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terça-feira, 19 de julho de 2016

Resenha: Closer - Perto Demais

O que somos de verdade? O que realmente escondemos por detrás das aparências?
Parece clichê. E o é. Essa indagação é constante entre os humanos em sociedade, pois nunca se consegue um consenso sobre. As relações humanas são algo tão ou mais complexas do que o próprio ser humano e este em existência talvez.





Com um titulo ironicamente certeiro. Closer - que recebeu no Brasil o subtitulo "Perto Demais" - é um filme sobre distanciamentos. Sobre estranhos, como o roteiro escrito por Patrick Marber - baseado em sua peça de teatro de mesmo nome - faz questão de repetir e evidenciar varias vezes, em momentos chaves do longa; e dirigido por Mike Nichols.

Temos o escritor, a fotografa, a stripper e o dermatologista. Se pensarmos nas alegorias e eufemismos que o escritor ama utilizar em seus trabalhos, podemos estabelecer aqui uma dinâmica do que o filme pretende refletir. 

A fotografia nada mais é do que uma representação do real. Assim como as palavras, que são captações da realidade - sejam elas físicas e terrenas ou imaginarias e utópicas -. A pele que muitas vezes nos rotula e nos apresenta e encobre, nada mais é do que uma representação física, do que somos. Uma embalagem, que esconde o que realmente somos por dentro - entre coisas empíricas, ate mesmo coisas clinicas como ossos, carne e sangue, células. E a nudez, assim como a derme, nada mais é do que o ato de aparentar estar despido diante de olhos de Outros. Quando na realidade, a nudez real do verdadeiro Eu, jamais ocorre nem mesmo diante do espelho muitas vezes, à própria pessoa.

Dan, Alice, Anna e Larry. O escritor frustrado que escreve sobre pessoas mortas. A stripper que parece estar sempre fugindo e a procura de algo. A fotografa que bem sucedida que parece nunca estar satisfeita com seus próprios cliques. O dermatologista que continuamente tenta desvendar algo alem do que parece ser capaz de conseguir.

São quatro pessoas que se interligam e representam as nunces das relações humanas, românticas e ate mesmo fraternais e em sociedade dos humanos ao longo dos anos. Tudo isso massificado numa representação inclusive física de descrever essas nuances. vejam, Alice a mais misteriosa dos quatro e no entanto representada por uma mulher de aparência frágil, pequena, constantemente em mudança - seus cabelos esvoaçam em cada leitura da maneira que surge em tela, e isso diz muito sobre seu caráter. Ou mesmo Anna, uma mulher alta de aparência segura e forte, mas que desmorona ao primeiro toque, ao primeiro beijo, as primeiras constatações de realidade e duvidas. Dan e Larry, ambos homens inegavelmente sedutores, olhos claros, brancos e padrões, que por trás da sedução e segurança das palavras, escondem pequenez e brutalidades que se desenvolvem e se escancaram ao menor sinal de perda de ego.

São personagens a procura de algo. A procura de sentido. Que se envolvem pelo prazer e remontam isso, associando com amor romântico. Aquele de fases. Do humorado ao possessivo. nenhum deles parece de fato estar seguro em nenhum momento. tentam a todo custo serem honestos com todos e com eles mesmos, jogando um jogo entre verdades em detrimento de mentiras, tentando assim serem fieis ao que são, mas recaindo justamente por isso, em infidelidade, tristezas, frustrações, caos, dor, lagrimas e desespero. Personagens que tentam a todo custo achar a formula de se relacionar com o Outro e acabam sendo os próprios clichês aterradores de suas próprias vidas. Tudo embalado por uma trilha sonora branda, gostosa, quase piegas e que serve para relaxar e entristecer na mesma medida.

Afinal, quem nunca se apaixonou ou achou se apaixonar.? quem nunca se perguntou qual a melhor coisa: a verdade ou a mentira útil? A verdade que destrói ou a mentira útil?

