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domingo, 16 de dezembro de 2012

Critica - As Vantagens de Ser Invisível


“Bem vindo à ilha dos brinquedos desajustados...” 



Com direção de Stephen Chbosky, “As vantagens de ser invisível”, vai na contra corrente de seu titulo e se torna um gigante a mostra de quem se permitir enxergar.

Quando Charlie começa a digitar em sua maquina de escrever uma carta para um amigo ao qual ainda não conhece- ou aparenta ainda não conhecer, nunca se sabe ao certo -; somos transportados para um mundo entre a adolescência e a vida adulta. Seu mundo. Primeiro dia de aula, na qual ele já o começa contando quantos dias restam para o fim do período estudantil – é seu primeiro dia no ensino médio-.
Entre reflexões, e o peso habitual de ser um calouro, nerd, calado que ama literatura, musica e que deseja ser escritor, Charlie (Logan Lerman, de Percy Jackson e o ladrão de raios) conhece Patrick (Ezra Miller, de Precisamos Falar sobre Kevin) e sua meia irmã Sam (Emma Watson, da Franquia Harry Potter).
 Patrick é um Jovem louco, brincalhão, entre o limite do que se consideraria ser o garoto popular e o bobo da corte do colégio.
Sam por sua vez é a garota descolada, dona de uma beleza estonteante e viva que parece levar a vida no melhor estilo “garotas só querem se divertir e porque não?”.
Mas Charlie esconde segredos, medos, traumas do verão passado e de toda uma vida jovem, que se choca, justamente com o mesmo peso, o mesmo receio, medo e expectativas, os mesmos segredos de Sam e Patrick, unindo-os assim, numa amizade aparentemente incomum, mas intensa.

E é com esse enredo, e nesse contexto que somos apresentados a um filme denso, com um roteiro elaborado e uma linguagem eficaz.

 A premissa pode ser clichê e quase que “mais do mesmo” como tantos outros títulos anos adentro e afora, mas não se enganem. As Vantagens de ser invisível tal qual seu titulo, promove um Ode ao cinema. A tudo que ela pode oferecer nos seus melhores momentos. A narrativa é densa, mas com fluidez. É fácil se identificar com cada um dos personagens mesmo que não se tenha identificação pessoal ou direta com nenhuma de suas personalidades.
O que o filme constrói é um panorama de uma juventude que não esta perdida, mas que tenta se encontrar a cada segundo. São jovens adultos que carregam muitas vezes calados, ou camuflados, tantos questionamentos, julgamentos, experimentações e escolhas, inseguranças, injustiças e responsabilidades tais que muitas vezes passam despercebidos por todos, e por eles mesmos. São o que são. Somos nós. Cada um que já foi adolescente um dia.

Mas não são problemas adolescentes, no entanto. O que Stephen Chbosky faz, é decupar com maestria e cuidado cada uma das personalidades de seus personagens, sem ser exagerado ou soar artificial. Tudo flui com naturalidade. Nada é melodramático demais, mas nunca é leve demais também. O que vemos em tela é uma teia antropológica que cai fundo nos ideais internos de cada um, e promove discussões pessoais sobre a vida.

 O filme conta com uma fotografia inspiradora, com contrastes que vão desde os saturados com iluminação ambiente e desfocadas, as vezes estouradas; ate a uma coloração opaca, com pouca iluminação e tons escuros, que nos conduz a películas antigas e não, a fotografia tão digitalizada atual;

 A questão do tempo, mesmo que soe metaforicamente como algo extremamente importante apenas como forma de categorização e não exatamente como forma de condução, exerce um papel secundário aqui. Em nenhum momento o roteiro nos conta em que ano estamos. Há indícios de que estamos vendo o final dos anos 80, mas jamais isso nos é afirmado. Não há datas, não há localizações. Não há sobrenomes – com exceção de dois personagens; o professor de Inglês avançado o Sr. Anderson, e o Jogador do time de futebol americano do colégio, Brad Hays-, não há indicação de passagem de tempo. Apenas vamos de um natal a outro, ou de um verão a um inverno.
Isso porque, essas informações aqui não são importantes. O enredo desde o inicio, com a narração da carta da primeira carta de Charlie, nos faz entender que não importa o tempo em que se esta, ou quem quer que você seja. Ele nos remete a ideia de que aquela historia poderia ser a nossa, ou de qualquer um.
E isso é excelente. Aqui funciona.

