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sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Critica: Ted




Pegue South Park, Os Simpsons, Family Guy varias pitadas de humor negro, sarcasmo e ironia e bata no Liquidificador do Borat. Eis Ted. E não é uma comparação irônica e ruim não. Muito pelo o contrario. 

Antes de tudo é preciso entender que Ted não é nem de longe um filme de humor ‘coxinha’. Seu humor é peculiar, esta nas referencias literárias e de atualidade e inclusive na trilha sonora. O próprio Ted em si - o urso de pelúcia- já é uma metáfora, que aos olhos conservadores beira a algo satânico, tal qual a conclusão feita no filme assim que ele “nasce”.

Filme do diretor Seth MacFarlane e criador da animação televisiva Family Guy, Ted conta a historia do jovem garoto John Bennett (Mark Wahlberg), uma criança que sofre um tipo de bullyng social desde cedo, solitário com desvio de idade, e uma família aparentemente certinha. No natal, sua família preocupada com sua solidão visível, lhe presenteia com um belo ursinho de pelúcia, a quem John se apega rapidamente. Então John certa noite faz um pedido aos céus: que seu urso criasse vida e se tornasse seu melhor amigo. E seu pedido é atendido.
Os dois crescem juntos e, já adulto, John que esta numa relação amorosa de longa data com Lori Collins (Mila Kunis) deve escolher entre ficar com sua namorada – que não aprova o relacionamento de dependência dele e do urso - ou manter sua amizade com o urso Ted (Seth MacFarlane).

Filme delicioso.

Ted possui um roteiro extremamente bem escrito, com uma decupagem fabulosa e que peca apenas ao carregar algumas características próprias da televisão que nem sempre funcionam no cinema. A narrativa assume um papel extremamente importante ao elucidar tantas referencias cinematográficas, políticas, sociais, do esporte e do cenário de atualidades pop global. Mas com foco americano claro.
Diálogos eficientes, ágeis e inteligentes somam-se a um humor acido, irônico e imensamente sarcástico e com fio condutor sempre na critica escrachada, escondida ou camuflada por humor que a primeira vista e fora de contexto pode soar, como humor barato ou apelativo, mas que na realidade é um ode de veia critica.

E eles atiram para todos os lados; a igreja católica - o seu lado conservador e intolerante; a igreja evangélica e seus estereótipos, a política e a mídia globalizada (referencias a cantores pop’s, e atores da mídia) são frequentes entre um dialogo e outro. Entre uma piada e outra ou ato cômico. Há sarcasmos e ai uma critica ate saudável se olhar o contexto inteiro, sobre miscigenação e preconceito de raças- étnicas e contra a xenofobia - orientais, muçulmanos etc.
É um deleite. É um riso que ate surge incomodo no começo, mas que dura do inicio ao fim.

Com uma construção narrativa e de personagens, principalmente a da figura do Ted, o filme explora toda uma carga dramática de medo a realidade, de busca por forças para enfrentar o mundo, a vida adulta, cria um quadro de controle para se assumir responsabilidades e de fato ser livre pelas escolhas que faz. Tudo tendo como pano de fundo, um relacionamento sincero mas que beira entre o limite do amor e da amizade constante.

 Não é o melhor papel do Mark Wahlberg, mas ele permanece correto na figura a que se propõe, de um adulto que se recusa a crescer. E pir; que quando tenta, não sabe como fazer isso. O mesmo podemos dizer da Milla Kunnis. Não que as atuações sejam ruins, mas não ha quimica entre o casal, e sempre que eles são deixados sozinhos em cena sem o Ted, o filme assume uma chatisse sem igual. Ted é a vida do longa.

O filme ainda conta com uma trilha sonora que para qualquer cinéfilo, parece um deleite. Há desde Guerra nas Estrelas, ate apertem os cintos que o piloto sumiu. Vamos de Nirvana a Pink Floyd, e destes a Norah Jones, belíssima como sempre, que atua também no filme, mais para o final da projeção.
A produção do filme assume uma técnica excelente de manipulação e movimentos que conferem ao boneco, que tem a voz do próprio diretor Seth, um tom de realidade absurda, desde os passos ate as expressões faciais, o olhar.

Com planos que nos ajudam a compreender a relação que personagem tem de si mesmo e entre eles, surge uma cena curiosa em que é utilizado o contra-plongée pela primeira vez de forma metafórica.
A cena em questão se dá numa discussão briga entre Ted e John na rua. Ate então sempre vemos os dois num mesmo nivelamento coerente de enquadramento em tela. O que representa a relação entre os dois que sempre foi de igual para igual. Ted nunca se viu como um urso de pelúcia tendo como dono o John, mas sim um amigo, o único amigo real dele.
Porem, após a briga vemos John se afastar pela Rua deserta, tendo de principio a visão de Ted, em um contra-plongée evidente que mostra pela primeira vez a diferença de altura entre os dois e coloca Ted como o que é pela primeira vez também de forma tão clara: um urso, um brinquedo. Ted se sente pequeno, derrotado diante da situação ali gerada, e essa escolha de plano ajuda a entender isso.

Com uma fotografia apenas correta, o filme ainda traz um deleite de humor ao trazer um antigo herói de John e Ted na infância para uma festa regada a ‘pegação’, bebidas, drogas e karaokês – há espaço ate para um embate aos moldes velho oeste com um pato-.

Talvez a melhor cena e que faz um referencia clara aos filmes clássicos de perseguição de carros, seja aquela em que rola um sequestro intenso.

Contudo, ao final da projeção percebemos que ele, mesmo beirando ao magnifico, poderia se sair melhor ainda, se Seth MacFarlane não sucumbisse as normas 'do limite do certinho' de Hollywood. Acredite, o potencial da narrativa poderia ser muito mais explicita - sincera - do que realmente acabou sendo. Uma pena. Mas é um detalhe que não tira o mérito do longa.

Tudo isso, faz com que Ted seja uma surpreendente surpresa e corajosa. Ted não só é um humor cabeça, politicamente incorreto, mas é também um drama repleto de lições morais encubadas que aos olhos mais atentos gera uma excelente reflexão aos dias atuais.

A pergunta que fica é: quantos dos espectadores desse filme serão como os Ted’s das prateleiras, e quantos serão Ted’s dos milagres de natal? 






FICHA TÉCNICA

Diretor: Seth MacFarlane
Elenco: Mila Kunis, Mark Wahlberg, Giovanni Ribisi, Jessica Stroup, Patrick Warburton, Seth MacFarlane, Joel McHale, Laura Vandervoort, Melissa Ordway, Aedin Mincks, Ralph Garman, Ginger Gonzaga, Alexandra East
Produção: Jason Clark, John Jacobs, Seth MacFarlane, Scott Stuber, Wellesley Wild
Roteiro: Seth MacFarlane, Alec Sulkin, Wellesley Wild
Fotografia: Michael Barrett
Trilha Sonora: Walter Murphy
Duração: 106 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Comédia
Classificação: 16 anos










2 comentários:

Serio mesmo que você gostou? =/

Muito Ronaldo! achei ele subestimado demais. Achei um humor peculiar dentre o mais do mesmo dos últimos lançamentos de humor do tipo.

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