Prazer e amor, devoção e respeito, posse e companhia. Tudo se mescla numa epopeia - ou quase - romântica - ou em ausência de uma -, caracterizados por esses 4 personagens.
''Quem Tem Medo de Virginia Woolf?'' - do mesmo diretor - a cerca de 50 anos, já mostrava esse embate, onde as pessoas que mais estamos ligados, mais perto, em maior 'Closer, são justamente aquelas que acabamos por menos conhecer, menos prever. São as que mais sabemos machucar justamente por serem quem nós mais queremos amar.

A diferença é que se em ''Woolf'' tínhamos uma clareza de intenções desde o inicio, aqui em ''Closer'', tudo vai se enrolando mais e mais a medida que o longa avança. Pois os personagens fatidicamente creem que estão seguindo os caminhos mais honestos para eles mesmos e para os outros envolvidos.

Mas, não por acaso, justamente a pequena, a de cabelos sempre em mudança, a menos sucedida dentre todos, a mais misteriosa, é que abre o primeiro frame do longa e o que o fecha, da mesma maneira - caminhando entre estranhos -. Isso porque "Alice" (e aqui as apas podem ser utilizadas), é talvez a mais sincera dentre os 4. Não com eles, mas para si mesma. Suas falas são chaves, seu poder é pontual. Sua fragilidade, nem tanto. Engana -se quem a lê como antagonista ou mesmo detentora das mais ardilosas mentiras. Na realidade, naquele aglomerado de prazeres e relações, ela é a cola que dá o ponto de quem são aquelas pessoas. 
(E o filme, como boa representação da realidade, pinta Anna como a desencadeadora de tudo, ora que genial).

Não por acaso também o livro de Dan se chama 'o aquário', e o aquário de fato surge na casa e ambientes diversos nos núcleos de cada um deles. Por que na real, são todos peixes, se afogando, boiando, afundando, e nadando, numa grande vitrine. Num grande aquário diante de nós telespectadores. Estão ali, na estante, na parede, sob uma fina camada de vidro que a menor rachadura, a menor poluição, finda.
Um filme sobre estranhos que estão perto demais. 

Mas, afinal, quem de nós não somos não é mesmo?

Hello, strangers?

Trailer:








Resenha: Stranger Things (Originals Series Netflix)

Mais uma serie original da Netflix, dirigido pelos irmãos Matt e Ross Duffer que pode ser classificada como um orgasmo latente aos fãs ou admiradores da década de 80.



