Poesia (Shi , nome original) filme do sul coreano Chang-Dong
Lee, remonta as melodramas antigos do cinema, e cria uma fabula densa,
extremamente bela e como seu titulo, poética e de extrema tristeza.
Logo no inicio da projeção, nos deparamos com uma cena de um
grande rio, com águas turvas, ligeiramente calmas. Aos poucos o cenário aparentemente tranquilo
revela um corpo sem vida boiando no rio e em seguida há um corte para uma
gramado a beira do rio com algumas crianças brincando.
Essa imagem já sintetiza o que o espectador deve se preparar
para ver. Apesar do nome Poesia sugerir algo delicado e lírico, o que vemos em
tela é uma sucessão de acontecimentos brutais, mas que surgem de maneira tão
esmerados que se tornam belas. É o dito ”há beleza na feiura”.
O filme se engrandece ao olhar do espectador ao ser
conduzido através dos olhos da Bondosa e elegante Mija, uma senhora no alto de
seus sessenta anos de idade, que cria sozinha seu neto. Neto este que não lhe
dá valor algum, é desleixado, fechado para com a avó, enquanto ela por sua vez
se dedica amorosamente a ele a todo o momento. Vemos a rotina de Mija, que
sempre se produz cuidadosamente. Mesmo que beire a pobreza, Mija sustenta sua
vaidade de maneira natural.
Aos poucos somos impelidos a conhecer seus problemas financeiros,
seu árduo trabalho para sua idade de cuidar de um senhor que sofreu um derrame,
ao qual ela recebe para lhe dar banho, alimentar e vestir. Mas toda e qualquer
dificuldade de Mija não transparece em seu rosto expressivo. Ela sempre
demonstra ter um sorriso no rosto e um sentido de observação latente. Ela se
interessa pelos mínimos barulhos e movimentos.
Nada mais é, do que uma mulher redescobrindo o mundo.
Redescoberta essa que ela resolve resgatar se inscrevendo
num curso de poesia. Onde visa aprender a escrever uma poesia.
O roteiro de Lee Chang-dong apesar de extremamente coeso e
bem desenvolvido em sua narrativa, nos conduzindo através dos detalhes pela
trama que vai se desenvolvendo naturalmente, comete apenas um equivoco, ao
introduzir o Alzheimer no enredo e esquece-lo ironicamente na maior parte do
tempo. Logo no inicio, Mija é diagnosticada com Alzheimer Isso já é evidente
através de alguns diálogos da personagem que continuamente esquece algumas
palavras no meio de uma conversa. Porem assim que ela recebe o diagnostico esse
detalhe do esquecimento nela, desaparece por completo, como se ela não tivesse
a doença. Ao qual só retorna no começo do terceiro ato, próximo ao clímax final.
Dizer qualquer coisa sobre a trama, além disso é estragar a experiência
de assistir Poesia.
Isso porque como na poesia, o filme vai se revelando e se formando de
maneira gradativa, repleto de surpresas, carregadas de beleza e melancolia.
O longa vai desmembrando a vida de Mija, numa
atuação sensacional da atriz veterana Yun Jeong Hee - que tem em seu invejável currículo nada menos do que mais de 200 filmes -, num Ode ao caos. Seja
pelas dividas que surgem, seja pelo segredo que o neto esconde, seja pela
doença descoberta, seja por uma proposta do senhor a quem cuida, seja pela
dificuldade que ela encontra em escrever uma poesia.
De forma quase metalinguística o filme vai entrando numa crescente de metáforas e simbolismos que culminam numa Obra peculiar que se engrandece aos olhos e sentidos.
O mundo ao seu redor se mostra gananciosa, ardiloso e cruel,
repleto de hipocrisia e injustiças, onde ainda assim, aos olhos de Mija, ela
tenta ver beleza e realmente enxerga-lo da maneira correta.
Com um final arrebatador, Poesia é de fato uma poesia fílmica em cada detalhe, desde sua trilha sonora delicada, ate sua fotografia com cores marcantes e planos contemplativos.
Como na cena extremamente bem conduzida de Mija agachada em prantos diante de um solo com pedras reflexivas que lembram a superfície de um rio.
Um deleite.
Trailer
FICHA TÉCNICA
Diretor: Chang-dong Lee
Elenco: Yun Jeong Hee , Jung-hee Yoon, Hira Kim, Da-wit Lee
Produção:
Lee Chang-dong
Roteiro:
Lee Chang-dong
Fotografia: Hyun Seok Kim
Duração: 139 min.
Ano: 2010
País: Coréia do Sul
4 comentários:
Gostei de como você colocou as palavras para definir o filme, é exatamente assim que eu penso: Pode até ser trágico, mas é lindo.
Gosto muito desse filme, mas acho que poderia ser melhor explorado. É muito bonito ver essa força de vontade da personagem principal, mesmo com todas as dificuldades ela seguiu vivendo essa poesia. Parabéns pela crítica, ótima!
Valeu Leandra! pelos comentários de sempre e pelo carinho *__*
parabens amigo conheci esse filme hoje e pesquisando achei sua excelente resenha muito bom
parabens amigo conheci esse filme hoje e pesquisando achei sua excelente resenha muito bom
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