Pages

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Critica: Antes Que o Mundo Acabe


"- Por que eu tenho que encarar um pai que não sabe nada de mim?
- Porque ele existe!"



Baseado no livro de Marcelo Carneiro da Cunha de mesmo nome, "Antes que o Mundo Acabe" traz para tela um harmonioso filme sobre a adolescência  para a adolescência e que encanta todas as idades.

A estreia da Gaucha Ana Luiza Azevedo na direção de longas metragens, resultou num filme coeso, delimitado e extremamente eficaz na sua proposta.

Detentor dos prêmios  - Melhor Direção de Ficção, Figurino (Rosangela Cortinhas), Trilha Sonora (Leo Henkin), Direção de Arte (Fiapo Barth) e Fotografia (Jacob Solitrenick) do II Festival de Paulínia em 2009.

Daniel (Pedro Tergolina) tem 15 anos e vive numa pequena cidade, no interior do Rio Grande do Sul. Em sua existência restrita, vive seus pequenos dramas: uma namorada - Mim (Blanca Menti) - que não sabe se gosta dele ou de seu melhor amigo - Lucas (Eduardo Cardoso) que esta sendo acusado de ladrão e o pai - de quem recebeu o mesmo nome (Eduardo Moreira), fotografo que esta na Tailândia e que reaparece depois de 15 anos, mostrando para o menino, por meio de fotografias, que existe muito mais além das fronteiras de seu restrito mundo.

A sinopse é essa, mas o filme não se limita a apenas ela.
O roteiro assinado por Paulo Halm, nos leva pela vida de Daniel, através da narração de sua meia-irmã. Isso confere ao filme um tom ao mesmo tempo leve, sem pretensões mas também hipnotizante ao conseguir introduzir uma serie de ironias e referencias ao cinema, pela visão da garota que faz um paralelo interessante com as mensagens e desenvolvimentos da narrativa do enredo.
São signos diversos, como metáforas para a sensação de enclausuramento dos adolescentes nessa fase da vida, o desejo de querer se libertar da gaiola e enfrentar o mundo la fora, é o medo do desconhecido, a relação da fé, da crença que se torna mais instigante através de uma simples imagem de uma santa, é a relação de certo e errado, a moral, em pequenos furtos como roubar uma bala ou mesmo dinheiro de uma santinha para comprar dois passarinhos.
Ha uma serie de alusões que o filme recorre para ajudar a compor de forma contudo leve uma fase da vida conturbada que é a adolescência, o inicio dela.

O primeiro porre, a primeira decepção amorosa, a primeira vez, as escolhas de futuro, lidar com as conseguencias de atos. Tudo é mostrado de forma simples, natural, sem se aprofundar em crises de existencialismo ou dramas mais condensados. e é ai que reside a beleza e força do filme.

Ele não possui pretensões de mostrar a parte pesada da adolescência, mas visa dialogar com ela, mostrando o que ali, um abarrotado de situações, sentimentos, responsabilidades, dramas estampados de uma vez só, como hormônios descontrolados, como mudanças de humor repentinas.

nisso a edição colabora de maneira eficaz ao induzir objetividade a trama sem se prender muito tempo num problema só, porem sem se perder ou abandona-los. Tudo soa organicamente bem.

Alem das atuações corretas do trio principal, composto pelos atores Pedro Tergolina, Eduardo Cardoso, Blanca Menti; que demonstram uma harmonia gostosa em tela, e dos experientes Janaina Kremer e em especial o fantástico Mauro Grossi, que vive o padrasto de Daniel; o filme nos brinda de fato com o jovem talento de Caroline Guedes, que vive a meio-irmã de Daniel. A pequena e estreante, rouba as atenções em todas as cenas em que surge. E desempenha um papel importantíssimo na trama, uma vez que representa do o gancho de desenvolvimento entre os personagens secundários e as situações ali vividas.

A narração constante em off as vezes concede certa lentidão incomoda a condução do enredo, mas nada que o retire dos trilhos.

A sequencia de abertura também possui um pequeno erro de sincronia na edição de som, uma vez que por estarem dialogando em diversos espaços grandes, em planos abertos, a sonoplastia recorreu ao uso de dublagem nas cenas- quando é introduzido uma gravação de estúdio dos próprios atores com os mesmos diálogos  e introduzidos na pós produção -.

Mas o que mais chama a atenção no longa é o uso das imagens, em especial as montagens durante a projeção, todas de bom gosto e extremamente pertinentes com a narrativa em questão. A fotografia também é muito bonita, clara, nos espaços abertos repletos de saturação e um uso das cores- vermelho e verde - que transmitem ora a mudança de humor que vem pela frente de Daniel, ora para representar toda a vastidão de mundo que os espera.

A textualidade surge aqui também de maneira interessante quando o longa traça um paralelo entre as cartas e historias do pai, as descobertas que o garoto e nos espectadores vamos adquirindo dele e de todas as culturas pelas quais ele passou fotografando, e as historias vividas aqui pelo menino. elas surgem num paralelo de comparação a niveis de Tempo, muito mais do que do espaço que os separa. E é mais interessante ainda como assim, e através do simbolo das fotos e da arte de fotografar em questão, e em destaque com o tom de cotidiano e o objeto das bicicletas recorrentes durante toda a projeção, o filme adquiri um ar de nostalgia e anacronismo ao conseguir interagir com as passagens de tempo e de realidade, modernidade versus passado, cartas versus Email  brinquedos antigos, quebra cabeças versus jogos de computador, brincadeiras num lago versus baladas com musicas pop's, ruas de pedra, versus aulas avançadas de química. Tradição do interior versus correria e sonhos de cidade grande de olho no futuro.

Por fim Ana Luiza Azevedo, prova que aprendeu bem a arte da direção com seus mestres - a quem é visível as homenagens e referencias a Jorge Furtado que inclusive co-assina o roteiro do longa por exemplo-, e nos entrega um filme delicado, saboroso, instigante e que mostra um cinema nacional longe de barbaridades, violência  degradação ou sombras. Ela revela com humor e drama sincero, uma vastidão de cores, de sotaques, de culturas e costumes que muitas vezes se perdem em simples estampas e papeis de fotografias, mas que existem, e estão a nossa volta, prontas para serem eternizadas e vividas.

Um excelente filme.

Trailer




FICHA TÉCNICA

Diretor: Ana Luiza Azevedo
Elenco: Pedro Tergolina, Eduardo Cardoso, Blanca Menti, Janaina Kremer, Mauro Grossi.
Produção: Ana Luiza Azevedo
Roteiro: Paulo Halm
Fotografia: Jacob Solitrenick
Trilha Sonora: Leo Henkin
Duração: 102 min.
Ano: 2009
País: Brasil
Gênero: Drama
Classificação: 10 anos










0 comentários:

Postar um comentário