Os Goonies, ET, Evil Dead, Conta Comigo, uma pegada de Poltergeist também (com direito ate a menininha parecida haha) me lembrou muito os filmes do John Carpenter também como O Enigma de Outro Mundo. Spielberg grita aqui.(sua fase boa ala ET - com direito ao mesmo barraco aos fundos da casa do Will, e até mesmo a icônica cena das bicicletas, mas com outro desfecho - e Contatos Imediatos de Terceiro Grau) com aquela vibe Alem da Imaginação, misturada com aspirações de Arquivo x e Stephen King. Trilha permeada por Bowie e The Clash para citar os mais evidentes.
De Dungeons & Dragons a Senhor dos Anéis, brincadeiras de RPG e Star Wars e Star Trek. Sam Raimi não fica de fora com seu Evil Dead - em todas suas sequencias. Na direção de arte temos O Tubarão, Madonna, Millenium Falcon.
Um emaranhado de referencias a cultura pop anos 80 (bebendo um pouco aqui e ali no final dos anos 70) onde a presença brilhante de Winona Ryder no elenco não é mero acaso, O que só reforça a nostalgia. No entanto não soa como copia ou repetição. Ainda que não haja nada de fato 'original'. A intenção é essa.
Desde a abertura a seus diálogos. Há muito de O Clube dos Cinco também e os filmes do John Hughes, no geral.
É como se a Sessão da Tarde e o Cinema em Casa inteiro se fundissem numa trama nova e independente.
(Há ate mesmo os clichês, há X - Men.)
Toda a estrutura clássica esta lá. Grupo de jovens formado por uma amizade que rompe barreiras de esquisitos da escola: o líder, o engraçado, o cético, o sensível. O elemento sobrenatural. O monstro ou o problema. A menina perfeitinha que ama o popular da escola, que é seguido por babacas e patricinhas com sexualidade latente. O professor da escola nerd. Os pais que nunca sabem o que esta ocorrendo. A estrutura família americana de fachada. Os valentões. A conspiração governamental. A batalha de EUA contra os Russos.
Ao contrario do que tenho lido, não acho que haja muito de Super 8 aqui. Por um único entendimento. Super 8 de JJ Abrans pretendia retomar os anos 80 pros anos 2000. Já Stranger Things é muito mais como uma revisita aquela década. Ha diferença entre as duas propostas.
Com os últimos episódios remetendo ate mesmo a Alien, a unica falha da serie talvez seja de ritmo. Isto é: são 8 episódios muito bem distribuídos em tempo de duração de cada episodio, mas que quando compilados, soam a partir do episodio 6 como uma especie de 'vamos enrolar um pouco a trama com assuntos e diálogos que não servem para muita coisa, para batermos a cota de duração da produção'' sabe?
Claro, que os filmes dos anos 80 e 90 também sofriam do mesmo. E isso nunca importou. E o bem da verdade é que não importa fora da escala de analise técnica.
Palmas ao elenco que caiu como uma luva, como ja citada Winona renascendo diante de nós, onde somente a aparição dela em tela já valeria qualquer coisa. Mas, o elenco infantil dá Show. Os quatro garotos - incluindo o que vive Will apesar de pouco tempo em tela - cumprem de forma primorosa a função de resgatar a inocência inteligente e de aventura cômica daquela juventude oitentista. Mas, minha consideração fica com a pequena expressiva Millie Bobby Brown que vive a hipnotizante Eleven. Com um quê de Nathalie Portman em seus momentos frágeis e de Sigourney Weave em seus momentos mais "Jean Grey', a guria segura de forma convincente uma personagem trágica e intensa.
Seja pelo resgate, seja pela diversão ou emoção que trás, ou para os que não são da época, pela novidade de conhecerem uma das melhores décadas da cultura pop (a famosa minha época), a serie vale a pena. Muito. Grata surpresa.
Como nota, achei interessante como apesar do resgate oitentista, a concepção ideológica da trama é permeada de maneira bem velada com as atuais, se percebermos a força das mulheres aqui diante dos desafios que surgem, onde não ha 'a mocinha que é salva pelo mocinho'. Alias, pelo contrario. E ate mesmo a naturalidade que personagens negros surgem sem que sejam para estabelecer alivio cômico com sua etnia, ou ate mesmo a homossexualidade entrando no assunto de maneira orgânica, sem que seja tabu, foco ou exatamente demérito de nada. Ponto pra netflix mais uma vez.

Trailer:











terça-feira, 12 de julho de 2016

Critica: COHERENCE



Com um orçamento de pouco mais de 50 mil dólares, e filmado em apenas 9 dias, esse longa tem sido conhecido desde sua estreia tímida em 2013 como um dos melhores thrillers sci-fi dos últimos 10 anos (outros se arriscam a dizer, que seja talvez desse novo seculo). O bem da verdade, é que ''Coherence'' é um deleite visual - por percebermos como que uma ideia suplanta a falta de orçamento -, de roteiro - onde o argumento vale por qualquer outra super produção hollywoodyana -, e que instiga justamente pela habilidade do diretor em criar uma tensão verossímil, mesmo diante da inverossimilhança possível - ou não - diante dos menos criveis as teorias quânticas, cientificas e etc etc.

A sinopse é simples: 8 amigos decidem se encontrar para uma reunião/jantar de confraternização para relembrar os velhos tempos. Durante o jantar, há um cometa chamado Miller que esta passando pela orbita da Terra. Entre as conversas os amigos relembram as noticias - a maioria infundada - de que pessoas acreditam que esse cometa e outros alteram certas coisas no planeta, como celulares que param de funcionar ou pessoas que alteram seu comportamento. 
Eis que ocorre um apagão em toda a vizinhança, e ao olharem pela janela para saber o que ocorreu, os amigos notam que ha apenas uma unica casa, a dois quarteirões de lá com luz. Apenas essa casa num amontoado de escuridão. Dois deles resolvem sair para pedir para usar o telefone dos moradores dessa residencia (pois um deles precisa falar urgentemente com o irmão). Ao voltarem, coisas estranhas começam a surgir.

