sexo sem compromisso; outras se rebelam pelas ruas e começam a destruir os carros e os comércios. Além delas, existe Dodge (Steve Carell), corretor solitário que acaba de ser abandonado pela esposa, e Penny (Keira Knightley), sua vizinha triste, que nunca teve um namoro satisfatório. Juntos, eles decidem percorrer o país para reencontrarem suas famílias e seus amores de juventude antes que seja tarde demais.

Porem, o filme nos entrega uma divertida narrativa, repleta de boas piadas e irônicas observações.
O roteiro assinado pela própria Scafaria constrói um mundo normal, sem imagens deslumbrantes e inóspitas de destruição, no qual o foco esta justamente na maneira que cada personagem escolhe lidar com tal fim.
É o ex-namorado que quer repovoar a humanidade, são os trabalhadores e a empregada domestica que fingem que nada demais esta acontecendo, são os homens solteiros de meia idade aproveitando tal oportunidade para viverem sem medo de consequências tudo que sempre quiseram, são os suicidas que resolvem dar cabo de si mesmo antes do fim.
Vemos famílias em crise, ou se unindo ainda mais. Personagens em busca de redenção e perdão, em processo de recuperar tempos há tempos perdido. Nisso drogas, sexo sem proteção, roubos e crimes diversos, vão surgindo aqui e ali, naturalmente. Mas tais atos, tais fatos não são destaque. Estão ali apenas para dar certa “verossimilhança” talvez, enquanto o foco é a descoberta em si mesmos dos protagonistas. O erro!
O tom minimalista alcança absurdos graus de falta de arco dramático que sustente o enredo. O espectador não se entrega totalmente ao filme, é como se os personagens estivessem aquém de seu ambiente. Tudo soa artificial, justamente pela insistência em torna-lo leve, num tema que não foi pensado para ser leve. O humor aqui entra como osmose, não tem real significado.
Mas tal qual seu enredo, ora profundo e ora artificial, é inegável o poder de deslumbramento que o filme possui, justamente por ir contra a maré justamente artificial em que vivemos no cinema.
É cada vez mais comum nos depararmos com filmes que versam sobre o fim da raça humana e sua busca por redenção, num reflexo moral. Nisso, entram dramas complexos ou cenários apocalípticos de terror, que utilizam-se da tecnologia de ponta para contar suas historias alarmistas e urgentes. Aqui não, aqui vemos um filme humano, simples mas principalmente físico  onde o cenário natural, onde roupas normais, onde não ha um minimo de efeito especial, ou computação gráfica para servir de alicerce. A força do filme esta em seus personagens e em sua busca. E isso lhe dá todo o credito para se tornar, ironicamente aceitável.

Keira Knightley esta deslumbrante e irreconhecível com seus cabelos curtos e descuidados, no papel de Penny, uma garota solitária que neste fim do mundo quer apenas morrer ao lado da família, deixando para trás todo o fracasso sentimental e amoroso que a assolou durante toda a vida. E é tocante o modo que ela nutre uma paixão intensa por seus discos de vinil. Única preocupação que tem- proteger e manter seguro seus discos. Nisso entra a trilha sonora totalmente nostálgica e simpática que vai desde Radiohead a Samba-rock.
Steve Carell surge aqui como Dodge, um acanhado corretor de seguros, que tenta manter o controle sobre si mesmo após ser abandonado pela esposa. Ele tenta levar uma vida corriqueira, apenas a espera do fim. Sozinho ele vê em Penny, uma igual, mesmo com todas as brutais diferenças de personalidade de ambos.

O filme carrega ainda características de Road Movie, no qual cada personagem, cada parada na estrada representa uma evolução a mais aos protagonistas, mudando-os.
Com um cunho altamente romântico, que beira ao leite condensado com açúcar de tão doce e meloso em algumas partes, o filme consegue encontrar em seu clímax, mesmo que ainda melodramático, um final satisfatório, poético e tocante.

O tempo aqui assume um papel especial. É comum ouvirmos dialogos que versem sobre o tempo que resta, o tempo perdido, o tempo vivido. Penny representa essa mescla de tempos, ao amar vinis antigos, ao usar um vestido surrado antigo, mas manter uma posição comportamental atual e evoluída. Dodge em contra partida, é o cara de meia idade, que vive uma vida regrada, de bons costumes, correta, mas que expressa em suas roupas e jovialidade, uma alma jovem e contemporânea.

É impossível não simpatizar com a química evidente de Keira e Steve em tela, e com a historia, a busca de seus personagens.

