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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Critica: Procurando Elly



Após passar anos na Alemanha, Ahmad (Shahab Hosseini) volta ao Irã e seus amigos organizam três dias de comemoração. Sem que o resto do grupo saiba, Sepideh (Golshifteh Farahani) convida para a festa a jovem Elly (Taraneh Alidoosti), professora de sua filha.  Elly é uma jovem tímida e esquiva. Ahmad, que acabou de se separar da esposa alemã e gostaria de começar uma nova vida com uma iraniana, vê em Elly a mulher perfeita. Os amigos ajudam a construção de um possível romance entre eles. A festa em questão consiste em passar esses três dias em uma casa alugada próximo a praia. Logo no primeiro dia, tudo ocorre perfeitamente bem, os amigos se divertem, fazem compram, arrumam a casa. As crianças começam a brincar próximo ao mar enquanto as mulheres terminam de arrumar e limpar a casa, e os homens descansam, num momento de descontração jogando vôlei.
O problema é que Elly precisa ir embora ao final da noite. Mas sua amiga Sepideh a enrola para não deixa-la ir.
Uma das mulheres pede que Elly supervisione as crianças nas brincadeiras.
No entanto, misteriosamente ela desaparece logo em seguida que uma das crianças quase se afoga no mar. Começa assim uma busca densa, e extremamente violenta  por respostas, para saber onde esta Elly.

Com essa premissa que dura quase trinta minutos em tela, Procurando Elly, do diretor e roteirista Asghar Farhadi se torna um filme intenso e denso, e extremamente sufocante.

Com um roteiro contendo algumas falhas de evolução narrativa, e informações que se perdem às explicações necessárias; mas que compensa em seu magnífico panorama das crenças sociais e ditos comportamentais dos iranianos, o filme constrói momentos que vão da descontração e leveza a uma mudança brusca de aflição e verdadeiro beco sem saída.

É muito interessante os momentos em que o grupo de amigos dividem suas tarefas rotineiras e se divertem. Não ha nenhum vestígio naquela cultura massificante entre mulheres e homens tão característica da cultura daquele país. E é aí talvez que resida a força do filme e ao mesmo tempo a falha (encontrada em sua cena final). Não há distinção clara entre os homens e mulheres ali, se não fossem os véus sobre as cabeças das moças, não lembraríamos que estamos diante de uma obra islâmica. Vide por exemplo, a cena de abertura onde estão todos no carro rumo a casa de praia, gritando e rindo com as cabeças para fora da janela, principalmente as mulheres. Chega a chocar, por não imaginarmos tal "liberdade" numa cultura predominantemente machista e intolerante.

Uma brincadeira de mimica, um jantar, uma dança boba. Tudo ajuda a construir a identidade e o caráter fílmico aqui. Mas é a cena lindíssima de Elly correndo de um lado para o outro na praia para tentar colocar uma pipa rosa no céu que vale o filme todo. A montagem e a trilha sonora na cena é plausível  ao mostrar toda a beleza daquela atriz distinta e ao mesmo tempo seus olhar de mistério e fascínio numa simples pipa.
O elenco infantil que não é destaque algum, merece credito apenas ao construir a base de influencia e circulo vicioso que aquele grupo adota durante o filme. Como a cena em que os pais de uma das crianças brigam, por se responsabilizarem pelo desaparecimento de Elly, e que a criança nota a briga, exibe um olhar triste e logo em seguida, provavelmente mente, para amenizar as discussões, colocando novas possibilidades a investigação. Uma vez que logo apos o incidente a menina não se lembrava de ter visto nada, e foi só ver os pais brigando que repentinamente consegue fornecer lembranças ate então inexistentes.

Muito disso é fruto das atuações brilhantes de seus atores, principalmente de Golshifteh Farahani  na pele de Sepideh, que demonstra a todo instante, ares de preocupação e de contenção de quem esconde informações. São notáveis as características físicas que ela adotou para a personagem, como as tosses constantes, com a impressão de que esta sufocada, passando mal os olhos ejetados conforme o peso das discussões e desentendimentos entre os amigos cresce.

Mas também da escolha dos planos nas cenas de mais ação. Como a cena do mar, em que eles procuram pela criança que esta se afogando. Com a câmera em mão, somos impelidos juntos a emergir na procura. Isso aumenta cada vez mais a tensão e o tom de urgência a tal ponto que mal conseguimos desviar a atenção da tela. Como se pudéssemos pressentir alguma tragédia surgir a qualquer instante.

O filme perde sua evolução natural, mais para o final, ao introduzirem valores de culpa e ações que poderiam muito bem ser simplificadas com uma montagem mais razoável  levando-se em conta que  filme todo se passa em apenas três dias.

Com um final previsível e de certo modo decepcionante devido a todo o cunho tenso que criou durante toda a narrativa, principalmente na escolha falha mas compreensível de um carro na cor vermelha atolado na areia próximo ao mar; o filme ainda assim consegue cumprir bem o seu papel e passar sua mensagem.

Procurando Elly prova que às vezes há varias verdades embutidas numa mesma mentira, e que muito mais do que buscar revelações no nosso dia a dia, o segredo de tudo esta mais no que não se é dito, do que no que é dito. Um Bom Filme.





FICHA TÉCNICA

Diretor: Asghar Farhadi
Elenco: Taraneh Alidoosti, Golshifteh Farahani, Mani Haghighi, Shahab Hosseini, Merila Zarei, Peyman Moadi, Rana Azadivar, Ahmad Mehranfar, Sabe Abar.
Produção: Mohammad Sadegh Azin
Roteiro: Asghar Farhadi
Duração: 119 min.
Ano: 2009
País: Irã
Gênero: Drama
Classificação: 14 anos









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