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quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Crítica: A Separação



A Separação, filme ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2012, Ganhador do César (espécie de Oscar Francês) de Melhor Filme Estrangeiro do mesmo ano, alem de Vencer na mesma categoria o Globo de Ouro e Urso de Ouro e Prata no Festival de Berlim, do diretor Asghar Farhadi, é uma densa historia de demonstração de valores morais e éticos.

O Roteiro de Farhadim cria um arco dramático repleto de densidade em seus diálogos sempre críticos e seu enredo problemático. É impressionante a construção de narrativa criada por ele, que culmina num roteiro sempre em progressão, coerente, coeso, extramente bem amarrado e decupado.

Irã. O casal Nader e Simin atravessam um denso conflito no casamento. Simin deseja sair do país atras de melhores oportunidades de bem estar de vida, mas Nader não concorda em viajar e deixar o pai com Alzheimer sozinho. Decidida a deixar o pais Simin pede o divorcio para poder viajar com a filha. Nader  a custo aceita, mas não concorda em abrir mão a guarda da filha. Isso gera uma disputa pela guarda da adolescente. 
Simin sai de casa e vai temporariamente morar com a mãe, deixando o marido sozinho com a filha - que decide permanecer em casa enquanto a justiça não se decide-  e o pai doente.
Nader, então, contrata a religiosa Razieh para cuidar de seu pai durante as tardes, enquanto trabalha e a filha está na escola. Razieh, uma mulher devotada religiosamente e com uma filha pequena, logo de cara acha errado, ela uma mulher casada,  trabalhar para um outro homem casado sem a presença da esposa. Com o marido desempregado e afundado em dívidas, ela contudo aceita o emprego, mas esconde a verdade do marido. 
Um acontecimento lamentável, no entanto, gera uma outra briga judicial, mas desta vez envolvendo Nader, Razieh e seu marido.

Logo de inicio o filme inicia-se num plano fixo, centralizado, mostrando marido e mulher diante de um juiz- raramente mostrado em tela- acertando os tramites para a separação. É preciso dizer que no Irã, uma mulher casada não pode viajar sem o marido.
Tudo isso nos é mostrado através de diálogos rápidos e que soam muito naturais, percebemos que há conflitos não só de interesses entre o casal.

O filme nos mostra todos os lados de um mesmo fato, sempre de forma linear. O julgamento do que realmente aconteceu e do certo e errado fica por conta do espectador. Em nenhum momento o filme nos induz a ficar do lado de um personagem ou outro. Sem se perder em frieza, alias muito pelo contrario, ele nos faz de Juízes diante daquela trama.
Isso já nos é mostrado desde o inicio naquele plano inicial em que eficientemente somos postos no lugar do juiz. Vemos toda aquela cena do ponto de vista dele.

Contando com uma bela fotografia urbana e uma direção de arte eficaz, o filme ainda nos leva a questionamentos acerca dos costumes daquele país, e propõe outra visão. Ali no filme é justamente a figura de Nader, o homem da casa, que se apresenta mais centrada, justa. É ele que assume a maior parte das responsabilidades de cuidado ao pai, é ele que parece ‘aparentemente’ mais devotado a filha, é ele que ensina e encoraja a filha valores de liberdade e individualismo. Ensinamentos que encorajam a filha a pensar por si mesma e fazer suas próprias escolhas.

Num país que quando consegue introduzir uma obra no ocidente, vem carregada de questionamentos políticos, A Separação se mostra eficaz ao deixar essas questões apenas como pano de fundo, soando assim mais orgânico e natural. Muitas vezes esquecemos durante a projeção de que estamos diante de um filme Iraniano e de uma ficção, de tão verossímil e instigante que a projeção assume. é interessante como o filme consegue nos distanciar do esteriótipo ocidental criado, de que povos islâmicos vivem dramas apenas políticos e religiosos. O filme nos mostra que eles assim como nós também possuem seus próprios dramas familiares, afetivos e sociais. Somos mais parecidos do que imaginamos.

Em dado momento, é criado um intenso e gravíssimo conflito entre a empregada e Nader, que perde a cabeça e empurra-a para fora de sua casa.
Esse empurrão não só serve como fio condutor pelo resto da projeção colocando seus personagens e suas vidas em um panorama de extrema densidade e tensão; como empurra ou no caso puxa o espectador para a projeção como nunca antes. Se antes assumíamos o papel de observador apenas, a partir desse ato nossa emersão é plana. O diretor nos leva num embate quase físico, emocional e sentimental nos dramas ali em tela. É angustiante e paralisante.

Amparados por um excelente grupo de atores e um magnífico trabalho de construção de personagens, A Separação chega a seu clímax, numa cena elucidativa belíssima, num corredor de justiça milimetricamente dividido. Beira a genialidade.
Alias devo destacar o brilhante e catártico trabalho de Peyman Moaadi e seu Nader, que assume totalmente o papel proposto, dando uma naturalidade e visceralidade tocante ao personagem.

O que posso dizer é que A Separação é um filme corajoso dado o país de origem, inteligente, denso, que consegue ser criticamente político sem trair a religiosidade e nem fazer apologia a mesma que o Irã tanto preza. Causa uma identificação e fisga o espectador, mas se distancia de impor sua visão ao espectador deixando a ele, a nós decidirmos sobre aquelas vidas e assim refletirmos sobre as nossas também. E esse é o maior triunfo de A Separação.

Um filme excelente que vale muito ser conferido!




FICHA TÉCNICA

Diretor: Asghar Farhadi
Elenco: Leila Hatami, Peyman Moadi, Shahab Hosseini, Sareh Bayat, Sarina Farhadi, Babak Karimi, Ali-Asghar Shahbazi, Shirin Yazdanbakhsh, Kimia Hosseini, Merila Zarei, Hayedeh Safiyari
Produção: Asghar Farhadi
Roteiro: Asghar Farhadi
Fotografia: Mahmoud Kalari
Duração: 123 min.
Ano: 2011
País: Irã
Gênero: Drama
Classificação: 12 anos








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