Entre tanto, a sensação que fica é que o filme poderia ser mais. Ir além, ser mais audacioso. Onde havia um leque vasto de possibilidades para ser trabalhado, o filme estagna, em mostrar apenas o lado romântico da narrativa. Apesar de toda essa premissa interessante, onde cada ser humano demonstra tudo àquilo que esta intrínseca em si, numa mescla de extinto e complexidades sentimentais e emocionais em vista do fim de tudo, o filme acaba não indo alem de mais uma comedia romântica. Mas interessante mesmo assim.

Não, não é Melancolia; é Romance cômico, mas nem por isso deixa de ser tocante e profundo a sua maneira.

Decepciona apenas por escolher o obvio, o mais fácil, o simples, num enredo construído para ser ousado, rebuscado e complexo. Atores excelentes tem ótima noção de construção narrativa e de cenas, também. O que falta? Um pouco de sal, onde o açúcar transbordou demais.

Longe de ser um grande filme, o filme se limita a ser regular com ótimos momentos, mas para o gênero a que se propôs encaixar e tendo em vista ser uma realização de uma iniciante na direção, Procura-se um Amigo Para o fim do Mundo pode considerar-se sortudo, pois deve encontrar bastantes candidatos a ocupar o que procura.






Ficha técnica

Titulo original: Seeking a Friend for the End of the World
País: EUA/Singapura/Malásia/Indonésia
Ano: 2012
Direção/roteiro: Lorene Scafaria.
Elenco:  Steve Carell, Keira Knightley, Nancy Carell, Connie Britton, Mark Moses, Martin Sheen, William Pettersen.
Classificação:  12 anos.









terça-feira, 20 de novembro de 2012

Critica - In A Better World (Em Um Mundo Melhor)



Com direção de Suzane Bier, esse filme Dinamarquês -  vencedor como Melhor Filme estrangeiro no Oscar 2011, e  vencedor do Globo de Ouro na mesma categoria do mesmo ano - é um retrato Tenso, denso e extremamente perturbador de uma realidade próxima e ainda sem soluções.

Com um roteiro muito bem conduzido pela própria Susanne Bier em parceria com Anders Thomas Jensen,  In A Better World (Em Um Mundo Melhor), traça um panorama extenso sobre o Certo versus Errado. Violência
 Versus Luta.
A sinopse é simples:

"Anton (Mikael Persbrandt) é um médico que trabalha em um campo de refugiados em um lugar qualquer da África. Na Dinamarca, seu país natal, estão sua mulher Marianne (Trine Dyrholm) e seus dois filhos, Elias (Markus Rygaard) e Morten (Toke Lars Bjarke). Paralelamente, acompanhamos a história do garoto Christian (William Jøhnk Nielsen) que emigra para a Dinamarca, ao lado de seu pai Claus (Ulrich Thomsem) logo após a morte da mãe. Dois mundos distintos que irão se cruzar."

Mas a narrativa não. Ela é complexa e pesada.
A vida dessas duas famílias se entrelaça numa serie de atos e momentos que culminam e uma constante provocação nos espectadores sobre o que faríamos em tal situação.
Em dado momento um dos personagens surge com a seguinte fala:

“Pra que brigar? Bater não nos leva a nada. Que mundo seria esse se para viver tivéssemos que viver lutando e brigando?”

Na cena seguinte esse mesmo personagem, tenta resolver algo com diálogos e é agredido na frente dos próprios filhos. Tenta mais uma vez dialogar e é humilhado novamente.

Ate onde a violência (briga por defesa) é valida? Ou não é nem questão de ser cogitada? Essas são as reflexões que o filme propõe e se realiza ao conseguir passar e instigar tal reflexão de maneira funcional.
Isso demonstra uma estrutura de narrativa extrema, ao nos conduzir a um clímax extremamente questionador.

O filme tem atuações memoráveis, que conferem a produção uma realidade crua.
Sua trilha sonora imprime a exata densidade que a película exige, é melodramática, totalmente orquestral e com passagens que chegam a nausear a quem ouve.

Mas o grande trunfo esta justamente no roteiro mesmo. Diálogos pesados, um enredo interessante e bem escrito puxado e personagens tão complexamente reais e humanos que chega a incomodar as semelhanças que podemos ter com cada um deles.

Aqui o que é revelado quase como uma tese, é a violência em todas as suas escalas, mas mais que isso. Ate que ponto a falta de dialogo, de comunicação entre os seres humanos pode silenciar o mundo para sempre e de maneira devastadora.
Não importa onde seja essa falta de dialogo, essas escolhas, essa violência  Seja dentro de casa, na escola, no trabalho ou ate mesmo numa guerra civil africana.
Muito se acha, muito se pensa, muito se percebe, mas quanto disso realmente se sabe, se diz?

