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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

(Comentário) Gilmore Girls: A Year in the Life



(Esse texto não é uma resenha, nem uma critica. É apenas um comentário pessoal de um fã  sobre uma obra que marcou e esta alem da pele)


(CONTÉM SPOILERS)






Depois de mais de 9 anos de espera, finalmente Gilmore Girls ressurgiu.

Após sete temporadas clássicas que a consolidou como uma das series mais queridas e bem escritas - por seus diálogos rápidos e repletos de referencias, e seu cunho feminista numa época onde a  militância ideologia ainda não era tão clara na TV - a serie ganhou um Revival de 4 episódios de 90 minutos de duração aproximadamente acada, para concluir a historia à maneira que seus criadores, o casal Palladino queriam, mas que foram impedidos de finalizarem à 9 anos atrás por terem sido retirados da direção/roteiro da serie na sétima temporada.

Intitulado Gilmore Girls: A Year in the Life  (Gilmore Girls: Um Ano Para Recordar), o revival estreou completo na Netflix no dia 25 de novembro as 06h da manhã (horário de Brasilia) e euzinho como bom fã que sou da serie, protelei o máximo que pude, mas finalmente terminei os 4 episódios e só sei chorar, tremer e ficar bem bravo. Mas explicarei por que.

O Revival foi tomado por ciclos. Desde a estrutura formada pelas quatro estações, ate pela característica dessa vez mais evidente de nascimento, crescimento, amadurecimento e morte, ate mesmo as gerações de Gilmores, ate pelas ações na narrativa que iniciavam ciclos que deviam se completar de alguma forma. Definitivamente foi um revival para términos. Para conclusões.
Em cada detalhe ASP fez questão de incluir passagens seja em falas ou em olhares de personagens e suas aparições, conclusões de tramas ate que nem necessitavam de fato de conclusão, mas que eles acertadamente concluíram mostrando quais os caminhos que aqueles personagens icônicos levaram ou levariam nesses anos todos.
Assim é natural vermos Sookie largando seu lar e indo atras de novos cheiros e texturas em contato com a terra e a natureza. Sookie sempre foi uma Chef de cozinha brilhante quase sobrenatural no seu dom de combinar gostos, cheiros, sabores em pratos infalíveis. Mas, desde a primeira temporada ela tem uma preocupação em se reinventar. Em criar e não apenas reproduzir receitas. O dom dela é justamente a originalidade de ter pratos com sua marca. Assim como ha cantoras que reconhecemos de longe pelo tom de voz, pela letra da musica, Sookie de maneira inexplicável reconhecíamos pelos seus pratos. É reconhecer a genialidade daquela mulher na primeira garfada (algo que sabemos existir com o a relação da Lorelai com o café do Luke por exemplo rs). Cada aparição por mais breve que tenha sido foi satisfatória como devia ser. A Cidade de Star Hollow congelou no tempo em sua estrutura mas acompanha a passos talvez lentos mas acompanha os avanços e novidades do mundo. As referencias a Game Of Thrones, a The Walking Dead, a Katy Perry, a Narcos estão ali. Mas o que sempre encantou naquela cidadezinha é seu poder de nos transportar para um local paralelo do mundo exterior onde se forma como um refugio do caos desse mundo contemporâneo. Quem nunca quis morar ou visitar Star Hollow?
A morte do patriarca Gilmore obviamente ao contrario do que provavelmente era planejado no roteiro original de anos atras, permeia todo o revival. Sim ele esta morto mas não deixou de estar presente. Richard Gilmore tem seu rosto, nome, altura e presença em cada cena. Não só na influencia de sua perda na vida dessas três mulheres, mas também no próprio tema da serie: ciclos.

Um bom ciclo - alo, alo Rei Leão rs - é cíclico, ele é redondo. Começa onde termina e termina onde começa. Com pequenas mudanças no trajeto e forma, afinal o passado jamais volta, ainda que o eco seja parecido vindo de lá de trás, ele acaba ali no futuro pelas influencias do presente. Fecha o circulo mas de maneira própria.
E foi assim o final dessa serie. Eu como fã fiquei revoltado com a esperteza da ASP de manter Gilmore Girls sendo uma fabula. Sim, é uma serie que trata de assuntos bem reais e essa temporada em si de assuntos extremamente contemporâneos, principalmente no que diz respeito as Lorelais; mas a serie jamais se deixa enganar na sua formação de ser uma grande fabula. Todos caricatos, todos em situações absurdas de ocorrerem em qualquer lugar que não uma Hogwarts ou um mundo de Oz. Star Hollow e tudo que passa por ela são locais saídos de livros fantásticos de programas de tv e telas de cinema. E isso que encanta. Ele tem sua dose critica da nossa realidade aqui terrestre mas mostrada com a segurança naquela magia fantástica de um mundo alternativo. Por tanto seu final merecia e precisava ser fabulesco. Precisava ser o que muitos chamarão de clichê, mas que se enquadra como único final digno de tal narrativa que explica que cada grito que se dá atravessa gerações ate ser entendido.

