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sexta-feira, 12 de abril de 2013

Critica: Antiviral

O ministério da Criticofilia adverte: 




Um antiviral é uma classe de medicamentos usado especificamente para tratar infecções virais. Como os antibióticos para as bactérias, antivirais específicos são usados para vírus específicos. Podem também distinguir-se de viricidas, que desativam partículas do vírus fora do corpo.

Isso são Antivirais. Porem o filme de estreia de Brandon Cronenberg não é bem assim que se justifica.

Antiviral vem à tona com o peso do nome Cronenberg nas costas, uma premissa excelente e perturbadora, mas um desenrolar um pouco duvidoso.
Num futuro indefinido, o mundo faz parte de uma grande sociedade que cultua as celebridades, não tão diferente dos dias de hoje, com inúmeros reality shows e programas, revistas voltadas para o show business reinam e operam a cada dia mais solidamente e em ascensão.

Porem nessa nova realidade, a 'cultuação' as estrelas imediatas se dá de maneira mais intrínseca  Uma nova tecnologia do mundo farmacêutico permite que fãs e admiradores, consigam se conectar de forma orgânica com seus ídolos. Tão intimamente a ponto de poderem partilhar doenças com eles.
Empresas patenteadas coletam vírus de doenças de artistas renomados e oferecem esses vírus as pessoas mediante a um alto pagamento. Assim, nesse futuro, se você é fã do Brad Pitt e ele por ventura contrai uma intensa Hepatite C, mediante a um alto pagamento, você poderia contrair o mesmo vírus dele, retira-lo das células do corpo dele. Através de um sistema complexo de mutação, essas empresas controlam os vírus, para que ele não seja contagioso, tornando-o assim exclusivo e contra cópias, assim quando se paga por uma doença há a certeza de que só a pessoa que pagou para contraí-la a terá.

Bula:

 Syd March (Caleb Landry Jones) trabalha em uma clínica que vende injeções de vírus colhidos em celebridades doentes para seus admiradores fanáticos.
Porem, Syd ocasionalmente traz esses vírus para o submundo, injetando as doenças em seu próprio organismo, para depois conseguir manipular o vírus e repassá-lo para ser vendido no mercado negro.
Depois de se infectar com o vírus que matou uma superestrela - Hannah Geist (Sarah Gadon)- Syd se vê num enorme problema, além do vírus parecer incontrolável, ele deve desvendar o mistério que envolve essa estranha doença para salvar sua própria vida e todo um sistema.

Com essa trama o roteiro assinado pelo próprio diretor Brandon, consegue se consolidar de maneira efetiva. Bem estruturado e com um ritmo controlado, o filme consegue avançar de maneira coerente e gradual, revelando uma abertura para questões profundas de critica comportamental, social. Porem, talvez, por ousadia demais ou por inexperiência, do segundo ato em diante, o filme cai num ode incontrolável de clichês e erros ínfimos que não só tornam o filme extremamente caricato e confuso, previsível, mas também errôneo em seu próprio propósito. Isso por que o filme que surgia teórico e conceitual, se transforma num Thriller de terror psicológico, com perseguições e intrigas de poder que o resumem a um mais do mesmo chocante apenas.

Pois sim, Antiviral é chocante e perturbador a ponto de incomodar. São carnes sintéticas criadas a partir de células humanas cozinhando e sendo comidas, são vômitos, sangues, fluidos corporais, e uma degradação humana de maneira tão insana, mas ao mesmo tempo tão pertinente que causa repulsa.

Aliado a uma fotografia com um designer incrível permeados pelas cores branca- bem estourado por vezes- prateado e preto, dando um tom 'fabulesco' e macabro ao filme. Tudo para demonstrar o quão insano e psicótico é aquela realidade. Quando essa ausência de cor, essa monografia é quebrada pelo vermelho intenso do sangue, o visual que se cria é sensacional. E o visual impecável se estende ao excelente protagonista Syd, que consegue transmitir sua falta de sentimento, a frieza daquele mundo fanático, sempre apático, com seus cabelos ruivos.

Mas é justamente essa frieza que prejudica Antiviral, se ela é valida no personagem central, ela, contudo arrasta o filme todo numa repetição incômoda, de anti-realidade. Nada ali convence, é tão sintético o mundo orgânico que o filme quer nos passar, que o filme acaba deixando a sensação de que tinha tudo para ir além, para permanecer, mas simplesmente se perde. Trava. Não avança. Uma pena.
Pena e problema que diga-se de passagem, assolou seu pai, David Cronenberg com seu mais recente filme, e igualmente duvidoso Cosmópolis. Ao tentar demonstrar a frieza e robotização da sociedade, estendeu ao filme essa mecanização.

Levando-se em conta que é o primeiro filme do jovem Cronenberg, tendo o pai que tem – o que é evidente não só no nome, mas também no estilo narrativo, que permeia todo o longa, em claras referências ao pai – e nos entregando tamanha inventividade de conceito, Antiviral não só é relevante e vale ser conferido como também deve ser encarado como uma pequena infecção, num promissor sistema orgânico cinematográfico que espera o jovem diretor.

Apreciem, mas com moderação.

Trailer



FICHA TÉCNICA

Diretor: Brandon Cronenberg
Elenco: Caleb Landry Jones, Sarah Gadon, Malcolm McDowell, Douglas Smith, Joe Pingue, Nicholas Campbell, Nenna Abuwa, Salvatore Antonio, Elitsa Bako, Milton Barnes, Katie Bergin, Lisa Berry, James Cade, Mark Caven, Lara Jean Chorostecki, Tedd Dillon, Jackie English, Donna Goodhand, Andriy Haddad, Josh Holliday, Kim Ly, Reid Morgan, Ian O'Brien, Vincent Thomas, Lady Vezina, Matt Watts
Produção: Niv Fichman
Roteiro: Brandon Cronenberg
Fotografia: Karim Hussain
Trilha Sonora: E.C. Woodley
Duração: 110 min.
Ano: 2012
País: EUA, Canadá
Gênero: Ficção Científica/terror psicologico
Classificação: 14 anos








1 comentários:

Eu gostei do filme, meio viajante em certas horas, mas tem uma abordagem interessante sobre celebridades, só tá faltando isso mesmo.
A parte do açougue e as tais de carne de celebridade.
Realmente a fotografia é linda.
O final é doentio, mas até se justifica pra quem faz parte de um sistema podre assim.

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