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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Crítica: Paraísos Artificias




Érika (Nathalia Dill), talentosa DJ, conhece Nando (Luca Bianchi) por meio de sua melhor amiga Lara (Lívia de Bueno) em um festival de música eletrônica, no qual os três vivem intensos momentos. Mas o destino os separa. Anos depois, Nando e Érika se reencontram em Amsterdã e se apaixonam, mas somente Érika sabe o que aconteceu naquela noite que marcou a vida dos três para sempre. O reencontro do jovem casal irá transformar novamente suas vidas.

Filmes retratando o mundo das drogas não é novidade no cinema. Filmes ícones de uma geração como Transpotting ou mesmo Réquiem, são exemplos eficientes desse tema.
Paraísos Artificiais do diretor Marcos Prado; como seu próprio nome sugere, retrata um universo de imersão as drogas de maneira elucidativa.

Amparado por uma cuidadosa fotografia orquestrada brilhantemente por Lula Carvalho, repleta de tons claros e vibrantes, paleta de cores intensas que explodem literalmente na tela, o filme carrega em toda a sua projeção a alusão de que estamos diante de um verdadeiro paraíso, a beleza plastica é notável. É interessante ver por exemplo como a fotografia impregna tons secos e mais escuros, voltados pro azul e branco quando estamos em Amsterdã, e como ele volta para o multifacetada paleta de cores de Pernambuco, com mais brilho e iluminação forte, e como volta da mesma maneira para o interlúdio de passagem de tempo no Rio de Janeiro, já com cores mais brandas, carregadas em tons alaranjados. A noite assume a cor azul, dando mais vazão a sensação de entorpecimento. 
Luzes neon, sons viscerais e catárticos, tudo confere a produção um esmero sensacional de tecnicalidade.
Planos e enquadramentos eficientes compõe boa parte da projeção, e que aqui assumem o papel de transpor ao espectador as sensações de fascínio e confusão proeminentes do uso das drogas. - vide cena em que se mostra uma grande Rave a céu aberto. Extremamente eficiente à montagem paralela usada e os planos abertos, com cenas contendo uma velocidade quase nauseante.

Com uma montagem eficiente que auxilia na não linearidade de seu roteiro, o longa ainda conta com atuações primorosas, e concepções de cena lindíssimas, como quando nos leva ao ambiente urbano e frio de Amsterdã, ou as praias paradisíacas de Pernambuco.
Ainda consegue acertar numa edição coesa e impecável que confere naturalidade as cenas exibidas. Tudo em cena, flui organicamente.

Mas o problema esta justamente, novamente, no que seu titulo denuncia. Os personagens são artificiais demais. o filme jamais mergulha de fato no submundo proposto.
E isso não é demérito dos atores não, que muito pelo contrario exercem seus papeis com maestria. O problema esta na construção de personalidade dos personagens, lá no roteiro.
Apesar de o enredo ser interessante, a narrativa não conter muitas falhas, talvez pecar demais nas elipses de tempo, que são desnecessárias em certo ponto, o filme carrega uma ode de superficialidade nas escolhas e motivações internas de seus personagens centrais.

Não há a abertura do mínimo de envolvimento de apego com Nando. Chega a ser dispensavel a subtrama do irmão de nando e mesmo seu envolvimento com os traficantes. Mesmo Érika que é a mais coerente ali, não consegue transmitir força de temperamento e ideologias, mesmo emocionais que justifiquem seus atos, e seus dramas. Uma mãe que tenta ganhar a vida como DJ e vê as drogas como porta e machado de sua vida. É tudo muito vazio, muito raso. Tudo soa – por falta de expressão melhor – teatral demais. Não convence. É como se os personagens não merecessem o filme a que estão inseridos.
O primor dos filmes com tal tema é justamente demonstrar a densidade que o mundo das drogas possui. E veja que aqui nem falo de julgamentos morais não. O que alias é um ponto alto para Paraísos Artificiais. Que se limita a simplesmente apresentar e mostrar tal mundo, tais escolhas sem nunca julgar, ou pender a narrativa descriminando ou fazendo apologia ao uso.

Ainda assim o filme se sustenta por conter mais acertos do que falhas. E é interessantíssimo constatar a evolução imagética do cinema nacional com Paraísos Artificiais. Muitos taxam essa mudança – evolução – como uma forma pejorativa de perda de identidade visual nacional. Besteira em minha opinião. Cada filme necessita de uma abordagem e um tratamento estético próprio, independente do país e cultura de origem.

Dito isso, Paraísos Artificiais é um grande filme, tecnicamente infalível, coeso, interessante, ousado e gostoso de assistir.
Mas poderia ir alem. Muito alem.






FICHA TÉCNICA:

Diretor: Marcos Prado
Elenco: Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno, Bernardo Melo Barreto, César Cardadeiro, Divana Brandão, Cadu Fávero, Erom Cordeiro, Roney Villela, Emilio Orciollo Netto, Mathias Gottfried, Yan Cassali.
Produção: José Padilha, Marcos Prado
Roteiro: Cristiano Gualda, Pablo Padilla, Marcos Prado
Fotografia: Lula Carvalho
Trilha Sonora: Rodrigo Coelho, Gustavo M M
Duração: 96 min.
Ano: 2012
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos










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