Ele mescla dois conceitos básicos da ciência: A teoria do Multiverso e a teoria do Gato de Schrödinger, uma das mais famosas teorias acerca da incoerência e decoerência quântica.

O Multiverso versa sobre a teoria das cordas, estudos sobre a enigmática matéria escura e os resultados obtidos sobre a expansão crescente e sem retorno do nosso universo parecem exigir uma resposta que rompe com um paradigma fundamental - o universo é infinito e nele tudo está contido. A teoria do multiverso traz o sentido no nome: existiriam infindáveis universos numa espécie de queijo de energia quântica, onde bolhas se formam e somem sem parar. O nosso universo seria um deles. Resumindo: É a teoria de que existem milhares de universos. (o filme inclusive brinca com essa parte quando em certo momento um dos diálogos cita um pedaço de queijo e ketamina como aperitivo antes do jantar rsrs).

Já a base mais evidente do argumento do filme esta na teoria do Gato de Schrödinger ( Schrödinger foi um físico austríaco ganhador do Prêmio Nobel de Física e tido como um dos cientistas mais celebres do seculo XX), que consiste numa experiencia onde se coloca um gato imaginário dentro de uma caixa com um pote de veneno e fecha-o la dentro. A caixa onde seria feita a hipotética experiência de Schrödinger contém um recipiente com material radioativo e um contador Geiger, aparelho detector de radiação. Se esse material soltar partículas radioativas, o contador percebe sua presença e aciona um martelo, que, por sua vez, quebra um frasco de veneno. De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade pode se manifestar em forma de particulas ou ondas - e uma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. As ondas representam as probabilidades de ocorrência dessa dupla realidade, quando, na mesma fração de segundo, o frasco de veneno quebra e não quebra. Assim, teríamos duas possibilidades possíveis: 


a) O gato aparece vivo, porque, nessa versão da realidade, nada foi detectado pelo contador Geiger, e portanto ele não quebrou o frasco de veneno que mataria o gato.


b) O gato surge morto, pois nessa outra versão do mesmo instante de tempo o contador Geiger detectou uma partícula e acionou o martelo. O veneno do frasco partido matou o animal.


Seguindo o raciocínio de Schrödinger, as duas realidades aconteceriam simultaneamente e o gato estaria vivo e morto ao mesmo tempo até que a caixa fosse aberta. A presença de um observador acabaria com dualidade e ele só poderia ver ou um gato vivo ou um gato morto.
Simplificando, a teoria cujo o filme implica, é aquela famosa ideia de que existem vários universos e realidades coexistentes ao mesmo tempo/espaço e que nossas escolhas constantes alteram cada linha de realidade.
Dirigido por James Ward Byrkit (sua estreia na direção. Ele foi co-roteirista da animação ''Rango"), o filme brilha justamente por trazer esses conceitos de forma orgânica ao unir a ciência teórica, numa especie de experimento 'possível' através da desculpa de gancho de roteiro do cometa (que seria aqui a força inexplicável capaz de interferir nessas leis quânticas e físicas), mas usando isso para debater e refletir sobre as relações humanas e existenciais. Não importa muito a certo momento do filme como pode ser possível X ou Y situações, por que o que importa de fato são os pensamentos e atitudes daqueles 8 amigos diante daquelas milhares de possibilidades e situações apresentadas.
Todos os amigos ali, se reúnem depois de vários anos, cada um tendo uma escolha na vida que os levaram a vários caminhos diferentes. nem todos surgem satisfeitos com suas escolhas - como todos nós diariamente -. Quando esse lapso ocorre ali, cada ação altera uma realidade daquela dinâmica em diferentes espaços e tempos, mas altera também a dinâmica deles, com eles mesmos. Em certo momento uma das personagens diz que aquela experiencia poderia ser aquilo que todos nós humanos sempre no intimo queremos ao longo da vida: poder encontrar-se consigo mesmo em diferentes realidades de escolhas que não fez. Como eu estaria hoje se eu tivesse pegado o ônibus detrás e não aquele que veio antes? Como eu estaria se eu preferisse vir a pé ou de taxi? Como seria minha vida hoje se eu tivesse escolhido aquele outro curso, aquela outra roupa, ou simplesmente, acordado cinco minutos mais cedo? Ocorreria algo na minha vida, no meu caminho ate aqui diferente por causa dessa minima escolha que fiz? E se cada uma dessas possibilidades, desses 'eus' pudessem se encontrar num mesmo lugar e tempo e se confrontarem? Eu descobriria quem eu realmente sou em toda a vasta complexidade de facetas que somos?