Com uma trilha sonora fantasticamente nostálgica, que vai de The Beatles, a Sex pistols, The Sampls, Galaxy 500, New Order, Sonic Youth, ate The Smiths e ate David Bowie; "As vantagens de Ser Invisível" consegue nos fazer relembrar épocas talvez jamais vividas por nós, mas nem por isso deixa de promover nostalgia.

São Vinis, fitas cassetes, globos espelhados, fitas nos cabelos das garotas, e o auge do The Rocky Horror Picture Show – que ganha destaque durante a projeção com direito a uma semi-encenação fidelíssima ao clássico musical-.

 Mas não é só o roteiro, o enredo e a direção acertada que fazem desse filme uma experiência interessante.

 É preciso dar créditos merecidos às atuações, principalmente do trio central.
Emma, Ezra e Logan, constroem uma linha de atuação acertada em cada cena do longa. Seja a vivacidade de Emma e sua Sam, mas sempre com olhares acusadoramente pesados e aflitivos.
Seja Ezra, demonstrando uma versatilidade fenomenal com seu Patrick, entre o despojamento e a maturidade exacerbada
Seja Logan doando a seu Charlie trejeitos de nervosismo e acanhamento, sempre com olhares vagos e um andar tímido, ombros curvados e voz suave.

Dar qualquer informação a mais sobre o desenvolvimento do filme seria um erro. A imprevisibilidade é a palavra chave que o torna tão especial.

Um longa divertido, triste, denso, com uma composição narrativa crua e devastadora; repleto de sensibilidade dúbia, e poesia visual.
Seja pela montagem delicada ou a edição rápida com cortes secos propositais, seja pela filmagem despretensiosa, mas hábil, com travellings e panorâmicas convencionais mas eficazes e gostosas de se ver, ou seja por uma aula de carpintaria e um relógio de madeira completamente torto. Seja o detalhe que escolher, As Vantagens de Ser invisível é um deleite para todo aquele que sente falta de um filme amplo, sem precisar de mega produções, orçamentos trilhonarios, ou efeitos visuais hi tech.

Um filme atemporal que consegue emocionar e causar aflição ao mesmo tempo, que deixa saudades assim que os créditos finais sobem e que nos deixa a certeza de que realmente não importa de onde se vem o que importa e para onde se escolhe ir.
E se escolher ir assisti-lo tenha a certeza de que terá escolhido uma ótima experiência e uma grata surpresa.

 Um filme invisível, mas que brilha mesmo diante dos tuneis de escuridão.


 Informações relevantes: 

O filme é baseado no Best Seller de mesmo nome e de autoria do próprio Stephen Chbosky.
O Filme conta com a participação de Nina Dobrev, como irmã de Charlie. A Atriz é conhecida por seu papel como a Vampira Elena da serie The Vampire Diaries. 

Trailer:


 


 Ficha Técnica:

Diretor: Stephen Chbosky
Elenco: Emma Watson, Nina Dobrev, Logan Lerman, Paul Rudd, Ezra Miller, Mae Whitman, Melanie Lynskey, Kate Walsh, Dylan McDermott, Johnny Simmons, Nicholas Braun, Zane Holtz, Reece Thompson, Julia Garner,
Produção: Lianne Halfon, John Malkovich, Russell Smith
Roteiro: Stephen Chbosky
Fotografia: Andrew Dunn
Trilha Sonora: Michael Brook
Duração: 103 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos








5 comentários:

Esse filme é sem palavras, merecia o Oscar ^^

Excelente! Eu nunca imaginei que esse filme seria tão tocante.

É bem isso. Vamos com um sentido despretensioso e saímos do filme com uma experiencia tocante. Obrigado pelos comentários pessoal - Ronaldo, Marcos e Samurandre. ^^

Meu livro/filme favorito <3 O filme tem uma trilha sonora tão incrível que eu nunca imaginei lendo. Não vou muito com a cara do Logan, mas nesse filme o ator combinou com a história. O filme ficou muito bom, Stephen realmente é um bom autor/diretor rsrs

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