Vimos Lorelai fazer as pazes com sua necessidade constante de renovação, de independência, de controle absoluto de sua própria vida, em suma, vimos sua redenção finalmente em se entregar a uma vida a dois. Vimos suas pazes com sua mãe, e com seu pai. com sua essência, a sua maneira. Sem pedidos de desculpa, sem reconhecimento de erros e injustiças. Apenas mãe e filha entendendo como são, quem são.
Vimos Rory representar o que sempre representou: a geração do momento em tela. Cada fase de Rory representou a geração do ano em que se exibia a serie. E hj em dia, a geração - minha geração - dos 25/30 anos passam pelos mesmos desafios e duvidas que ela. Se Lorelai enfrenta planos concretos que aparentam estar se quebrando e sem sentido. Rory, enfrenta a dificuldade de construir esses planos por causa do mundo que não espera mais que a gente os escreva e os entenda. A geração de Lorelai possuía o fator do tempo. De poder arriscar-se e voltar da onde saiu caso o plano falhasse. Emily é da geração onde ela não possuía a possibilidade de riscos ou planos. Eles ja haviam sido formados e decididos por ela. Bastava a ela segui-los. Rory no entanto é da geração onde tudo é possível,. os planos ou nenhum plano. Onde são milhões de possibilidades te empurrando e de chamando ao mesmo tempo, tantos que minha geração se vê paralisada, sem saber qual caminho seguir, justamente pq somos formados por muitas características. Antes ou se nascia para ser medico ou advogado. Hj somos construídos podendo ser médicos e advogados e cozinheiros, e jornalistas e donos de clinicas de fertilização e ainda bateristas de banda de rock. Podemos ser qualquer coisa, mais de uma coisa apenas e isso assusta. Pq jamais sabemos para onde ir. Rory representa esse caos, esse pesadelo.Essa busca por si mesmo. Crise dos 25 tantos anos e alem.
E Emily não morreu apos sua geração. Por tanto coube a ela permanecer tendo que se adaptar a todas essas gerações apos ela. Colocando em check sua construção de sempre. Ela foi criada para crescer e casar e viver pelo e para o marido. Mas, quando esse marido morre, abre-se um leque enorme de possibilidades que ela jamais pensou precisar enfrentar. Rory enfrenta o mesmo, mas ela tem a vantagem da juventude. Emily não. E isso desespera. Isso machuca. Isso torna caos o que era calmaria. Essa matriarca Gilmore enfrenta isso da melhor maneira, tornando-se aquilo que sempre foi: uma força incontrolável da natureza. No final das contas essas três mulheres são idênticas, só mudam de idades.