Em vários momentos o filme me passou o clima da lendária serie Twilight Zone, de meados dos anos 50/60. Uma mescla de terror e suspense, com aplicações filosóficas, de desfecho surpreendente e instigante.

Apesar de parecer muito complexo, a dinâmica em si é simples, apos acompanhar o filme. basta prestar atenção nos detalhes que ele fornece - cada frase é essencial para o entendimento, por mais que na hora pareçam jogadas a esmo. Não são.

Eu pessoalmente só me enrolei de fato - e certeza que essa foi a intenção do diretor - com os 3 minutos finais do filme. Onde o conceito básico do experimento se choca com uma 'incoerência' do próprio sentido cientifico dele. Mas, que abraço outros conceitos possíveis, e por isso são teorias.

Contando ainda com uma trilha sonora pontual e certeira em cumprir o papel de ir preparando o clima para as ações - o que faz com que o filme as vezes tenha ares de Terror ou Suspense; uma ótima surpresa ainda é a fotografia que ainda que não tenha nada de muito rebuscada, possui uma logica narrativa eficiente, ainda mais quando se percebe os artifícios usados para burlar o baixo orçamento - como a utilização de velas, e luz ambiente. A câmera na mão aqui também é funcional e não apenas um recurso de linguagem. Parte pela produção modesta e parte para passar a sensação de proximidade com os espectador.

Um filme gigante como o tema que aborda, uma surpresa grata de estreia de um diretor que pretendo acompanhar e principalmente um alivio diante de tanta produção bilionária rasa por ai, que prova que uma ideia inteligente vale mais do que qualquer super câmera ou grande elenco famoso.

Recomendável (mas pode causar enxaquecas)





Trailer:





Ficha Técnica:

Direção: James Ward Byrkit
Roteiro: James Ward Byrkit, Alex Manugian (co-roteirista)
Elenco: Emily Baldoni, Maury Sterling, Nicholas Brendon, Elizabeth Gracen, Alex Manugian, Lauren Maher, Hugo Armstrong, Lorene Scafaria
Trilha Sonora: Kristin Øhrn Dyrud
Fotografía: Nic Sadler, Arlene Muller
Duração: 89 min.
País: EUA
Ano: 2013

Prêmios: Festival de Sitges como Melhor Roteiro (2013) e Gotham como Melhor Novo Diretor (2014)








sábado, 2 de julho de 2016

Team Jess - Gilmore Girls




Team Jess, Team Dean, Team Logan - e ha ainda os Team Marty e Team Tristan (sim, há).

Do que estou falando? Gilmore Girls claro, e os times de rivalidades entre os fãs que torcem pelo parceiro perfeito para Rory Gilmore.
O bem da verdade é que Rory Gilmore não estaria bem com nenhum deles. Ela terminou a sétima temporada em relacionamento serio com sua vida profissional e seu sonho em se tornar Christiane Amanpour, viajando o mundo, conhecendo e noticiando fatos.

No entanto, no imaginário de tantos fãs que cresceram na geração 'disney' e comedias românticas com Sandra Bullock, o fato de uma garota no meio da primeira década dos anos 2000 era inaceitável, e ficamos tentando imaginar com quem Rory teria finalmente ficado, já que os três parceiros oficiais dela ao longo da serie seriam potenciais possibilidades, já que ambos tiveram resoluções em aberto.