Um grande filme, que pode a um primeiro momento não oferecer nada, mas que vai fundo no nosso maior medo e necessidade: a força. A luta.

Mas um aviso: é Perturbador.



Ficha Técnica

Diretor: Susanne Bier
Elenco: Mikael Persbrandt, William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard, Trine Dyrholm, Wil Johnson, Eddie Kimani, Emily Mglaya, Gabriel Muli, Ulrich Thomsen
Produção: Sisse Graum Jørgensen
Roteiro: Susanne Bier, Anders Thomas Jensen
Fotografia: Morten Søborg
Trilha Sonora: Johan Söderqvist
Duração: 118 min.
Ano: 2010
País: Suécia/ Dinamarca
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos









sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Crítica: Les Chansons D'amour




Uma relação a três que encontra num dia comum uma tragédia. Essa é pura e simplesmente a sinopse deste musical.

Dirigido por Christophe Honoré Les Chansons D'amour ( Canções de Amor) transita alem do gênero, e mescla angustia e romance na mesma vertente.

Louis Garrel é Ismaël Bénoliel, namorado de Julie Pommeraye (a bela Ludivine Sagnier); que mantém um relacionamento a três com a também bela Alice (Clotilde Hesme).

Mas o relacionamento deles não é nem de longe o mais importante aqui. A liberdade é o tema, e a busca.
A relação amorosa e sexual se mescla de forma natural, sem ser pedante, critica ou chocante. Ha uma naturalidade extrema a tratar disso. A sexualidade não esta ali para chocar ou polemizar, e sim para fazer parte do cotidiano natural, normal e isso é crível ali. O roteiro preza pelo estado emocional dos personagens e não pelos seus atos, fatos e consequências e isso é peculiar. De pouco importa as ações ocorridas ali, o que importa é somente a sensação de perda, de angustia daquela geração retratada, as duvidas, anseios e paixões no meio disso tudo (emprego falho, condição financeiro tensa, existencialismo em cheque ) .

O verdadeiro embate entre os personagens centrais são com eles mesmo, mas de nada tem haver com o fato deles manterem uma relação a três. Isso é pano de fundo. Uma decisão acertada, na qual muito diretores não pensariam duas vezes em abusar do tema, transformando o filme numa experiência maçante e extremamente clichê.




O ponto alto fica pela beleza e acerto dos planos e concepção de cenas. Com todo um ar independente que cativa e prende. Em especial a cena em que Ismael parece ser perseguido pelas ruas ao ir para o trabalho. Numa sequencia em primeira pessoa, onde nos sentimos parte do filme, como se nós estivéssemos perseguindo e nos escondendo do personagem.

Mas é sua excelente trilha sonora assinada por Alex Beaupain - cujo trabalho neste longa lhe rendeu um César (principal prêmio do cinema francês) de Trilha Sonora Original - que transforma o longa numa experiência no mínimo interessante. As belas canções trazem letras extremamente dolorosas, pesadas, melancólicas, reflexivas, mas em melodias lindas e delicadas. As canções fazem parte da trama e não são apenas um recurso ou artifício.

Apesar do tom leve e descontraído que o longa assume, ele esta longe de ser um filme simples ou pouco complexo ou com temas banais. Ele cai fundo nas angustias dos personagens, em seus olhares, na entonação de suas vozes, nos cigarros fumados, nas noites sempre chuvosas e esfumaçadas de Paris, numa fotografia apagada e quase pasteurizada. Tudo é bucólico.

Ao final, tudo se reafirma. Naturalidade versus Complexidade. em cenas repletas de belas analogias.

Criar um musical original assim, não é tarefa fácil, ainda mais numa indústria que parece ter se esquecido do gênero que outrora foi tão popular no mundo. E por isso Les Chansons D'amour merece ser visto, seja para odiá-lo ou para ama-lo.

De minha parte: Um Ótimo Filme.




Ficha Tecnica: 

Diretor: Christophe Honoré
Elenco: Louis Garrel, Ludivine Sagnier, Chiara Mastroianni, Clotilde Hesme, Grégoire Leprince-Ringuet, Brigitte Roüan, Alice Butaud.
Produção: Paulo Branco
Roteiro: Christophe Honoré
Fotografia: Rémy Chevrin
Trilha Sonora: Alex Beaupain
Duração: 100 min.
Ano: 2007
País: França
Gênero: Musical
Classificação: 12 anos