Mas, o que mais esta deixando todos entre um misto de raiva e emoção é o final. As 4 palavras finais, que comentei brincando num post de internet e realmente ocorreram exatamente como imaginei (só errei o local, achei que seria no Lukes mas foi no Gazebo).
Rory enfrentando o mesmo que sua mãe no passado, Se antes Lorelai engravidou sem casamento aos 16 anos. Rory agora engravida provavelmente de uma menina pro ciclo continuar, aos 32/33. Com o dobro de idade, Rory tem a vantagem de refazer a saga da mãe, de escrever e refletir num livro sobre sua própria criação e tomar a decisão que ela sempre sofreu para fazer: em que mundo ela se encaixa. No mundo dos avos ou no mundo da mãe. Rory sempre foi descrita como uma Lorelai mais nova. Mas a verdade é que ela consegue unir os dois mundos - o que Lorelai construiu e o que Lorelai fugiu - num único lugar particular próprio. Se antes Lorelai engravidou de Christopher, agora Rory Engravida de Logan. E ambas as relações são equivalentes. E ela entende isso no momento em que engravida. Logan no final das contas é o que sempre achei que ele fosse para ela. Ele é o alivio de todos seus pesos, de tudo aquilo que Rory é mas não sabe lidar. Logan é o cara que não apenas leva a garota ao parque de diversões, ele constrói um parque para a garota. Logan é o cara para quem ela sempre se entender
, sempre se divertira. Enquanto Dean como já sabíamos, mas a serie quis reafirmar isso, é o cara que lhe daria a segurança. Dean é seu Richard. Dean é a representação de uma vida regrada e familiar clássica que sua avo sempre quis para si - sem o adicional do dinheiro, claro -. Dean representa segurança. Representa certezas. Mas, jamais foi feito para ser o certo. Para o ser o eterno. Afinal com Dean ela teria sempre os almoços de domingo e os sábados no parque. Mas, Rory não é só Emily, Rory é Rory. Ela é uma mistura.
Da mesma forma que Logan é seu Christopher. Ele é o afastador de tédio. É a aventura. É a juventude. É o desafio. É o risco. É o pulo constante no precipício segurando um guarda chuva. Logan é surpresa, é a falta de previsibilidade que tanto a fascina. Mas, novamente ela não é somente isso. Afinal, ela precisa de solo. Ela precisa de lar também. Ela precisa de planos. Ela precisa de suas listas de pros e contras de sempre. Seu mundo é uma mistura disos tudo. De aventura e lar.
E aqui entra Jess. Que amando ou não, criticando seus abusos ou não, é um personagem que desde o inicio é a cara de Luke. Ambos são iguais. Luke era Jess na adolescente. Luke sempre foi igual a Jess, sem o adicional da leitura claro, mas tudo que compõe Lukes adulto, antes passou pelo Luke adolescente que é idêntico a Jess. Briguento, rabugento, bad boy, revoltado, inadequado para demonstrar sentimentos. No entanto Jess possui aquela camada diferente que é o que o liga a Rory: ele não teve a construção familiar do Luke. A construção familiar do Jess é parecida com a de Lorelai no que diz respeito ao que ela sentiu sempre com relação aos pais, não deles com ela, claro. Em resumo, Jess é o balanço final entre aventura e riscos que Logan tem a oferecer, e o lar e segurança de sempre estar la para ajudar que Dean sempre foi.
Jess representa o Luke de Rory. O amigo que jamais se tornará apenas um amigo. Um amigo que vai construindo um laço de respeito e intimidade tão grande onde um conhece o outro de tal forma, onde ouve, sobretudo ouve o outro de tal forma que caminham.
Com qualquer um desses, ela sempre seria feliz. De varias formas diferentes. Mas, a questão nunca foi eles. Jamais será.
Nenhum desses caras são necessários de verdade. Eles representam apenas algo que já existe nela. Que existe na Rory, eles são apenas a manifestação externa de algo que ela possui sozinha. Não estão ali para completar nada, estão ali para representar apenas o que ela mesma seguira ou não, depende de sua escolha. Ate pq, se Dean, Jess e Logan, são representações modificadas e atuais de Richard, Christopher e Luke, é obvio, que a relação dela com estes não seria/será idêntica, Assim, não vejo um Logan sendo Chris ao descobrir a gravidez. Mas, sim vejo uma Rory sendo Lor ao contar/deixar ele saber.
Assim é natural que tenha sido Jess a sugerir que ela escrevesse a serie que estamos assistindo e nos apaixonamos. é Natural que seja Jess a apontar que Rory nasceu para escrever Gilmore Girls.
e é mais natural ainda, que o ciclo se feche ou se abra, com uma nova possível Gilmore Girl surgindo, sendo criada por sua mãe apenas, com ajudas pontuais de um 'melhor amigo' escritor que sempre estara lá para ela finalmente. Ate um dia quem sabe....

Jess levou anos para entender que seu lar residia justamente naquela que lhe fez referencia a Oliver Twist. E Rory sempre soube que ela nasceu para contar e fazer historia sendo ela. Levando cada pedaço que a construiu, para formar algo único. Entre erros e acertos, tal mãe, ela filha.tal vo, ela neta.

Um final perfeito, mas que fica com aquele sabor marqueteiro de que poderia continuar. Se continuara ou não (parte de mim não quer que continue, tudo precisa terminar afinal), mas outra parte entende que não poderia ter havido um final melhor. Afinal, a letra de abertura da serie diz tudo o que precisávamos saber sobre esse encerramento, Seja no campo ou em NY, seja como for, as Gilmores Girls seguirão para onde decidirem ir, pois sempre estarão ali uma ao lado da outra da maneira que for. Foi um prazer retornar <3

''Where you lead
I will follow
Anywhere''


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