Eu, desde que conheci Jess Mariano - naquele seu estilo rebelde sem causa, James Dean a lá Kurt Cobain feat Bad Boy - soube de imediato que ele seria o meu escolhido como par perfeito para Rory.
Isso vinha muito mais do apego ao personagem - inadequado- do que por achar ele ideal para ela.
O tempo passou, cresci, fui me empoderando em questões sociais, de gênero e etc e etc, e cheguei a conclusão obvia, que o relacionamento de Rory e Jess nunca foi saudável.
Mas, ainda assim, dentre os três oficiais, cheguei a conclusão também, que nenhum foi saudável para ela. Os tr~es rapazes de diferentes formas foram nocivos para ela. Nenhum deles compartilhavam do mesmo momento e maturidade de Rory. nenhum deles eram passiveis de seus machismos e abusos de homem contra ela mulher.

Ainda assim, resolvi fazer a linha Annalise Keating e explicar aqui por que apesar de toda essa constatação, ainda assim sou um Team Jess fervoroso por mais de 13 anos.

Como nota é importante salientar que sou homem, e de forma alguma pretendo adentrar questões de feminismo que não me cabem quanto homem relativar. Aqui o que postarei sera apenas uma analise técnica baseada na construção do roteiro da serie e de minha visão totalmente tendenciosa de fã da serie,


Dean


Dean sempre foi e ainda é o simbolo do primeiro namorado perfeito. Aquela construção de namorado feito príncipe encantado, sonho d consumo. Alto, cabelos sedosos, cavalheiro, gentil, que move fundos e mundos pela sua princesa. Trabalhador, de classe media baixa. Dean foi o namorado perfeito para Rory. garota ingenua, sonhadora, delicada, extremamente independente e inteligente, que sonhava com o amor romântico desajeitado e próprio do inicio da adolescência. Daquele de mandar cartas e depoimentos no orkut.

No entanto, Dean tinha um enorme problema: possessividade, Em vários momentos o ciumes dele demonstrava um dom peculiar para cometer o que chamamos de gaslighting. Em todas as brigas dele com Rory de alguma forma sempre ela se sentia a culpada da situação e ele coitado, bondoso, gentil, garoto modelo surgia arrependido mas com clara noção ali entre os dois, de que ela exagerou, ela fez a situação rolar e ele tinha total aval para ter se irritado. Alias, a irritação é outro ponto que ao longo das temporadas foi surgindo de forma natural da personalidade dele, e que mostrava que ele apesar de todas as qualidades, é um cara de temperamento explosivo (lembra o Luke nisso).
Mas, o veridito final para eu avaliar que ele não é o par perfeito para a Rory, ocorreu com a primeira vez dela (na vida) e dele juntos. Dean era casado. Traiu a esposa com a Rory e ainda manteve a relação, mantendo ela como a amante. Ele com isso fez o papel de relacionamento abusivo para Rory e para a esposa. E se não bastasse, apos a separação (que veio apenas pela descoberta da esposa, se não provavelmente as coisas continuariam), ele se mostra totalmente inadequado para Rory. No que ela se tornou.



Logan



Bem, esse nem precisa muito de explicação. Mimado, rico, inconsequente. Ele une características de Dean e Jess num corpo só - numa versão loira de blazer e limousine -. Por mais que ao longo das temporadas ele se transforme e consiga demonstrar certas mudanças por causa da convivência com a Rory, Logan ainda assim tem a tipica postura do marido machista usual: tanto nas falas, na condução do relacionamento, quanto nas brigas e decisões que toma. Ha traição aqui, onde ele trai a Rory, comete mancadas e repetidas vezes se desculpa, onde ele inexplicavelmente surge, como coitado. É uma situação macro do Dean, só que com o plus - a seu favor - do amadurecimento. Aqui [é uma relação adulta.
Ao final, ele deixa um ultimato a Rory, e ela faz a sua escolha.


Jess


Jess foi a relação mais conturbada dela sem duvidas. Ainda que na relação com o Dean tenha tido traição, ainda que na relação com o Logan tenha tido ate prisão, foi com o Jess que Rory teve a relação mais ambígua e analiticamente mais complexa ate hoje. Jess tem um 'quê de Luke, tem uma inegável ligação de alma gêmea com a Rory nos gostos e pensamentos, na dinâmica - é a unica relação onde ela não precisou ensinar ele a ser algo (como foi com o Dean q teve que aprender a lidar com o jeito Gilmore de ser), e onde ela não precisou aprender a se doar/mudar por algo (como ocorreu com o Logan onde ele foi mudando por ela, e ela foi se transformando por ele). Com Jess Rory era ela, desde o começo ate o fim. Ela não precisava fingir, mudar, transformar. Ela era ela. E ele era ele. Com ela. Isso numa fase do final da adolescência. Onde Rory estava se descobrindo mulher, com desejos e medos, e ele numa incompreensão de sociedade extrema. Não deu certo. Ele de todos era o que transparecia maior relacionamento abusivo. Seja pela melhor amiga (Lane) não gostar dele, seja pela mãe (Lorelai) também não gostar dele, seja pelos avós não gostarem dele. Seja pela maneira 'despreocupada' que ele levava a relação. Explico: enquanto Dean e Logan sempre demonstraram continuamente fomentar e procurar a Rory, se explicar, e fazer mil coisas para ela, Jess jamais demonstrou ser adepto desse tipo de 'apego' de relacionamento. Muito pelo contrario. Feito um tipico Bad Boy ele sempre demonstrou sim gostar dela, mas sem se preocupar com convenções sociais de relação. Nunca quis agradar a família dela, nem era de ligar varias vezes ao dia, nem de procurar continuamente.

Ao final, com algumas mentiras por parte dele aos questionamentos dela, ele a abandona. Simplesmente some sem dizer adeus, após quase forçar uma situação sexual entre eles, dando a impressão momentânea a Rory de que ela mais uma vez era a culpada pela situação (notem ambos sempre arrumaram jeito de faze-la se sentir culpada por algo). Obviamente tudo ocorria por um problema pessoal dele, na vida pessoal dele, onde tudo estava dando errado e ele preferiu fugir da vida dela.


Anos mais tarde, Jess reaparece e ele é a peça chave para fazer Rory voltar a ser quem ela realmente é. Basta dois dias com Jess para ela lembrar quem ela é. Mais uma vez o roteiro nos mostra que Jess é o elemento tal qual sua mãe, que mantem Rory em seu próprio mundo. Jess tem um quê de Lorelai tbm (assim como tem uma quê de Logan, importante dizer. Ela só nunca foi parecida ironicamente com o Dean, de qual ela mais gostou).

Por essa leitura, sou Team Jess, por entender que a construção do personagem a liga a Rory. E não de maneira amigável, e sim amorosa. É o único com quem ela não tem relações sexuais, mas é o primeiro que ela demonstra querer a principio (com Dean e Logan foram eles que a procuraram para que ocorresse). Quando Jess reaparece ele é um artista, muito mais 'sociável'. A fase adulta esta ali, e condiz com a fase de Rory. Mas, esta na época se sente apaixonada por Logan - mas isso não a impede de beijar Jess.

Dos três, há evidencias ao longo da serie de que Jess é a unica pessoa que consegue rivalizar a atenção de Rory diante de sua mãe. Rory jamais deixaria nada intervir entre ela e a mãe. Com exceção de Jess, que sempre surgia como uma ruptura, não de distanciamento, mas de demonstração de que era a pessoa com quem Rory possuía uma ligação tão forte, em que ela, Rory, é capaz ate de perder a formatura da mãe e perder um dia de aula.

(Bacana também lembrar que Rory trai Logan e Dean com Jess e nunca traiu Jess com ninguém, assim como Jess foi o único que nunca traiu ela com ninguém)

Por isso, meu veredito é: Que Rory esteja sozinha ou na companhia de outra pessoa - homem ou mulher - que realmente esteja na mesma sintonia que ela e que seja compatível com o que ela se tornou. Caso não seja possível e ela precise terminar com um dos três, que seja Jess (o artista escritor).

*Como nota, revendo a sexta temporada, percebi que meu apego pessoal com o Jess se justifica por ele ver nos livros um escape do mundo. Próprio dos artistas, ele prefere viver e viajar nas paginas dos milhares de livros que lê - tal qual Rory - para fugir da sua realidade que a ele pesa. Eu como artista e escritor entendo e me vejo nisso.